domingo, 6 de dezembro de 2015

Peut-être


"Plutôt mourir debout que de vivre à genoux"



Nossa vida é feita de pequenos amores eternos. É feita de gente que compartilhamos um pouco da nossa história a cada relacionamento. É feita de gente que deixa ferida e vai embora, mas também é feita de gente que ferimos. 

Quem dera se eu pensasse que sou feita só daquilo que aprendo, ou só das coisas que sinto. Mas é pura verdade que agora, até mesmo você que está lendo isso, tem um pouco de pedaço em mim. O meu coração está sempre de portas abertas e banquete pronto para os novos convidados, mas não sei controlar se sua recepção vai ser boa ou hostil. Sinto muito.
Acho que chegou a hora de pedir desculpas publicamente a todos aqueles que amei, ou ainda amo. Segurei o que pude para não deixar mais coisas registradas sobre vocês aqui, mas eu tenho esse tipo de alma que não se pode controlar. Uma hora desabada em si mesma, outra hora levanta e começa a voar. Alias, péssima metáfora, mas espero que tenham me entendido.
Não me levem a mal, eu nunca soube de verdade se tudo o que fiz tem adicionado alguma coisa de bom na vida de vocês. Eu estava dando o meu melhor, acreditem. Sei que as coisas pareciam complicadas... É que eu não sou um sujeito simples. Sou o sujeito composto, porém solitário.
O motivo das minhas desculpas é que meu tempo está acabando, e sei que vou focar em outros planos nos próximos 4 anos de vida. Eu quis escrever a tempo de não me esquecer, a tempo de não deixar outra coisa tomar conta de mim e sentir raiva de todos vocês como a se a culpa não fosse toda e exclusivamente minha. 
Gostaria de ter um tempo com todos pessoalmente e pedir desculpas olho a olho, mas muitos, já morreram. Outros, nem se quer lembram meu nome.  Mas eu suportei os ver casando, namorando, tendo filhos, viajando para outro país, beijando e transando com outras pessoas na minha frente. Aguentei até mesmo culpas que não eram minhas, gritos desnecessários, choros durante a madrugada. Ainda assim, eu não acho justo, o que eu fiz com vocês foi muito pior do que podem passar daqui para frente. Não sou um ser humano digno de ser amado e agradeço muito por terem feito esse forço por mim.
Agradeço por terem me dado um pedaço de espaço que eu não merecia em vocês, eu nunca vou esquecer disso.
Meus pedaços estão divididos, e quero que tudo o que eu tenho fique com vocês. Eu não sei me diferenciar nesse momento, acho que entreguei de pouco em pouco que agora não restou mais nada. Sinto muito, outra vez. E espero que algum dia vocês sejam um pouco de mim para me entender - ou não...

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Pés

"Eu não sirvo pra escrever, apenas pra desenhar e olhe lá...!"






Eu fui tentar pular as cercas que me limitavam, dei um passo maior que a perna, num desespero. Eu precisava fazer alguma coisa além de ficar aqui parada chorando e surtando e fazendo meu nariz travar a toa. Já tinha diminuído a frequência de viagens, mas passava mais tempo por perto... Chegava até ser engraçado. Irreal.
Acontece que a vida não melhora numa semana, e apesar de teimosa, eu sou daquelas que demora meses pra superar alguma coisa. Eu tento, é sério. E eu tentei outra vez, pela quase terceira, me livrar daquelas amarras que me prendiam. Queria aquela sensação de liberdade e posse outra vez. Posse de si mesma, e parte do brinquedo de gente querida demais. Gente que já tomou espaço no coração e agora tá se expandindo pros outros membros. Pés, cabeça, pernas... E sabe-se lá mais onde.
Deitei determinada, ainda que soubesse o final dessa história. Infelizmente, eu estava certa e surtei de novo. É claro que as coisas melhoraram depois que eu me lembrei de você naquela noite, me abraçando forte e dizendo que as coisas iam ficar bem. Você, também, que me dava tantos presentes e fazia o que podia dentro do limite que eu te dava pra demostrar seu carinho. Imenso. Era mais segurança, sabe? Mais incentivo pra ser feliz. E legal mesmo é quando a segurança tem nome, casa, jeito, endereço... 
Respirei um pouco mais fundo, pela boca mesmo. Usei de todas as estrategias que eu conseguia pensar pra fazer minha cabeça voltar. Vomitei de novo. O que eu queria mesmo era vomitar todas as travas pra fora de mim e acabar de uma vez com essa ambiguidade aqui dentro. 
Eu fechava os meus olhos e lembrava do teto, da manhã que eu acordei, do almoço, do cheiro, da louça, da companhia. De todos os outros dias. Acho que isso me deixou um pouco mais calma, me fez surtar um pouco menos, então obrigada. 
Tive até coragem de voltar pra cama, porque até ela tinha uma nova vida. Trocou os lençóis, o travesseiro tinha outro cheiro, a pelúcia, outro significado. Passei um bom tempo olhando para os meus pés e pensando que poderiam ser seis, ou oito até! Mais pés pra eu poder caminhar mais rápido e dar passos mais largos do que eu conseguia com os meus. 
Eram seis, talvez, não do jeito que eu queria naquela hora, mas do jeito que podia ser. Dois pés e quatro patas. As patas eram da Gugu. 

sábado, 19 de setembro de 2015

Monogamia

Essa parte aqui do peito doía mais, e eu não sei se era por conta da insuficiência cardíaca, mas tava cada vez mais difícil. O peito doía demais, o corpo todo doía também, mas nada se comparava aquela dor especifica. Aquela que dói mais quando respira, que mexe e dói, como uma fratura exposta de todas as vezes que meu coração tinha partido ao meio. 
Juntei suas coisas numa caixa pra te deixar no portão de casa. De qualquer forma, não conseguiria olhar pra sua cara novamente e não me lembrar de você, por cima, e nossos corpos suados. O calor daquela imensidão de um prazer ilusório. Você não passou em casa pra pegar seus restos, nem saiu de cima de mim... e tudo veio de volta para os espaços da minha comoda. Eu tinha ameaçado tantas vezes ir embora que já nem tinha mais credito. Era uma divida imensa comigo mesma que eu não sei se iria conseguir pagar tão breve, mas fiz lá mais algumas parcelas pra empurrar essa história com a barriga. Infelizmente, a conta chegou em casa com um juros meio alto, e eu tentei pagar o minimo que me exigia. 
Caramba, como era muito. As contas se amontoavam na gaveta, tanto quanto as suas coisas iam se proliferando pelo meu armário. Que mofo do inferno! Eu tinha deixado as janelas abertas pra tomar um pouco de sol e ar, já tinha jogado fora as roupas mais emboloradas - aquelas que não tinham jeito. Mais rápido que as contas atrasadas, nossas bactérias se proliferavam. Nossas roupas tinham o mesmo cheiro, nosso rosto o mesmo encaixe, nossa boca um sabor só. 
Fizemos despedidas rasgadas e rasgamos também as nossas contas. Um amigo me deu um armário novo, uma porção de novas coisas pra se desenhar, e eu me sentia com nada pra fazer. Até que no meio de toda aquela bagunça, eu achei aquela conta atrasada que esquecemos de pagar.
O juros foi alto, foi difícil, mas ela não existe mais.




Bruna Ferrari

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Aquele Tsuru que Se Tornou Mil

Naquela semana eu já tinha perdido vários amigos. Por vezes, ignorado alguns. A minha paciência era zero e a preguiça social então, quase um numero negativo. Eu tinha esbarrado de ombro com alguns que fizeram história. Alguns rostos que agora eram só rostos, e isso, acreditem, não é uma coisa ruim. De certa forma até parece que me olham de canto do olho porque ainda se incomodam com minha presença por perto. Já eu, olho no olho porque não me incomodam mais.
Sempre mantenho olhares esquivos de coisas mal resolvidas. Sabe aquela famosa frase "se os olhos não veem, o coração não sente"? Então, funciona mais ou menos assim. Estive fora por meses e voltar naquele lugar me dava calafrios. Eu fiquei muito contente de perceber que na corrida de obstáculos dessa vida, já estava alguns quilômetros a frente e pulado varias barreiras. Acho que agora os meus livros parecem mais interessantes. Mal consigo dar a segunda chance que é de direito das pessoas, principalmente as que já começam com aquele discurso: "não é que eu esteja errado, é só a minha opinião...". 
O que teria mais de interessante no convívio social não-seletivo? Pois é, alguns estresses, outros quase-amigos. Eu sou bem dramática no geral, tudo isso é levado a mil e eu fico uma pilha de nervosos. Tenho medo de quebrar lixeiras por ai, ou acabar quebrando a cara de alguém pra relaxar. 
Exatamente neste momento que eu reparo nos olhos esquivos, e o esforço pra ignorar o que incomoda (que já não é mais meu, claro), volto naquele episodio dos meus dedos verdes por conta do papel. Naquela semana que eu fiz um tsuru e você, teoricamente, deveria ter aprendido. A parte mais legal é que o meu pedido se realizou. Aquele tsuru se tornou mil, apesar do numero de amigos despencado tristicamente.
Guardei tudo numa garrafa com um laço azul, a sua cor preferida. E essa garrafa deveria ficar exposta no meu quarto pro resto da minha vida. Eu me lembraria do motivo do primeiro tsuru, até o ultimo. Daquele dia em que você me salvou pela segunda vez. E das vezes que eu vou estar aqui pra quando você precisar também. 



Bruna Ferrari

domingo, 2 de agosto de 2015

Dentro de Casa

"Sem você, eu sumo
Eu morro de fome
Eu perco meu rumo
Eu fico menor"


Eu era toda sentimentos. Apesar daquele tempo todo que você já tinha deixado nossa casa, as suas coisas continuavam no lugar. Não procurei mexe-las, nem revirar a minha vida, nem encontrar algo novo. Nosso pedaço de relacionamento tinha sido conservado em bom formol pela mobilha do meu quarto. Alias, do nosso quarto - que em pouco tempo virou a casa toda e parte do meu armário. 
Algumas manhas eu acordava olhando o céu, os olhos inchados, a manga do pijama molhada. Algumas tardes eu passava em frente da TV, de baixo das cobertas com meus cachorros, comendo batata-frita. Algumas noites eu simplesmente não dormia, engolia meia duzias de remédio e repetia todo o ciclo. No dia em que você foi embora eu dei inicio a uma porção de coisas: aulas de Yoga pela internet, desenho, passeios aos sábados a noite, pornografia exagerada, contar meus dedos do pés. 
Não importa o quando eu me esforçasse, não dá pra correr contra a mare. Se foi difícil o dia em você saiu de casa, o dia em que você voltava pra me deixar de novo era mais ainda. Troque as fechaduras, você fez questão de esquecer as chaves em cima da escrivaninha. Mas a campainha tocava, e era você outra vez. Num gesto brusco eu abria a porta, depois logo fechava na sua cara pra abrir de novo e pular no seu colo.
Desnecessariamente, aquela era nossa casa, e nossa história estava gravada nas mobílias, nos cantos das paredes, no pano de chão. Por todo o lado tinha a gente, até mesmo nos meus cachorros. A partir daquele acontecimento, eu finalmente entendi os casais que gritavam um com o outro, mas sempre andavam juntos. É difícil escrever uma outra história em cima de uma folha rabiscada, reaproveitar uma folha já rascunhada com nanquim. Existia muito o que jogar fora dentro de nós. Se agora, eu era toda sentimentos, quando você estivesse por perto era mais. Mais que isso. Era uma casa toda. Uma história. Um pedaço da gente.

Bruna Ferrari

domingo, 19 de julho de 2015

Quatro Anos e Meio é muito Tempo

"You better run, you better run, girl"


As vezes eu queria fosse tudo diferente. Descobri da pior forma que viver é uma tarefa um tanto difícil, e caramba, agora eu fico me perguntando como foi que minha tataravó chegou nos cem anos. Não é atoa que meu vô sempre falava sobre ela beber muito. Afinal, acho que é melhor trocar um fígado por uns sorrisos e saideras, até vomito tá valendo.
Nas ultimas semanas eu dei espaço pra muitas coisas entrarem em minha vida. Enchi meu tempo livre com o máximo de novas experiencias que pudesse ter, e bem, vamos dizer que isso foi engrandecedor de alguma forma e de outra, nem tanto. Parece que quando eu consigo me desatolar daquela areia movediça que se chama religião, eu logo me atolo em outra. Nem dá mais pra culpar Cristo. Que saco, não?
Acho uma tristeza ainda pensar nesse vazio que não consigo preencher. Algo que eu ame tanto e que me queira de volta também. Tentei desenvolver os meus outros aspectos artísticos, tem funcionado, mas essa não é a minha pequena felicidade rotineira. Nao consigo por pra fora as coisas inaladas dentro de mim. Isso tem me matado bastante, principalmente porque estamos na metade do ano e estar na metade do ano significa, para mim, ter mais seis meses pra completar vinte anos. 
Vinte anos, e eu pareço que não sei de nada. Vinte anos, e quatro anos e meio a mais pra morrer. Em quatro anos e meio da pra morar junto, ter três gatos e ainda dividir o aluguel. Em quatro anos e meio da pra trocar o emprego mais de três vezes e (quase) se formar. É muito tempo que eu não sei o que fazer, tenho preguiça demais, acho que essa coisa de ser interessante, inteligente e parar de atrapalhar a vida alheia, parar de fazer draminha, não deve ser pra mim. Em quatro anos e meio eu poderia parar até de tentar ser assim, me tocar que não vai rolar, e excluir esse blog (que já tem mais que quatro anos e meio). Em quatro anos e meio já dá pra pensar em ter filhos e almoçar aos domingos com a família.
Quatro anos e meio é muito tempo.



Bruna Ferrari

sábado, 11 de julho de 2015

Reaça #2

"As vezes eu me sinto mal quando leio os seus textos, 
porque parece que eu sou uma pessoa ruim e te faço muito mal"

trilha sonora oficial: https://www.youtube.com/watch?v=pkae0-TgrRU

Constatei nesses últimos dias que eu adoro comparações e odeio igualações. E isso me fez pensar muito sobre as coisas que sou e que fui. Penso que tanta coisa aconteceu no meio do caminho que eu tive perdas e ganhos. Também penso que eu estava correndo atras da felicidade diária como qualquer outro. Eu não sei bem o que é isso, por isso eu paro pra analisar as pessoas e o que elas precisam. Não acho que é necessário dizer que você é quem eu mais observo e não só por estar mais próxima e presente, mas também por ser absurdamente linda e atraente - por dentro e por fora.
Sinto que sua felicidade cotidiana é pequenininha, não em tamanho, mas em detalhes. Um doce, um beijo, um abraço, uma surpresa, ou uma oportunidade, algo que saia dentro do planejado. Não te vi sorrir tantas vezes quanto desejava, também não te vi eufórica toda a vez que te encontrava. Acho que te vi mais exausta do que qualquer outra coisa. Perguntei muito a mesma mim o porquê daquilo.
Percebi pensando neste tempo - desde que te conheci, até agora - que você tem uma ideia bem mais clara do que eu e é uma dica bem útil: você consegue distinguir o que acontece na sua cabeça, e o que acontece no mundo lá fora. E não acredito que isso seja ser realista, necessariamente, porque sua natureza em si é sonhadora. Você é cheia de desejos, muitas vezes impossíveis. Acho que isso é ter clareza do que é necessário na vida, do que dá pra viver sem dizer, sem mostrar, sem fazer, e do que não dá, é extremo de necessário. Esta foi a sua maior contribuição para o ser humano que sou hoje. Sempre que me pego naquele pensamento de que minha vida está uma merda, mesmo sabendo que no fundo, ela só está uma merda na minha cabeça, porque eu faço os meus problemas parecem maiores do que são e valorizo demais meu sofrimento. Você me faz perceber isso num piscar de olhos.
Tenho raiva muita vezes. Tenho aquela vontade colossal de te agarrar pela gola da camiseta e te  empurrar na parede gritando: "mas o que é que você fez comigo, mina?" (usando as gírias de um jeito usualmente seu de falar). Você não fez nada. Só deu um cheque-mate na minha insegurança habitual, você só me fez parar pra pensar que eu estava vivendo nas selas que mesma me coloquei, enquanto eu só me preocupava em não deixar me selarem. Sabe... Você não fez nada além de me fazer sentir a vontade para assumir as coisas que eu sou (e não sou) e que eu gosto (e que não gosto).
Eu gosto de mangás desde que sou criança, eu também curto super-heróis e violões clichês porque nunca vou conseguir ser como eles. Meu armário é composto 90% de roupas vermelhas e pretas, eu não gosto de usar sapatos de salto alto. Eu adoro blusões e jaquetas, gravatas e camisas. Eu não tenho paciência para quem fala demais - mesmo que eu fale para caramba. Eu tenho preguiça de me socializar, as vezes. Eu crio problemas e dramas que não existem. Eu dificulto a minha caminhada nos relacionamentos, porque eu sou insegura socialmente. Eu tenho medo de assumir que simplesmente não me importo com algumas pessoas, porque tenho pena de deixa-las. Eu sou apegada e teimosa, crio caso por algo que pode ser conversado. Eu sou paciente, e compreensiva. Eu digo muito não para mim mesma muito sim para os outros. Eu sou distraída e observadora, ao mesmo tempo. Uma das coisas que me faz bem é desenhar. Sou boa com as mãos e um clichê em pessoa. Ou talvez, só sou uma completa confusão adolescente.
E eu poderia continuar uma lista inteira de coisas que agora eu tenho coragem de dizer que fazem parte de mim, porque você me fez ficar confortável com isso. Alguns desses itens são pequenas felicidades para mim, você me mostrou isso. Os seus anos de caminhada a mais também serviram para me dar um tapa na cara quando foi necessário. E neste tempo que se passou, eu continuei pensando nas formas que eu poderia te agradecer (e te dar aquele "presente" a altura que eu tanto procuro), não só por todas essas pequenas felicidades que você me apresentou, ,mas por estar presente em momentos importantes da minha vida, como meu primeiro passeio num bi-articulado. Foi incrível, é sério. 
Espero que neste dia, todas as pequenas felicidades da sua vida se multipliquem pelo triplo do numero de estrelas no universo. E que este ano a mais que você está ganhando pro seu diário de jornada na terra também sirva para te fazer descobrir outras felicidades, para te apresentar outras oportunidades e muita gente nova. Espero que você continue distribuindo abraços apertados e muita bronca com grito por isso, e que mais ainda, você também seja muito amada. Desejo que seus zilhões de pensamentos por segundo a todo o momento e sua escrita ligeira se transformem em bons textos pra aconchegar o Facebook e o coração alheio. Parabéns por mais esta primavera.


Bruna Ferrari

domingo, 5 de julho de 2015

Direções

Meus dedos congelam, mas preciso colocar no papel antes que me fuja da cabeça esta ideia nenhuma.
Há certo tempo que nada sai do meu corpo, eu me sinto tão fria quanto a chuva que cai lá fora, e despenco em queda livre numa velocidade ainda maior. Meu joelho continua doendo, acredito que por frio, depois daquele vez que eu esbarrei em umas duas ou três pessoas, ele nunca mais foi o mesmo. Acho que foi um convite pra voltar a primeira vez.
É uma coisa bizarra essa problemática de viver, parece que todas as pessoas que estão por perto não gostam do que vivem. Elas querem mudar e não sabem como. Uma pena que tenham encontrado alguém como eu e pedir alguma direção. Sou péssima com mapas e com sentimentos. Tão ruim que me sinto até culpada.
Eu pensava que a vida era simples, que todas as nossas relações se resumiam em amor e sexo, e quando poderia ser os dois, ou nenhum dos dois se chamava de amizade. Eu estava enganada. Tenho lido bastante sobre as relações humanas, tenho observado bastante as pessoas e pensado muito sobre as coisas que escuto e leio. Quanto mais eu aprendo sobre a vida, mais descontente eu fico. Até me pego lendo Fernando Pessoa e ficando ainda mais depressiva.
Sinceramente, eu não sei porquê as pessoas tem dessa de importar tanto com nomes e classificações. Ninguém se importa afinal. Ninguém se importa com o que você comeu no dia anterior pra se classificar uma pessoa saudável. Acho que as pessoas não tem tem interesse. Elas só se esforçam pra tirar uma lasca de cada um em alguma conversa, e poder adicionar uma vivencia a sua só pra não machucar. Isso explica aquela hora que seu amigo te diz "cara, eu te entendo", por mais que você tenha absoluta certeza de que sua situação é unica.
E se soubéssemos o quanto doí viver, ninguém ia querer nascer. Nos empurraríamos pra dentro do útero da mamãe com uma força monumental. A parte boa é que não contamos as cicatrizes que ganhamos por ai, não nos perturbamos com a insonia pensando que poderia ser algo mal resolvido, mas sim falta de exercício e de um bom sexo.
Pode ser que este seja o verdadeiro sentido da vida. Tirar a roupa na cama de alguém, a tal ponto de deixar todas as suas cicatrizes expostas e talvez, esbarrar com alguém tão difícil de tirar a roupa, com péssima cicatrização, como eu, pra cuidar das marcas a mais. Acrescentar algo, sei lá. Transar como se fosse divertido e significante. Como se fizesse parte, e como se a aquela história em aberto, daquele amor que ficou pra trás já tivesse resolvido.
Eu queria poder dar esta direção aos meus amigos. Queria que eles pudessem ficar tão bêbados até acreditar que não existe Deus. Queria poder dizer pra eles fazerem como eu, deitar na cama de alguém e não tirar a roupa, e se tirar, não ser honesto. Não se divertir. Não se esforçar pra sentir o mesmo, porque no fundo, isso não muda nada.
O despertador toca pela manhã.


segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sobre Parte do que Deu Errado

"And you, you can be mean
And I, I'll drink all the time
'Cause we're lovers, and that is a fact
Yes we're lovers, and that is that

Though nothing, will keep us together
We could steal time, just for one day
We can be heroes, for ever and ever
What d'you say?"

Do lado ao contrario da minha cama, eu espero aquele chamado divino vir de algum lugar. Contava as horas e refazia a sua rotina na minha cabeça. Qual era o passo que eu estava dando errado? Talvez eu devesse fazer o mesmo que faço com meus desenhos ruins, rasgo e jogo no lixo. Começo tudo outra vez de um jeito diferente. 
Acontece que com gente que anda, respira, ama, não dá pra ser assim. O lixo do seu quarto deveria estar cheio de papel com as coisas que eu errei por ai, pode ser que agora já esteja transbordando. Sou um desenho que nunca dá certo. Não se preocupe, eu estou poupando papel e deixando tudo aqui comigo, na minha cachola. Estou pensando nesse tempo todo, certas atitudes estavam a frente de outras, e não dá pra recomeçar. A gente sabe o que vem, já está marcado pelo o que passou. O meu destino é ser descartada, posta de lado, voltar pra lixeira até que alguém resolva recolher meus pedaços.
Faz mais de um dia que eu não saio do meu quarto. Eu me mantenho aqui, pensando. Sou escrava das minhas próprias ideias, me embosquei até o pescoço com as linhas de pensamentos. Minha casa, meu coração, meus livros. Tudo parece fora do lugar quando você desaparece desse jeito. Eu não consigo dormir. Fui dominada pela exaustão, meus olhos doem, meu joelho dói mais ainda.
Já roí varias canetas, me sinto tão vazia e cheia de sentimentos. Sou uma explosão de sensações, não consigo tirar da minha cabeça aquela ideia de te empurrar na parede e meter a mão por dentro da sua roupa. E mesmo assim eu não consigo pensar em nada produtivo que nos liberte desse cativeiro. Dessa monotonia, dessa preguiça toda, desse amor sem querer.
Desculpa, eu sou errada.


Bruna Ferrari

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Querida Anne

"Well, I feel deep in your heart
There are wounds time can't heal
(Wounds time can't heal)
And I feel somebody, somewhere
Is trying to breathe
You know what I mean
It's a world gone crazy
Keeps woman in chains"



Querida Anne, 

Estou te escrevendo pra te avisar que eu enlouqueci. Não consigo mais viver preso nessa gaiola e com tantas palavras na minha garganta sem conseguir dizer nada. Fugi pro Sul e mudei de ares. Sinto muito apenas te escrever depois de todo esse tempo, mas já faz meses que eu estou me sentindo pouco interessante pra qualquer um. Principalmente nos últimos tempos que você se tornou tão esquiva a qualquer assunto. 

Era só um cuidado a mais pra que as coisas não piorem, mas meu destino tomou um rumo que eu não aguentei controlar. Me joguei na estrada, porque não conseguia mais aguentar esse peso nos meus ombros sozinho. Eu precisava de você. Pensei que naquela noite haveria algum espaço a mais, só que nós parecíamos jogar aquele velho jogo que passava na TV no qual os participantes precisavam pular de casa em casa até chegar ao outro lado do tabuleiro, mas algumas delas eram de isopor e se fizessem a escolha errada tinham que voltar do inicio. Bem, parece que eu pisei no isopor agora, todas as minhas decisões pareciam mudar nosso rumo de uma maneira muito brusca. Eu precisava de você.

Eu não queria isso. Acho que me descobri uma pessoa inteiramente medrosa, então eu fiquei calado. Peço desculpas por ter comprado aquele terno caro e não ter usado na sua festa. Quero que possa me dar mais oportunidades de usa-lo. Ou seja, me chame pra outra festa. 

Sei que estourei a bomba tarde demais, e que você deve nem estar entendendo o que eu disse até agora. Comecei a escrever com um proposito e terminei com outro, imagine se tivesse te dito tudo o que eu sentia todas as vezes... Se tornaria chato pra você, e você também enlouqueceria e fugiria pro Sul, como eu.

Ps.: O clima aqui é ótimo, mas não venha me visitar.

Sempre seu,

D.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Sapatos Molhados


"Et même, si pour nous c'est l'enfer
Dans le feu de ses grands bras ouverts
J'te promets des flammes de bonheur
Des tangos à t'en arracher le cœur"




Estava andando com as mãos nos bolsos, porque fazia muito frio.Brincava com o vapor que saia da minha boca enquanto bocejava. Essa era mais uma daquelas manhãs que eu ia tomar café fora de casa, comer as coisas que você pensava que eu não gostava, mas você gostava, então experimentava quando você não estava vendo. Tudo isso era pra não te dar o prazer de perceber que algumas coisas só gosto, porque gosto de você. Eu gosto tanto de você.
Meus sapatos continuam molhados. Pegamos uma chuva muito forte ontem a noite, eu adorei. Seus cabelos ficam tão sexy grudados no rosto enquanto você sorri. Você é divertida demais, tropeça e se sai como ninguém. Não sei se por insegurança, ou por apenas se sentir a vontade comigo, mesmo. Acho delicado esses momentos que passo pensando em você, principalmente quando caminho sem rumo eminente. Eu me deixo levar pelas pequenas coisas, parece que minha vida se torna um daqueles textos de Tumblr que todo mundo acha lindo e compartilha no Facebook.
Sei que estar na minha situação é um tanto complicado, e machuca muitas vezes. Os sapatos molhados contam muito sendo assim, deixam mais pesado a caminhada, eu levo mais tempo pra conseguir pegar meu ônibus e ir embora. Enquanto dormia, eu te senti levantando, mexendo na sua mochila. Agarrei forte o travesseiro, será que era agora a hora que você ia ir embora de vez? E esta é a parte que é mais difícil sobre estar na minha situação. Pode parecer incrível o jeito que você gosta de mim, mas existem sempre algo a mais que não sou eu, e nunca serei. Alguma hora vai chegar, nós vamos conversar e você vai me contar sobre a necessidade de mudar de ares, conhecer gente nova, recomeçar tudo outra vez, tentar a vida lá fora.
Eu vou olhar pro chão firmemente e esperar você sair de perto pra entender o que eu estou sentindo. Nós já havíamos conversado sobre momentos como este antes, tínhamos decidido como ia ser a nossa vida caso não acordássemos de manhã juntos. Afinal, eram só algumas vezes quando tínhamos tempo um para o outro. 
Eu adorava este relacionamento de tantos anos, adorava também nossas conversas de fim de tarde. Engraçado era como nós ficamos nesse fluxo estranho de correr um atras do outro, toda a vez que a vida mudava de sentido. E também era engraçado como nos xingávamos muito em pensamentos, por perto só beijos e abraços. Acho que esta despedida, o dia que finalmente chegou, está sendo difícil para nós. Tem sido difícil desde o momento que percebemos que a vida passa pra todo mundo, as coisas seguem seu ciclo natural, se renovam e nessas, pode ser que o que é novo não seja tão bom quanto o que existia.
O meu café é solitário esta manha, e ontem foi uma ótima noite, mas eu sinto que parti seu coração em pedaços, e você partiu o meu mais ainda por não dizer que me amava nem na nossa despedida. Senti um desperdiço de vida neste pequeno momento de necessidade em que eu me encontrava enquanto encarava seus olhos, em lágrimas. Esta não era a primeira vez que eu chorava na sua frente, muito menos você na minha. 

Eu sei que você esteve certa todo este tempo, e eu estive tão errado em tentar manter nosso relacionamento do modo que estava. Não sei se sinto muito, é egoísta dizer isso, mas eu fiz de tudo pra te manter do meu lado o máximo que pude. O máximo que eu pude e que eu aguentei, foi isso. Já está na hora de arrancar esses sapatos molhados, mudar de roupa, e voltar a gostar das coisas que eu não gostava tanto antes de você. A minha vida precisa seguir na normalidade, e eu não posso continuar caminhando por um caminho tão pesado assim.



Bruna Ferrari

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Eu Não Preciso Dizer que Te Amo



Hoje eu acordei mais incrível do que nunca. Depois daquele tapa na cara que você me deu ontem, parece que tudo ficou diferente. Meu pai me perguntou da onde vinham aquelas marcas, mas não foi do mesmo jeito que ele pergunta toda a vez pro meu irmão quando o pescoço dele volta roxo depois de uma noitada. Ele me intimidou, e quis saber logo o que estava acontecendo. Eu poderia ter dito que eram os moços da esquina, tinha pegado um zé mane qualquer por ai e pronto, quem sabe ele fosse ficar orgulhoso de mim.
Eu nem falei nada no fim, só fiquei ensaiando as palavras da minha cabeça e esbocei a mesma reação. Mas que merda ele tinha mesmo a ver com isso? Pois é, nada. Senti até um calafrio de pensar que todas aquelas marcas no meu corpo poderiam ter sido consequências de uma noite boa. Bem boa. Daquelas, cês sabem, né? Mas não era não. Triste. Nem sou desse tipo que aguenta ficar acordado durante uma noite inteira. Dá preguiça, também dá sono. Enjoo muito fácil. Contei pro meu amigo o que tinha acontecido, ele ficou um tanto assustado que pudesse ter feito aquilo comigo, e eu... envergonhado. Eu ia ser o covarde outra vez.
Eu não sou covarde não. Eu encaro, mas a galera tem essa mania de ficar achando coisa errada demais. Sempre pensam na superficialidade. Eu sou complexo, não sou pra essa modernidade de cinco minutos, muito menos pra esses pseudos-cultos. E veja só, até você dá um tapa na cara de uma pessoa como essa!
Tinha te escrito uma carta pra quando voce fosse pra Europa, rasquei assim que você desapareceu. Pode ser que a gente nem volte a se falar depois de ontem, agora você deve estar até cantando vantagem e já ter esquecido de tudo. Eu não. Fui eu que levei o tapa, não é mesmo? A minha mão na sua cara eu segurava, nosso amor é assim. A gente nem precisa dizer que se ama, a gente se morde e sai rolando pela cama. Goza muito. Minha mãe sempre diz que você é que nem mulher de vagabundo: quanto mais bate, mais quer. Eu não acredito nisso, acho essa frase o maior clichê que existe quando sogra não gosta de nora. Num me lembro se a frase era mesmo essa, mas veio desse jeito e eu escrevi assim. 
Ela também diz "vê lá com quem você fica andando!". Queria poder dizer que nem precisava se preocupar tanto comigo, respondia as perguntas do meu pai, tomava meu banho e o roxo, eu dava conta. Era só usar um cachecol num dia ensolarado, nada demais. Não tinha mais o que esconder dos meus amigos, minha reputação já estava no lixo. Todo mundo notava. 
Enquanto você estava de bobeira por ai, conheceu outra pessoa. Com certeza considerou me dar mais um tapa na cara, e eu não ia fazer nada pra te punir de volta. Nosso amor tem dessas coisas. Até ouvi a definição perfeita, a gente é assim: sadomasoquismo. O mesmo amigo que ficou impressionado que falou essa palavra difícil, tive que buscar no dicionario. Esse povo fica dizendo palavra complicada pra enfeitar a frase, eu não. Eu não preciso disso. Eu digo logo. Palhaçada, viu. Mesmo depois desse tapa na cara, eu não preciso dizer que te amo. E eu não vou!

sábado, 2 de maio de 2015

Meu Texto Ruim

Acordei, de novo. E sei lá quantos mais textos vão começar com essa mesma situação. Há alguns minutos atras, eu sabia exatamente o que diria aqui. Agora, já não sei mais. Pode ser que a construção de algo seja por muitas vezes assim, você tenta preparar previamente, mas o rascunho logo é esquecido por coisas novas e totalmente fora do contexto, como eu li num livro.
Eu não sei bem o porquê de estar escrevendo. Não sei o porque de não conseguir dormir também. Toda vez que deito na cama, essa inquietação de repente me sobe e nada sobra. Chego a sentir seu corpo sobre o meu, e nós dois suados pela cama, pode ser que seja tesão. Parece até errado estar sentado uma hora dessas, parece errado dormir sozinho, e não acordar do seu lado. É fato de que tudo isso me causa um desespero enorme, mas eu ainda não sei se este é o motivo de estar escrevendo.
Pode ser que seja só um desabafo, uma outra maneira de pôr pra fora o que estava faltando antes de chorar tanto. Deixei explodir, como consigo conter mais a boca do que os olhos, essas merdas acabam acontecendo.Minha consolação é não estar sozinho, penso nos tantos outros que estão na mesma situação que eu. Anônimos, sem dormir, chorando sem motivo algum e metendo o nome de alguém no meio. Acho que se essas pessoas montassem uma rede social pra se ajudar, daria bastante certo. Mais certo que o facebook, alias. Depois penso de novo, e acho que daria mais merda e mais conflito.
Odeio essa minha ambiguidade, e eu sei que você deve estar se perguntando como eu fui meter essa palavra neste contexto se nada do que eu disse até agora aparenta ter sentido. Sei lá... Eu quis. Algumas coisas na vida são assim, lide com isso. Estou cansada de pensar pra dizer, pra escrever então nem se fala. Preciso deixar as coisas fluírem, tá difícil. Tem um terremoto passando pela minha vida, colocando a prova tudo o que eu achei que era firme. Não sei no que segurar de verdade.
Nessas horas é que eu meto a culpa em você. Grito com você mentalmente enquanto me magoa. Eu sei que se for desenvolver o assunto eu provavelmente vou acabar concordando, porque você me leva fácil e você sabe por onde quer me levar. Mas a vida é assim, e eu preciso aprender a lidar com isso. Tem coisas que são como são, como aquelas explicações fonéticas que os professores de inglês tinham preguiça de me dar e diziam: Deus quis assim.
Será que Deus quis a gente assim também? Não. Provavelmente não. Nós nem acreditamos muito nele. A gente é tudo o que Deus não queria pra humanidade. Somos desafiadores da tradição, ratos de laboratório da modernidade. Somos roedores, aproveitadores, geneticamente modificados pra saber lidar com gente diferente, simpática, fundamentalista, otária, machista, feminista, burra. Enfim, e muitas outras gentes que eu tenho preguiça de colocar todos os adjetivos. E muitas outras coisas que eu tenho preguiça de colocar aqui.
Minha vida se resume a isto, ter a paciência colocada em prova a todo momento, alguns beijos seus de mês em mês, e textos ruins. Meus textos ruins.


Bruna Ferrari

sábado, 25 de abril de 2015

Meu Amigo Escorpião

De volta praquela mesma rotina, eu atravessei aquela passarela desejando que algo me acontecesse. Estava um saco esta minha vida, eu não me sentia assim... daquele jeito que todos os livros me dizem pra ser. Parecia que era só mais uma noite que eu voltava pra casa irritada com você. Sei lá, pode ser que as vezes fique claro quando as pessoas me machucam, mas que por algum motivo isso pode ser difícil de você perceber. 
Cruzei os dedos na esperança de cair de lá, alguém me esbarrar e sem querer... já foi. Uma moça por entre os carros, noticias no jornal. Eu seria leonina por um dia. E você criaria hipóteses das coisas que eu te deixei com um significado único, que infelizmente, você nunca conseguiria entender. Não foi assim, nada me aconteceu, ao invés disso, eu fui bem segura pro ponto. Nenhum sinal de perigo. Esperei por alguns minutos com a cabeça encostada no poste e aquela ideia que não me saía da cabeça. A moça por entre os carros, noticias no jornal. Leonina por um dia. 
Só que eu sou bundona, e nem pra me jogar nos jogar nos carros eu consigo ser alguma coisa. Com a cabeça encostada no poste, eu já previa que este texto ia ser uma merda, mas que era a minha ultima escapatória pra toda aquela rotina. Era a saída de emergência da raiva que eu tinha quando você, mais do que as outras pessoas, me magoava. Os carros passavam, o tempo também, a minha raiva não. Eu tinha dito uma vez que odiava quando as pessoas me negavam carinho, por mais que eu conhecesse que sou uma pessoa grudenta, eu só me aproximava de uma área segura. Hoje não, hoje... você fez... não, sai daqui. E foi difícil, doeu. Doeu mais que minha bunda naquele chão gelado te esperando por uma hora. Mais do que ser o plano B, prioridade da coisas que não existiam, dos roles que eram só meus e pensados porque eu gostava.
Ao invés disso, eu continuei com a cabeça no poste, algumas lagrimas pelo rosto e limpando os óculos o tempo todo. Era o vento, muito vento na Dutra, machuca, doí, e aí eu choro. Sou muito feita de porcelana pra essas coisas. Qualquer deslize sem noção e já era. Ou não, ou era seu poço de chances que estava se secando. Tudo estava ficando mais difícil, já vinha um tempo assim. Eu me sentia dando aula  o tempo inteiro, aquela obrigação de entrar e sair de sala sorrindo sempre estava comigo. Afinal, o que eu era mesmo se não uma adolescente, criança e mimada que não conseguia tanta coisa assim? Logo eu, que tomei tanto tapa pra aprender a seguir as regras sendo regrada de novo por coisas que não faziam tanto sentido pra mim? Logo eu, que sempre achei tranquilo não ter problemas com as coisas que eram diferentes dos outros. Logo eu, tendo que mentir pros meus amigos pra poder estar lá.
Peguei o ônibus, já pensando no que faria quando chegasse em casa. Limpei meu rosto molhado com a mão mesmo, minha camiseta não tinha mangas. Alguém me chama, e eu levanto o rosto rápido. Era aquele amigo. Aquele meu amigo escorpião. O amigo de esbarro, como ele mesmo diria. O amigo pra hora H, era incrível como ele aparecia a todo momento que eu só estava precisando de alguém pra conversar. Era incrível, porque ele não sabia, como o meu melhor amigo, que eu estava mal por sua causa. Ele só olhava pra minha cara, propunha uma cerveja e papo se desenrolava por algumas horas. Acho engraçado porque a gente tem interesses em comum, mas  parávamos pra se ouvir sobre outras coisas. Ele era aquele cara que eu conseguia calar minha boca pra entender o que estava dizendo - mesmo que eu falasse pra caramba.
Apareceu ele, e deu, nele, essa vontade de tomar uma cerveja. Mal me disse oi e foi isso, eu aceitei porque... do fundo do ônibus ele não ia conseguia me ver molhar a camisa de novo. Já era obvio que eu era sentimental demais, dramática demais, sonhadora e romântica demais. As explicações nem eram dadas, era uma cerveja, logo, duas e nada mais.
Fomos no bar mais merda que achamos. O nosso gosto musical é bem parecido, ele sabe que curto coisas que digo que não curto tanto pra você só pelo prazer de te dizer: não sei! me explica! E ver voce desenrolar todo um texto.Era aquela coisa de aproveitar o tempo, engordar com uns amendoins afrodisíacos a mais, gastar a vida no Facebook e por ai. 
Contei pra ele sobre o Harley passou pela minha vida esta noite. Ele era uma das poucas pessoas que eu me referia ao seu nome e ele já dizia sim! lembro, claro, você já me falou outras vezes, continue! Era empolgado. Das vezes que eu pensava... Ele é escorpião. Os motivos eram todos diferentes pra eu estar ali. Não era o amendoim, nem a cerveja, nem a situação, era só porque ele era um cara especial, me chamava pra sair, pagava umas cervejas, tínhamos coisas em comum e não me desrespeitava. Alias, acho que um aspecto que podemos ressaltar bem é isto. Ele faz parte do grupo seleto de pessoas que conheci num dos lugares mais preconceituosos da minha vida que dificilmente se impressiona com as coisas que eu falo. Bem, um cara pode te confundir mais, você é sentimental e vai confundir tudo... não é disso que você gosta, deixa pra lá, ele dizia. Ele faz parte das pessoas que tinha tudo pra ser... daquele jeito. Vocês sabem. Mas ele era daqueles que se esforçava pra eu fazer eu me sentir bem, e me abraçava sem pensar no momento em que fosse me largar, sem nada. Era um abraço.
Meu amigo escorpião... bem, eu devo algumas coisas a ele. Não só umas cervejas, mas uns bons conselhos. Eu devo a ele estar presente na hora H, e dizer coisas que me façam dormir pensando sobre os tópicos levantados numa conversa. Devo a ele mais um abraço.

Bruna Ferrari

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Pecados

"Unknown Pleasures"




  Quando você virou a esquina foi que eu te entendi melhor. Eramos tão únicas. Quase todas as minhas neuroses foram embora, confesso que me senti estranha por andar na rua e não ter a preocupação dos olhares na minha cabeça. Na minha cabeça, onde tudo só acontecia lá, porque no fundo estamos sempre apressados demais pra se preocupar com o que o outro fez na noite anterior.
Eu e você eramos assim, aposto que um monte de gente também. Só eu tinha entendido isso mais cedo, e essa dica tomou conta do meu corpo como se não houvesse amanha. Pensei na porção de coisas que eu deixei de fazer, pensei nas vezes que estive puta por saber que estava fazendo isso. E agora, não, o que eu sinto é diferente.
Sem pecado é melhor, é mais gostoso. E não dá medo. Com vontade, é melhor ainda. Que me desculpem os amores platônicos, mas a gente sabe que gosto é o toque. Toque, de qualquer forma, mas mais ainda que puro, verdadeiro. Dentro dessa imensidão de coisas, eu desejei mergulhar nesse mar pra sempre, sair correndo, cutucar todo mundo e contar sobre a descoberta da minha vida. As coisas estavam bem mais leves agora. Eu conseguia te olhar nos olhos depois de tanto tempo e não me sentir desconfortável. O filme que se passava na minha cabeça agora é outro, melhor.
Senti vontade de ler meus livros mesmo sem óculos, voltei a desenhar o que sempre quis e deixar espalhado na mesa. Tudo bem, sem problemas. E se me perguntassem... Era isso mesmo. Essa arte humana estampada na cara dessa gente que fica se escondendo pelos cantos. Eu tinha mais problemas em dizer, em explicar, e reexplicar.
    Somos duas, e logo, uma imensidão. Não juntos, mas nas mesmas sensações. Novas, incríveis, como todos os dias que eu paro pra olhar pra você e pensar nos motivos que me fazem te escolher todos os dias. 
Todos os motivos do mundo.



Bruna Ferrari

domingo, 5 de abril de 2015

Vinte e Quatro

     Tinha acordado com dores no pelo corpo. Entre um intervalo e outro, eu abri uma Stella pra reivindicar aquele amor. Coloquei meus indies preferidos pra tocar. Eu estava tão feliz que até teve espaço no meu quarto pra dançar. Eu dancei pra caramba, mesmo cansada. Dancei até dar a hora de ter que sair de novo pra te encontrar. No caminho, eu vim recapitulando a nossa história. Naquela noite, eu não sabia muito bem o que tinha acontecido com você. Talvez você tivesse tomado uma pancada na cabeça e gostado mais de mim. Talvez você só estivesse numa vibe boa, porque voces sabem, canceriano é assim.
Dessa vez, você não tinha dado um cutucão pra acordar, nós não tínhamos ficado alheias por conta do seu cansaço, ou do meu. Dessa vez você fez diferente das outras, e eu até me senti envergonhada de ter odiado a minha vida a três dias atras porque você estava nela. Enquanto a gente se abraçava, foi a segunda vez que eu prestei mais atenção na sua respiração. Lenta. Difícil. Gradualmente ofegante. Agradeci pra caramba por isso. Nao. Nao pra Deus.
Eu não ligava praquilo. Achei um desperdiço de tempo aquelas essas andarem pela cidade numa noite tão gostosa, a vista da sacada estava boa, e a minha cerveja melhor ainda. No nosso quarto, rolava o carpe diem. Aconteciam aqueles olhares, e os meus sorrisos que eu não sei dizer. Eu estava tão bem, e tão imensamente agradecida por você estar comigo. Não tive mais aquele sentimento de que você queria ir embora o tempo inteiro, ou que sua cabeça estava em outro lugar, ou que você estivesse com um problema infinito que eu não pudesse ajudar. Nao tive mais aquela sensação depois de tudo olhar para o seu rosto e ter vontade de me esconder. Eu quis olhar mais.
Foi estranho. Tínhamos pegado metro, e eu não dei a minima pra minha consciência do dia anterior, acho que tinha deixado ela em casa - ou parte dela, pelo menos. Pela primeira vez, eu não me preocupei com os olhares estranhos, eu não achei que fossem pra mim, eu não achei que soubessem. Eu não me senti culpada. Se pudesse, até tomaria duas doses de você. Adorei esse pedaço de liberdade que você me fez provar, é disso que você estava falando o tempo inteiro. Eu estava bem.
Moça, eu só gostaria de te agradecer o tempo inteiro por isso. Por todas as vezes que você me abraçou e eu me senti mais segura do que nunca. Pelas coisas que você me ensinou, e pelo o o que você me fez superar. A gente já passou tanta coisa juntas, construímos uma história que eu não me importo qual vai ser o final. Imensamente agradecida pelas marcas, pela dor no corpo, por ter tirado de mim este fardo tão difícil de carregar, essa culpa tão sem noção. Moça, obrigada por aquele beijo de bom dia, por ter me dito que estava tudo bem quando eu acordei assustada depois de um pesadelo.


Bruna Ferrari

quinta-feira, 26 de março de 2015

Cem Motivos

"No map, no message.
It's the deep, blue screen I know."




Tinha acordado sem saber o que fazer da vida. Tanto pra dali dois dias ou pra dali dois meses. Minha garganta continua rouca sem motivo, acordava seca todos os dias. Seca, como eu nas ultimas semanas. Na cabeçeira da minha cama tinha a história inacabada, sem inspiração nenhuma e sem forças pra levantar da cama. Eu continuava estatica, de longe, esperando o momento certo pra saltar - da cama, ou do trem, sei lá.
Pode ser que aquilo me matasse um pouco, um pouco mais do que os meus poucos seis anos pela frente. Levantar da cama parecia difícil, o dia parecia nunca estar claro quando você não estava por perto; agora que nossas rotinas não se cruzavam mais, eu tinha mais medo. De você esquecer meu nome, meu numero, minha coisas, quem sou, por fim. E de te ligar, te perguntar se eu poderia ir de ver - onde quer que fosse - seria só me dizer o lugar e pronto. Em algumas horas eu faria o esforço de varias viagens pra te ver.
As coisas agora estão diferentes, eu não tenho hora pra voltar e você não tem hora pra me encontrar. A gente não tem tempo pra deitar na grama, a gente não sabe quanto tempo essa coisa toda pode durar. É um saco pra quem é ansiosa como eu, mantenho minhas unhas curtas pra ajudar, mas não consigo evitar. Como carne, mastigando forte, como se pudesse morder e engolir a seco quem fez isso com a gente. Quem deu esse tempo ilimitado que não era o que eu passava sentada, lendo, te esperando. Não era o espaço de uma semana, ou um dia reservado, não era nada. Era assustador.



Bruna Ferrari

quinta-feira, 5 de março de 2015

Gostar

"Don't say you love me if you are not gonna stay
Make it real or take it all away"




Andei considerando que eu goste mais das pessoas que digo que gosto, do que as que digo que amo. Gostar vem do coração, não tem obrigação nenhuma, não é uma palavra forte e cheia de responsabilidade. Gostar é... simplesmente gostar. Porém amar vem com todo aquele drama junto. Desfaz amizades, deixa um clima estranho, rouba beijos, cria novos laços, ou abre um buraco no coração imenso. E desde o dia que nasci eu já sabia que abririam muitos buracos no meu peito.
Eu me sinto triste por dizer isso. Só talvez eu tenha dito uns dois ou três te amos com a mesma sinceridade que eu digo que gosto de alguém. Olhe, não é por não ser responsável o suficiente pro tamanho da palavra, mas é só pelas consequências desastrosas que ela poderia me causar. Muitas vezes, digo, na maioria delas, não foi boa coisa, entende? Agora que converso com minha consciência faz uns 9 meses, eu não digo te amo faz muito tempo. Muito tempo mesmo, tempo que não deveria nem se contar, e é mais que os nove meses. Desculpem, mas abster-se da culpa de deixar um buraco em alguém, ou de acelerar batimentos cardíacos é mais legal. Deixo pra acelerar batimentos cardíacos em outro lugar, onde as palavras não importam tanto. 
Na medida que a gente cresce isso fica mais difícil. Amar é mais difícil. É um trabalho que requer mais atenção... E enche o saco. Com trinta e poucos anos, nem temos tempo pra lidar com essas coisas, temos que trabalhar em outras. Os alugueis, a faculdade, a escola dos filhos, os pais ficando velhos, a vida preguiçosa que precisa mudar, a falta de dinheiro, a falta de emprego, a falta de plano de saúde, e tantas outras faltas. Fica aquela falta do eu te amo guardado também, que é dito enroscado na garganta só pra dizer quem é a primeira opção na vida.
Já ouvi muitas pessoas dizerem sobre amar o emprego, amar a família. Nessas, também percebo, que muitas dessas pessoas não estavam contentes com nenhuma das coisas. E gostar é isso. É  brincadeira de criança, sem responsabilidade nenhuma. Não é pra mostrar a primeira opção, não é pra fazer esforços, é pra vir do coração. Pode-se dizer que gosta todas as vezes. Apesar da palavra ser demasiada comprida, o seu significado é o mesmo. Mostrar o sentimento que se aloja no coração, e que vai demorar pra ir embora. E mais que isso, um sentimento que pode não causar tantas feridas no coração.

Obrigada por simplesmente gostarem de mim.


Bruna Ferrari

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Alma de Pássaro

"J'ai massé tout ton corps à la force de ma bouche
Le dessin de mes lèvres partira sous la douche
Quand le soleil se lève il est temps qu'on se couche
Après cette nuit de baise je ne veux plus qu'on me touche"





Já é tarde, mas acho válido fazer um ultimo esforço por um texto qualquer pra tentar descrever essa coisa que está intalada na minha garganta há algum tempo. A essa hora, provavelmente, voce dorme. E eu aqui acordada pensando no que tenho de mal resolvido pra melhorar. Sabe, os tempos não estão os mesmos, as pessoas estão se machucando mais e a vida tá ficando cada vez mais dura. Acho que esses são os verdadeiros efeitos do tempo, todas aquelas rugas e cabelos brancos não eram nada.
Ainda que com o tic-tac do relógio, você dorme tranquilamente. Pode ser que por tédio, tenha saído pra algum evento em São Paulo, ou talvez só comer em algum lugar pra poder tomar um ar. Na minha cabeça, eu te observo. Faço o seu dia na minha mente, como se estivesse do meu lado e pra sempre; pra sempre e não sempre, porque isso acabaria por me cansar também. Não careço dessas coisas, mas de outras menos significante aos olhos humanos. Juntei todas as partes de dias que eu fiquei te observando. Eu te observava muito e o tempo inteiro. Sentia a sua vida num automático que me incomodava de um jeito que não sei explicar... Sim, egoísta. Como poderia eu pensar que a vida de alguém mudaria por conta de mim? Não sei, mas era fato de que eu notava isso. 
A sua rotina era calculada, os tempos cronometrados e as rotas traçadas previamente pelo Google Maps (uma ferramenta que, cá entre nós, voce sabe usar muito bem). Mas o tempo ia passando, eu te sentia andar pelas ruas alheia as coisas, aos sentimentos, aos gostos, aos pequenos gestos e prazeres. Não pude evitar me sentir mal, o primeiro pensamento que passou logo depois daquele que eu gostava de voce, de fato, era que eu estava te colocando numa gaiola. Digo, uma gaiola, porque as grades não eram de aço maciço, mas de um arame finíssimo, fácil de entortar e sair. Você continuava lá, aquela sensação no meu peito crescia assustadoramente. E me devorava tanto quanto o que você me fazia sentir quando estávamos sozinhas. Milhões de fogos de artifícios, de diferentes cores, e com algum simetria. Milhões de fogos de artifícios de sensações, numa simples troca de olhares, num abraço de trinta segundos.
No meio de tudo, sempre eu, parada e estatica, de mãos atadas, sem ter o que fazer. Procurei por entre o seu corpo qualquer botão que pudesse desativar aquele piloto automático da vida que você estava vivendo, mas sua pele era macia... e eu fui aos poucos me perdendo por outro sentimento maior. Então eu procurava outra solução, fazer qualquer coisa que pudesse mudar a sua vida, qualquer coisa que te balançasse de vez. Qualquer coisa que pudesse ser grande o suficiente pra te tirar dessa coisa que eu sinto que você está há tanto tempo. E depois de muito tentar, e muito tentar, e muito tentar. Acho que já saquei que o seu lance é outro. Você tem alma de pássaro. Você não é como os outros pássaros que são livres e sempre prontos pra voar, você é daqueles que procura a gaiola mais confortável, com comida ao alcance e fica por lá. As vezes visita a gaiola vizinha e volta, e as vezes fica um pouco mais por outra, e as vezes se cansa de tudo e quer bater asas pra longe, mas desiste porque cansa, reconsidera, para, pensa. 
No fim, toda essa história, só ficaria na minha cabeça.






Bruna Ferrari

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Intimidade

"Oh and if there's any love in me,
Don't let it show.
oh and if there's any love in me,
Don't let it grow."

Essa tarde quando tentei te tirar da minha cabeça, foi muito mais em vão do que todas as outras noites. De novo, eu estava me sentindo sozinha, e ficava procurando algum canto pela minha cama que tivesse lembranças suas. Quando eu fiz o pedido sobre este presente, eu nunca soube que você poderia, de fato, me ouvir. Eu falei inocentemente toda a verdade, agora, talvez se não fosse por esse pedaço de coisa que está por perto, eu poderia estar bem mais perdida por aí.
As vezes fica complicado dizer que eu sinto ciumes do que voce pensa, e que todas as vezes que eu olho pra longe, eu sempre estou disfarçando pra não te olhar muito e voce me achar estranha. Voce estava do meu lado, desesperadamente procurava alguma coisa pra fazer bem. Nunca me senti sozinha do seu lado, mesmo considerando todas as situações em que eu ou voce eramos ausentes uma na vida da outra. Não sei bem se te conheço, e naquele momento, essa duvida se instaurou no meu coração tão repentinamente que eu não pude controlar. Desculpa admitir, mas eu senti medo. Medo de que me escapasse por entre os dedos, medo de que toda a segurança que eu sinto em voce fosse embora de repente. Medo, principalmente, de nao te conhecer como eu gostaria. 
Eu descobri com voce algo que é maior do que as coisas que aprendi na faculdade, maior do que o que aprendi batendo a cabeça pelos postes enquanto usava o celular, maior do que o que eu lia, e via na internet e  nos muros de são paulo. Talvez, tarde demais, eu entendi o que voce me dizia sobre estar ao meu lado, me convencendo que esse sentimento que faz parte das minhas férias, não era, e nunca foi solidão, se não tristeza. Sim... Estar ao lado não é estar por perto, mas é calar pra ouvir o outro falar. é não sentir a necessidade de estar por perto a todo tempo, mas sempre estar presente num bilhete, numa camisa, numa pulseira, num colar, num retalho, qualquer coisa que fosse. É passar dias e dias e dias e o abraço continuar apertado. Ou talvez não seja nada disso mesmo, e eu continue enganada.
Eu nunca quis ter voce, eu nunca senti por voce esse sentimento de ciumes dessesesperado que sufoca das pessoas. Eu nunca quis te botar um selo que dissesse que voce é minha, porque eu acho isso um puta egoísmo, e não me carece. Mas eu sei, é contraditório tudo o que eu estou dizendo desde o começo desse texto. E se voce estiver lendo, desculpa outra vez, mas eu te avisei que eu era assim... Emocionamente descontrolada. E juntando a lista de coisas que eu nunca quis em voce, estava essa coisa de te ter amarrada. Voce é livre, e eu não quero que deixe de ser. Mesmo eu adorando a ideia de te ter tão próxima, eu acredito que o que as pessoas tem de você é muito mais do que elas querem. 
Você deixa quem tem importância ter intimidade. Não aquela intimidade de saber um segredo constrangedor, mas aquela de saber a cor preferida, de saber o que come e o que não come, aquela de conseguir ouvir o outro, de não obrigar, de não impor, de reconhecer os erros ainda quando você arqueia a sobrancelha e revira os olhos pra mostrar o quão desapontada você está. Se a maioria das pessoas acredita que o coração da gente é uma casa, eu acho que o seu coração é um oceano inteiro, sempre tem espaço pra muita gente, mas só te conhece bem quem mergulha de cabeça. Uma casa é muito pequena.


Bruna Ferrari

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sobre o Dia em que Você for Embora

"Well I'm afraid of saying too much and ending a martyr
But even more so I'm afraid to face God and say I was a coward"





     Essa noite eu estivesse pensando muito sobre o dia em que você iria embora. Já tinha me visto chorando absurdos - mais do que eu poderia controlar - e jogando todas as coisas que me lembrassem de você pela janela. Gritando sem parar, dando socos no travesseiro, culpando Deus e o destino por nossos planos serem tão diferentes.
Pode ser que este seja um dos motivos pelos quais o sono foi embora dessa vez. Ou seja seja só mais uma das minhas preocupações que está me atazanando desde que eu botei essa ideia de partida na minha cabeça. Acho que vivo o que temos como todo mundo que vive a vida sabendo que vai morrer, caminhando pra frente, e com o mesmo destino. Eu caminho pra frente, já sabendo que uma hora isso vai ter que parar. Espero que ao menos tudo o que viveremos nesse meio de história, possa valer de muita coisa até a hora da minha morte. 
Não contei os segundos por não ter por perto relógio, nem celular. Mas já fui tirando devagar as coisas que me fazem lembrar você no meu quarto. Dois ou quatro recados ali, um jornal, embalagem, pedaços de laços com sua cor preferida, desenhos e um monte de presentes que eu tinha feito pra você e nunca tive coragem nenhuma de entregar. Já até voltei a fazer os tsurus, porque eu não tinha parado por ali, apesar do esforço enorme. Eu nunca vou me esquecer que um dia eu vou morrer, e eu também não vou me esquecer que uma hora você vai precisar ir embora. Acho que só estou facilitando essa separação, assim eu não caio em abismos de novo. Essa vida é traiçoeira apesar de tudo, mesmo quando a gente já deu umas boas cabeças no caminho.
Quando você for, eu só espero que lembre sempre de mim, e por motivos que te façam feliz, e não que te irritem ainda mais. Eu espero que se despeça com felicidade, como quem parte pra um novo futuro, uma promessa de um bom destino certo. Como quem larga tudo na vida pra fazer o que ama, pra ser o que ama, e precisa deixar as velhas coisas de lado, precisa deixar todos os laços na gaveta, os remédios no armário, as roupas a mofar no armário da casa antiga. Como alguém que se lembra que vai morrer, mas que acredita que o que está no meio é sempre melhor.



Bruna Ferrari

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sobre como Deus me Desencontrou

============= AVISO ==============

Já aviso aos cristãos, e todos os teístas do mundo também, que este texto pode ofender. Mas, meus caros, entendam que a minha intenção não é essa. Este blog é quase meu diário, eu só quis tirar uma angustia do peito e compartilhar com meu velho amigo. Enfatizo que esta é a minha opinião, e que ela não é lei, não está na constituição. É direito se opor, ou não ouvir/ler, ou não seguir. E simplesmente não ler. 
Se mesmo assim continuar lendo, bem... não diga que eu não avisei. Só estou evitando conflitos desnecessários no meu inbox, ou qualquer meio de comunicação.
=================================

"Every whisper
Of every waking hour
I'm choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt, lost and blinded fool (fool)
Oh, no, I've said too much
I set it up"

Essa noite eu fui a missa, o padre era legal, dizia coisas bonitas. Eu entrei de mansinho já pensando duas vezes. Faz um bom tempo que eu não vou a missa, e muitas vezes por falta de tempo e cansaço. Outras, por falta de "fé". Não sei se tinha ficado feliz, mas eu me lembrava de todas as repetições e de todos os significados implícitos que existiam ali. E isso não era grande coisa, não pra mim.
Eu não sei porquê, mas dessa vez não fez sentido nenhum. O padre dizia coisas sobre Deus e eu só me perguntava "Mas quem é Deus?". O padre dizia coisas sobre o céu, sobre um lugar prometido ao lado de Jesus, e eu só me perguntava "Mas porque eu tenho que ir pro Céu?". O padre dizia coisas sobre a salvação eterna e os planos de Deus para isso, mas eu, outra vez, só me perguntava "Porque eu haveria de ser salva? De quem eu havia de ser salva?". Na mesma missa, a aplaudimos um livro... E eu pensei em qual seria a diferença se eu aplaudisse o meu exemplar do Livro do Desassossego. Ele falava dessa "Palavra" como se fosse a verdade infinta, e eu sei e entendo que pra ele talvez seja mesmo. Pra ele, pra tanta gente. Mas nas primeiras palavras do sermão, eu já me dei conta de que aquilo tudo não era pra mim.
O sermão era sobre família, sobre marido e mulher e filhos. E eu sei que eu não faço parte dessa maioria. Eu sei que eu não consigo entender como alguém que eu não conheço e que não me conhece tem o direito de me julgar, ou sei lá! Dizer o que eu posso fazer! Um dia eu ouvi de um colega da igreja: eu tomo minha cerveja, e isso não faz mal a ninguém. Bem, eu digo o mesmo... Eu não faço mal a ninguém. Eu não mato, eu não roubo, eu não sou injusta, eu tento não julgar os outros, eu não cago regra na vida de ninguém. 
Olhando para os lados, todas as pessoas tinham os olhos fechados. Algumas ate choravam e eu nem entendia. Fechei os olhos, e imaginei que tivesse nascido na Índia... Talvez eu não estivesse naquela situação, talvez o livro que eu fosse aplaudir seria outro. Fechei os olhos outra vez e me imaginei no Afeganistão, talvez eu nem pudesse ter aquele momento. Diante de tantas verdades que sempre se dizem únicas e incontestáveis, eu decidi não fazer nada. Ou na verdade, eu tinha decidido, sim. Eu virei as costas e fui embora. E me senti horrível por muitas vezes na minha vida eu ter deixado alguém que eu gostava de lado porque não satisfazíamos o que me faziam acreditar... E hoje eu me pergunto "pra que tudo isso?". Qual era a diferença entre seguir as regras de um livro qualquer, agir como um livro qualquer e fazer tudo isso como a Bíblia? 
Porque? Porque? Porque? Porque eu teria que me colocar cercas por causa de uma salvação que eu nem sei pra que existe, e eu nem sei do que eu vou me salvar. E porque esse livro é sagrado? bem, eu não sei. Eu não consigo nem ao menos saber se tudo o que está escrito ali é de fato, pode ser que a Bíblia fosse um livro bem escrito que ficaria legal numa adaptação ao cinema, ou pra uma minissérie e só. A verdade é que pode ser que eu precise de mais estudo, ou de mais tempo... mas uma coisa eu peço:
Senhor Deus, caso esteja lendo o meu texto agora, eu quero de você não muito mais do que eu tenho de todo mundo. Eu não espero de você, não mais o que eu já espero de todo mundo. Gostaria que ao menos soubesse todo o esforço que eu fiz, e por quantos anos eu me enganei pra poder acreditar em você desse jeito, mas eu só me sinto um fantoche infeliz da sociedade. Sinto muito por te decepcionar, quando eu já tinha estabelecido regras pra minha vida, pra minha rotina, e pro meu corpo. Eu não estou disposta a fingir que nada acontece desta vez. Eu não vou me sentir culpada outra vez por fazer o que me faz bem.


Bruna Ferrari