domingo, 22 de fevereiro de 2015

Alma de Pássaro

"J'ai massé tout ton corps à la force de ma bouche
Le dessin de mes lèvres partira sous la douche
Quand le soleil se lève il est temps qu'on se couche
Après cette nuit de baise je ne veux plus qu'on me touche"





Já é tarde, mas acho válido fazer um ultimo esforço por um texto qualquer pra tentar descrever essa coisa que está intalada na minha garganta há algum tempo. A essa hora, provavelmente, voce dorme. E eu aqui acordada pensando no que tenho de mal resolvido pra melhorar. Sabe, os tempos não estão os mesmos, as pessoas estão se machucando mais e a vida tá ficando cada vez mais dura. Acho que esses são os verdadeiros efeitos do tempo, todas aquelas rugas e cabelos brancos não eram nada.
Ainda que com o tic-tac do relógio, você dorme tranquilamente. Pode ser que por tédio, tenha saído pra algum evento em São Paulo, ou talvez só comer em algum lugar pra poder tomar um ar. Na minha cabeça, eu te observo. Faço o seu dia na minha mente, como se estivesse do meu lado e pra sempre; pra sempre e não sempre, porque isso acabaria por me cansar também. Não careço dessas coisas, mas de outras menos significante aos olhos humanos. Juntei todas as partes de dias que eu fiquei te observando. Eu te observava muito e o tempo inteiro. Sentia a sua vida num automático que me incomodava de um jeito que não sei explicar... Sim, egoísta. Como poderia eu pensar que a vida de alguém mudaria por conta de mim? Não sei, mas era fato de que eu notava isso. 
A sua rotina era calculada, os tempos cronometrados e as rotas traçadas previamente pelo Google Maps (uma ferramenta que, cá entre nós, voce sabe usar muito bem). Mas o tempo ia passando, eu te sentia andar pelas ruas alheia as coisas, aos sentimentos, aos gostos, aos pequenos gestos e prazeres. Não pude evitar me sentir mal, o primeiro pensamento que passou logo depois daquele que eu gostava de voce, de fato, era que eu estava te colocando numa gaiola. Digo, uma gaiola, porque as grades não eram de aço maciço, mas de um arame finíssimo, fácil de entortar e sair. Você continuava lá, aquela sensação no meu peito crescia assustadoramente. E me devorava tanto quanto o que você me fazia sentir quando estávamos sozinhas. Milhões de fogos de artifícios, de diferentes cores, e com algum simetria. Milhões de fogos de artifícios de sensações, numa simples troca de olhares, num abraço de trinta segundos.
No meio de tudo, sempre eu, parada e estatica, de mãos atadas, sem ter o que fazer. Procurei por entre o seu corpo qualquer botão que pudesse desativar aquele piloto automático da vida que você estava vivendo, mas sua pele era macia... e eu fui aos poucos me perdendo por outro sentimento maior. Então eu procurava outra solução, fazer qualquer coisa que pudesse mudar a sua vida, qualquer coisa que te balançasse de vez. Qualquer coisa que pudesse ser grande o suficiente pra te tirar dessa coisa que eu sinto que você está há tanto tempo. E depois de muito tentar, e muito tentar, e muito tentar. Acho que já saquei que o seu lance é outro. Você tem alma de pássaro. Você não é como os outros pássaros que são livres e sempre prontos pra voar, você é daqueles que procura a gaiola mais confortável, com comida ao alcance e fica por lá. As vezes visita a gaiola vizinha e volta, e as vezes fica um pouco mais por outra, e as vezes se cansa de tudo e quer bater asas pra longe, mas desiste porque cansa, reconsidera, para, pensa. 
No fim, toda essa história, só ficaria na minha cabeça.






Bruna Ferrari

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Intimidade

"Oh and if there's any love in me,
Don't let it show.
oh and if there's any love in me,
Don't let it grow."

Essa tarde quando tentei te tirar da minha cabeça, foi muito mais em vão do que todas as outras noites. De novo, eu estava me sentindo sozinha, e ficava procurando algum canto pela minha cama que tivesse lembranças suas. Quando eu fiz o pedido sobre este presente, eu nunca soube que você poderia, de fato, me ouvir. Eu falei inocentemente toda a verdade, agora, talvez se não fosse por esse pedaço de coisa que está por perto, eu poderia estar bem mais perdida por aí.
As vezes fica complicado dizer que eu sinto ciumes do que voce pensa, e que todas as vezes que eu olho pra longe, eu sempre estou disfarçando pra não te olhar muito e voce me achar estranha. Voce estava do meu lado, desesperadamente procurava alguma coisa pra fazer bem. Nunca me senti sozinha do seu lado, mesmo considerando todas as situações em que eu ou voce eramos ausentes uma na vida da outra. Não sei bem se te conheço, e naquele momento, essa duvida se instaurou no meu coração tão repentinamente que eu não pude controlar. Desculpa admitir, mas eu senti medo. Medo de que me escapasse por entre os dedos, medo de que toda a segurança que eu sinto em voce fosse embora de repente. Medo, principalmente, de nao te conhecer como eu gostaria. 
Eu descobri com voce algo que é maior do que as coisas que aprendi na faculdade, maior do que o que aprendi batendo a cabeça pelos postes enquanto usava o celular, maior do que o que eu lia, e via na internet e  nos muros de são paulo. Talvez, tarde demais, eu entendi o que voce me dizia sobre estar ao meu lado, me convencendo que esse sentimento que faz parte das minhas férias, não era, e nunca foi solidão, se não tristeza. Sim... Estar ao lado não é estar por perto, mas é calar pra ouvir o outro falar. é não sentir a necessidade de estar por perto a todo tempo, mas sempre estar presente num bilhete, numa camisa, numa pulseira, num colar, num retalho, qualquer coisa que fosse. É passar dias e dias e dias e o abraço continuar apertado. Ou talvez não seja nada disso mesmo, e eu continue enganada.
Eu nunca quis ter voce, eu nunca senti por voce esse sentimento de ciumes dessesesperado que sufoca das pessoas. Eu nunca quis te botar um selo que dissesse que voce é minha, porque eu acho isso um puta egoísmo, e não me carece. Mas eu sei, é contraditório tudo o que eu estou dizendo desde o começo desse texto. E se voce estiver lendo, desculpa outra vez, mas eu te avisei que eu era assim... Emocionamente descontrolada. E juntando a lista de coisas que eu nunca quis em voce, estava essa coisa de te ter amarrada. Voce é livre, e eu não quero que deixe de ser. Mesmo eu adorando a ideia de te ter tão próxima, eu acredito que o que as pessoas tem de você é muito mais do que elas querem. 
Você deixa quem tem importância ter intimidade. Não aquela intimidade de saber um segredo constrangedor, mas aquela de saber a cor preferida, de saber o que come e o que não come, aquela de conseguir ouvir o outro, de não obrigar, de não impor, de reconhecer os erros ainda quando você arqueia a sobrancelha e revira os olhos pra mostrar o quão desapontada você está. Se a maioria das pessoas acredita que o coração da gente é uma casa, eu acho que o seu coração é um oceano inteiro, sempre tem espaço pra muita gente, mas só te conhece bem quem mergulha de cabeça. Uma casa é muito pequena.


Bruna Ferrari