segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Desesperadamente


Sempre foi simplesmente, e de verdade, era. Sei lá, tão simples. Tão simples. Só atravessar uma porta, gritar com o mundo, ou até mesmo tentar entender as pessoas. Argumentar, discutir, provar o certo e o errado e provar o que você acredita. Pra você mesmo, apenas. De alguma forma, eu não sabia no que eu havia me tornado, nem porque havia tantos problemas na minha cabeça. Eu não sabia do que mais eu gostava quando tomavam decisões pra mim. Como se fosse uma marionete, por toda a minha vida fui controlada por alguém-sei-lá-quem que disse que pra mim que era certo agir assim, e agradar as pessoas, me confortar com o que eu não gosto e engolir tudo o que eu não aguentava mais não dizer.
Eu queria só gritar a todo tempo pra me ouvir, desesperadamente, esperando que alguém me ouvisse e gritasse com aquelas pessoas também. Não era possível me mudar, e não seria. Elas apenas não entendem que eu estou aguentando tudo no meu limite pra respeitar um pouco mais, até me dizerem que eu sou mandona demais, que eu espero as coisas demais, que eu quero coisas de mais. E eu não querendo quase nada e aguentando quase tudo, porque no fim, era sempre assim, e eu sempre concordava em usar amarelo, em gostar de coisa tal. Eu era legal, mas esse tempo tá acabando, e até mesmo a minha arvore preferida pode notar isso. Que certas coisas não mudam, e o que tempo todo eu fico me enganando nessa brincadeira de enganar as pessoas com o meu sorriso. E só sorrir pra quem não tem motivo. E eu não teria mais motivos.
Nesse abrigo em que encontro, fecho os olhos e escrevo pra ver se passa a vontade de rasgar o que ver na frente. Mandar pra-aquele-lugar você sabe quem e parar de agir assim. Só parar, como se também não houvesse tempo, não houvesse decisões, não houvesse problema e como se o que eu gostava não afetasse ninguém. Nesse abrigo em que me encontro, quero morrer purificada, tomar qualquer forma e virar poema. Ir embora pra nunca mais voltar.
Bruna Ferrari

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Porque cedo ou tarde, ela vai estourar


às vezes a gente pode demorar pra entender que certas pessoas não são tão legais assim.

às vezes a gente se esquece que a famosa frase "eu vou mudar" pode ser a coisa mais absurda que voce já ouviu na vida.
às vezes a gente se esquece de fazer as coisas sem pedir nada em troca.
às vezes a gente demora pra entender que cada um é cada um, por mais que isso te irrite.
às vezes não cai a ficha de que o certo pra você pode ser o errado para o outro.
às vezes a gente acha que ama, mas na verdade se está acomodado.
às vezes a gente se esquece de que é impossível confiar 100% nas pessoas. everybody lies, lembra?
às vezes a gente culpa o outro por puo orgulho e demoramos pra finalmente entender que a culpa era nossa mesmo.
às vezes a gente exige perfeição alheia, mas aí nos lembramos das merdas que já fizemos 1, 2 ou 10 vezes.
às vezes a gente culpa os pais, mas quando menos se espera, estamos agindo iguais a eles.
às vezes a gente acorda cansaço, mas se lembra de que a vida é isso aí mesmo.
eu não acreditei quando me disseram que as coisas só iriam piorar depois que eu ficasse 'adulta'.
claro que eu sabia que elas iam ser diferentes, mas quando você chega ao ponto de escrever 'dormir' na sua agenda, é porque a coisa tá preta.


Camila Mazi


sábado, 24 de novembro de 2012

Suficiente


“Fecho os olhos e escrevo,
como se o mundo fosse acabar amanha
e eu não tivesse mais escolha.
“É por isso que nunca releio meus textos.”
(Bruna Ferrari)

De repente, eu tinha parado de perceber que a vida passava mais rápido do que o comum. Era assim, que talvez, eu tivesse decidido fazer as coisas diferentes. Acreditar mais, amar mais, querer mais, importar mais, ter mais amigos, mais tempo, mais vida e sem vida nenhuma. Eu era um abismo de qualidades que não me conhecia, as pessoas me paravam na rua para perguntar o meu nome, mas eu já era familiar a elas. Eu era imensa e me tornei tão pequena que as coisas andam me escapando pelos dedos. As oportunidades são enormes e eu sinto que, simplesmente, não vou aguentar tudo. Não quero perder, não quero mais a sensação de não ser o suficiente para mim e para os outros.
Assim, com certeza, eu teria mais alguns anos e pensasse menos em viver agora o que é certeza que vou viver depois. Mas não posso me controlar, não posso, de repente, parar de sentir a minha própria vida e viver à beira de um suicídio. Quero voltar às horas desse dia, voltar o ano se for possível apenas para fingir que sou forte o suficiente e que metades de algumas coisas não aconteceram. Eu não perderia o ano, eu perderia meu nome, e teria de volta a minha personalidade. Mas o que seria mesmo alguém sem um nome?
Bruna Ferrari

domingo, 4 de novembro de 2012

Não só, mas também.


Hoje, não só hoje, eu perco o sono por sua causa. Vejo nos meus olhos fechados, os seus olhos me encarrando aos poucos. Os seus olhos com um olhar fugitivo, os seus olhos de atenção incontentável. Hoje, e não só hoje, eu sinto a sensação do meu sangue entrando em ebulição. E não é pelo calor, eu sei. Chove lá fora, mas aqui dentro do meu quarto eu continuo suando como se fosse verão, e eu estivesse na praia. Eu só não dormia pela sensação de querer chorar que me vinha, e a noite não deixava. Eu fechava os olhos forte, e repetia poemas para dormir, então, seus olhos apareciam e eu continuava acordada.
Os olhos fortes brilhando com a luz do dia, ainda que no meu quarto fosse de noite. Porque eu sei, você também sentia que não parava de pensar em você e no tempo. Eu não parava de pensar em quanto tempo a mais conseguiria aguentar? Em quanto tempo levaria para passar aquela vontade de chorar?

Bruna Ferrari

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Tão Mágico na Garganta


Como você conseguiu com todo esse peso nas suas costas? Como você pode esconder o que você sentia e você percebia. Como? Eu preciso de um quarto da sua coragem ao menos, também preciso de alguém que atravesse o infinito. Preciso de outra alma, preciso de mais tempo e mais amor. Eu olho muito para os lados, eu passo noites acordada e pensando e isso não me leva a nada, porque aí, depois de tudo, eu escrevo. Eu escrevo, eu não aguento. Eu sou fraca demais. Tao fraca. Assim vendo o seu rosto, minhas pernas tremem e você nem sabem. O tempo passa. Meses, horas, minutos, horas...
Você se esconde, ri sozinho dança e canta. Mas é triste, você também não consegue dar um passo para frente, não sabe dizer nada quando é preciso. E então, eu me pergunto o tempo todo, todo o tempo: o que é que você tinha de tão magico que eu não paro de olhar? o seu jeito, a sua boca, o seu corpo, o seu cheiro, o seu... Tudo que tenho e mais um pouco. Agora, eu só sou um pouco mais cruel, menos eu, mais mulher por circunstancias da vida e todos os arrependimentos de ter tudo parado na garganta, na ponta da língua, são apenas todas as coisas que eu sinto a mais por você e que pra sempre vou tentar te esconder.

Bruna Ferrari

domingo, 7 de outubro de 2012

Sem Fim


       Eu sei que você pode me dizer que eu não conheço, e mal sei nome. E você terá razão. Mas o que eu teria a te dizer é um palpite em comum. Um sentimento que todos têm, vamos colocar dessa maneira.
       Eu sei que você já olhou pros pulsos e pensou em se cortar quando soube que aquele cara, que era O Cara, na verdade, gostava da loirinha de olhos verdes e nem sabia da existência. Ou quando você soube que aquela garota que você tanto amava, na verdade, vai deixar a cidade na semana que vem porque está gravida do seu melhor amigo. Eu também sei que você já passou pelo menos uma vez na sua vida, uma noite inteira acordado pensando em alguém apenas porque tinha recebido um sorriso e aquela pessoa era realmente especial. Eu sei que você já sentiu o coração apertar quando você tinha que dar um beijo de despedida, porque ele ou ela iria viajar no dia seguinte e só voltaria no próximo mês.
       Parece bizarro pensar nisso, mas englobo tudo como saudade. Um estado de espirito do ser humano em que ele tem o direito de tentar sofrer – sim, eu acredito que todo esse sofrimento seja opcional e só tenha um nome trocado por “saudade” – por alguém valha muito a pena por muitas razoes. Eu acho que tudo é saudade, tudo é farinha do mesmo saco. Se você tem vontade de se cortar é porque não quer sentir falta daqueles dias com a pessoa que você amava e agora não te quer mais, ou qualquer coisa parecida. E esse sentimento, eu até entendo, por mais maluco que possa ser. Mas é engraçado, e não me chamem de hipócrita ao dizer isso, sou sincero, apenas. É engraçado porque as pessoas fazem o que elas querem fazer, não o que elas têm que fazer.
       Por exemplo, se sua mãe te mandasse lavar a louça, ainda que obrigado você tivesse duas opções para escolher: ir ou não ir. Você ainda as teria não importa a situação (ao menos que… não. Esqueçam). E na vida também é assim, são as escolhas que fazem o seu dia-a-dia. Essa é a parte que não entendo do sofrimento, mas acho lindo. As pessoas chegam num ponto que ficam tão apaixonadas que escolhem sofrer pelas outras, mesmo inconscientemente – mas eu não acredito em sofrimento inconsciente, então ignorem o inconscientemente. Vamos deixar claro: essa é a minha opinião. Talvez você que leia o livro daqui há trinta anos tenha uma ideia diferente da minha. Provavelmente terá.
       Eu fiz toda essa introdução porque esse assunto ficou na minha cabeça o dia todo. Eu fiquei parada no meu quarto olhando paras paredes esperando, literalmente, alguma salvação divina pra me mostrar a resposta. Tudo parecia simples, mas… Eu não sabia por que eu não conseguia dormir sem sentir vontade te ligar e perguntar do seu dia, ouvir cada detalhe como se eu fizesse parte.  E eu também não sabia por que eu queria tanto fazer parte. De primeira, eu logo pensei que amasse a sua voz – eu amava – só que era um bocado a mais que isso. Você era observador, mas eu ainda tinha duvidas se você notava que eu saia de casa com a cor de camiseta que você mais gostava em mim, porque naquele dia… Nós nos veríamos e eu queria chamar a sua atenção. Eu também não sei se notava que eu reparava em você enquanto tentava dormir toda a aula, porque, raras às vezes – muito raríssimas – você conseguia terminar de copiar a matéria inteira da lousa (salvo as exatas, que você nunca copiava nada).
       Por um instante pensando nisso, eu tive medo de te falar muitas coisas. Eu pensei duas vezes em ter aquela conversa séria e te dizer: eu te amo. Eu já havia percebido, sabe. Você gostava de coisas que te impressionam, e eu não queria rosas, eu não queria cartões. Eu queria algo tão especial quanto você. Só para te mostrar que eu adorava quando você demorava tanto pra responder   e me ouvia quando eu te dava bronca. Era pra mim, de alguma forma. Era para mim inclusive o sorriso que deixava a sua boca irresistível. Você me dava bola, e eu ia entrando nessa de gostar de alguém. De gostar de alguém, de querer alguém, de querer fazer alguma coisa mudar a sua vida, qualquer coisa para te proteger tudo. Porque quando eu pensava em te perder, não existia mais mundo pra mim. Não existia família, não existia planos para o futuro, não existia faculdade, não existiam amigos. Não existia o seu irmão para te substituir, como todos me perguntavam se era possível.
       Há alguns que vão me chamar de dramática, ou de louca. Mas eu não ligo. Uns dias atrás eu conversei  com o seu irmão numa festa. Ele me contou que você não saia muito do quarto, porque jogavam a noite toda. E ele me dizia isso rindo tanto que me fazia lembrar o seu rosto com cara de ponto de interrogação para mim porque eu agia estranho, e você simplesmente era ruim demais em interpretação para aquilo. Foi então que eu percebi que até isso eu gostava. Até isso, eu queria para mim e estava disposta a enfrentar o mundo, ou as barreiras do português, para te ter. Mas eu só preciso arrumar um jeito de te dizer tudo o que estava parado aqui na minha garganta. Sabe aquele momento que eu olhei pra você na primeira vez? Eu já sabia, haviam dois de você, mas era você. Era você. Simples assim. Só era você.
       Eu continuei acordada e listando os motivos porque eu sentia tanto a sua falta e o que aquilo podia ser. Mas sinceramente, se não fosse amor, eu realmente nunca saberia se não tentasse. Pensei na maneira mais nossa que eu poderia te pedir: “olha, fica comigo para sempre. Eu adoro os seus olhos, eu adoro a sua voz e amo o jeito como você anda dizendo o que você pensa sobre um assunto. Seu cheiro fica no meu nariz e eu adoro. Eu te quero. E quero que sejamos algo como… mais que isso. Mais que amigos. Então…?”.
       Não passei daí, afinal, uma hora o sono vem e derruba a gente de um jeito. Deixei a lista de exercícios por fazer, até desliguei o computador mais cedo. Amanhã, seria um dia especial. Essa era a única que eu tinha decidido até então.

Bruna Ferrari

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Mas se for pra Falar de Amor...


“There's a room where the light won't find you
Holding hands while the walls come tumbling down
When they do I'll be right behind you”

Eu começo a olhar gente antiga. Gente que não faz mais parte, gente que não faz mais falta e parece tudo estar sempre fora do lugar. Todos namora, todos beija na boa, todos tem foto com vodka e ninguém ama ninguém. Aqueles que diziam amar eternamente, agora nem amigo no facebook são. Agora nem tira foto, nem reclama do resto ligando pra dar boa noite e um beijinho com segundas intenções. Ficou tudo no tanto faz, sempre foi mais fácil deixar pra lá, não insistir, não brigar, só parar de falar e ir embora. Desistir do outro como se fosse si mesmo. Mas isso tudo é muito estranho, e fica mais estranho ainda só de pensar que essa distancia existe. Dá medo, assusta, faz ter pesadelos. Eu fico pensando que quem eu não vivo sem agora, amanhã pode não olhar na minha cara. E isso terrível, dói demais.
A minha vida já estava um tanto completa, um tanto parada. Um bocado a mais pra lá e dois cá. Eu sei ouvir musica sem chorar, eu sei olhar pro seu e não ficar lembrando de nada e quer saber? A vida está bem melhor assim. Eu saio mais, eu tenho mais gente comigo, e não me sinto tão sozinha. Um dia – eu ainda me lembro daquele dia – me disseram que eu não teria muita coisa, mas aí, eu te digo o que eu tenho:  seis novos irmãos e um namorado. Pra você, que me disse que eu não teria nada, eu preciso reconhecer que foi muito fácil mudar de status, mas que foi difícil conseguir manter tudo. E dessas pessoas que eu ganhei ao longo da vida, eu só penso que não quero perder nunca.
Eu amo vocês porque, às vezes, a gente enfrenta o mundo junto e um pelo outro porque sabe que a recompensa é muito melhor.
Bruna Ferrari

domingo, 2 de setembro de 2012

Fantasmas




Você me dizia milhões de mentiras como se pudesse me enganar. Eu ria da sua cara por não me fazer mais de bobo. Eu não ia ouvir mais as suas histórias de sempre ficar com um e depois ser trocado, não era a minha obrigação, não era o que eu queria ouvir. Então eu te pus pra fora da minha casa, e fechei a porta na sua cara, porque achei que assim você não voltaria pra me atormentar com as mesmas histórias da semana passada. Mas você era como um fantasma que ia e vinha, nunca deixava o seu lugar. E o seu lugar, era a minha cama. O seu cheiro ainda não saia de lá e você não deixava aquele canto que tinha no criado-mudo, iluminado pela pouca luz do abajur, o retrato que tiramos quando fomos juntos pra Maranhão.
Tínhamos feito viagens, e muito mais que isso, planos. Só que você voltava toda a vez que saia pra me contar uma nova história de como precisava me deixar, e eu já sabia de cor e de longe todas as suas histórias. A sua imaginação era muito pobre até pra mentir, você era péssimo no que fazia. Ainda com todos os sinais insistiu em algo que não prestava. Então eu te colocava de volta pro lado de fora, e batia a porta na sua cara. Voltava pra qualquer lugar que não fosse a minha cama, cruzava os dedos esperando que dessa vez você fosse mesmo. Ou que ao menos, me voltasse com uma história diferente daquelas que eu já estava cansada de ouvir. No entanto, eu já não sentia mais esperança alguma. Pequena que fosse. Pra acreditar que você voltaria e me daria razão pra lutar não contra aquilo que eu estava sentindo, e correr pro teu abraço onde sempre foi o meu lugar.                  


*pequeno trecho do meu primeiro livro "Fantasmas na Casa, 2010", postado apenas porque é engraçado ler coisas que já não te fazem nenhum sentido.


domingo, 19 de agosto de 2012

Gêmeo


No meu quarto eu inundava. Garrafas de cerveja ficavam pelo chão e eu secava o restava da vodka. Sim, eu estava bêbada. Mas continuava andando de um lado pro outro e com todos os problemas na minha cabeça, eu não cabia num breve espaço de tempo. Naquela casa eu não perdia as forças. Podia pular no ombro dos outros e dar outros apelidos pra qualquer que fossem porque eu era a mais magra da turma. Eu era a única menina, a mais nova, a pérola da casa. Eles não podiam me jogar na piscina porque eu não tinha roupa, não podiam me mandar lavar louça porque eles eram a maioria, não podiam ganhar no domino porque meu namorado tinha me ensinado a contar. Eu sempre odiei números. Pra mim, números são erros e que, preciso reconhecer, eu sonho todos os dias com as pessoas se dando conta disso. Gritando com os exaticos e tirando matemática da vida.
Eles nem contar sabiam. Era aleatoriamente aquele aleatório que eu também odeio. Então eu ganhei no dominó, no can-can e no buraco. Ganhei porque tinha um namorado gêmeo – e só gente descolada namora gêmeo. Ganhei porque eu era a mais bonita até eu me olhar no espelho e me sentir um nojo,      querer voar pela janela e me jogar no lago. Bater no galo que não parava de cantar e começar a fazer tudo o que eu não faria porque eu tinha privilégios aquela noite. Mais linda, mais magra, mais bonita, mais inteligente. Eu ainda era demais pra aquela casa. Era demais pra aquele quarto, e tão pouco pra aquela semana que parecia não passar. Eu fiquei com medo de que talvez a gente tivesse perdido a graça. Que não fosse mais tão legal ter vontade de te chutar o seu irmão pra o ver rir ou de morder o seu ombro pra te marcar. Porque, sei lá, o mundo parecia um pouco mais triste quando você não olhava pra mim. Quando eu não tinha – toda – a sua atenção.
Eu estava – um pouco – bêbada. E continuava querendo você perto pra cuidar de mim. Olhar com aquela cara que você faz de quando eu faço alguma besteira e não percebo. Eu esconderia o meu rosto do seu ombro de novo, eu te abraçaria forte pra você não me ver chorar e voltaria àquela vontade enorme de chorar na sua frente e de te morder de novo. Acho que eu olho o sol pensando que poderia ser um novo dia em outra cidade, que nós iriamos fugir juntos e eu teríamos sorrisos e um café da manha feliz. Mas, infelizmente, você não veio. Você não viria. E eu acordei com o meu pai descendo a rua e suja de grama.

Bruna Ferrari

terça-feira, 24 de julho de 2012

Das Histórias que Eu não Precisei te Contar.


“O meu amor conhece cada gesto seu
Palavras que o seu olhar só diz pro meu
Se pra você a guerra está perdida
Olha que eu mudo os meus sonhos,
Pra ficar na sua vida!
(Ana Carolina)

Mesmo sem estar ao seu lado, eu pequei pensando nos olhos. Parecia estranho, mas não por você. Por mim. Era engraçada aquela história de alguns anos atrás você acreditar que era incapaz de amar alguém. Só era divertido pensar que eu superei que já passei dessa fase de achar que tudo é de verdade. Agora, tem um gosto peculiar ficar pensando em você por horas seguidas, fazer frases na cabeça – tão minhas – e não conseguir falar nada na sua frente. Eu não falava, porque eu gostava do seu jeito de me olhar. Aquele jeito que só a gente se olhava. Como se quisesse quiser alguma coisa, mas já havia dito tudo. Aquele jeito que parece que a vida nunca vai perder o encanto. Porque, às vezes, as pessoas ficam velhas e perdem a graça. Hoje, eu fiquei me perguntando o tempo todo se eu ficaria velha, perderia a graça e também te perderia. Mas, de alguma forma, eu te amo qualquer maneira. E gosto de pensar que a vida vai continuar sendo colorida, como se eu ainda ganhasse doce das pessoas e depois minha mãe brigasse por eu sujar a blusa de chocolate. Era difícil de acreditar, mas de fato, tinha passado e eu estava um pouco mais velha e não tinha perdido graça.
Parecia mais gostoso, parecia alguma coisa nova, parecia tão lindo como se alguém nunca tivesse me olhado. Como se eu nunca tivesse me machucado, como se eu nunca tivesse ouvido alguns elogios. Mas era tão gostoso, e tão lindo que eu não conseguia parar de querer sorrir. Na sua frente, na frente da minha família, na frente da sua. Pra mostrar que eu estava mais feliz do que costume, porque ainda não tinha me acostumado com o seu jeito de me olhar e não dizer nada. Eu sempre esperei que as pessoas me dissessem alguma coisa que mudasse a minha vida. Então veio você, e mudou a vida, e me olhou e não disse nada. Só era simplesmente incrível. Eu voltei pra casa, contei as estrelas durante o caminho. Porque a estrada era escura, era enorme e eu não tinha mais medo. De dormir sozinha, da noite, de você não estar mais pensando em mim.
Eu cresci de todos os jeitos, e o melhor jeito é aquele de quando eu estou com você.
Bruna Ferrari

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Supernova

"de algum jeito,
eu esqueci
de ler as estrelas,
desaprendi
e não podia dormir,
sem saber se ao longe,
piscando,
nós éramos um satélite desgarrado,
um planeta anão,
algum astro atrasado
queimando por conta própria
pra se fazer noite,
de dentro pro fora inteiro
e não brilhar mais
no meu céu.
Supernova de saudade."

sábado, 30 de junho de 2012

Garota


“Era como se eu pudesse mudar uma vida em meio ano, mas eu continuei sem acreditar em nada e você continuou dizendo pros seus amigos que eu te perdi.”

Como se eu pudesse esconder um pouco a saudade que eu sentia, escrevi um texto te falando sobre os seus olhos e sobre como eu sinto a sua falta. Dessa vez, você continuava mais longe do que de costume, não me olhava mais, ou seja, na verdade, você nunca me olhou. Você sempre vivia no intermédio da minha vida. Muitas vezes eu já cheguei a imaginar que você não existia. E não existia, de fato. Era tudo ilusão aquela história de vida que eu achava que você tinha. Uma menina, pais que não a entendem, uma irmã malvada e talvez outro meio-irmão largado. Eram mentiras aqueles pedaços de textos que você lia como se não fossem para você.
Assim, eu parei de escrever um pouco. Deixei de lado a pena e todas as suas fotos. Larguei da sua vida e não te procurei mais. Só você que ainda continuava indo e vindo dos meus pensamentos, mas me deixava dormir. Por você, eu não sentia nada, mas senti tudo quando eu te perdi. Agora, eu penso que talvez eu te amasse um pouco mais do que o autor dos meus textos preferidos na minha carteira, que não tinham nada de literário. Havia nos textos e o seu rosto, alguma outra coisa que me deixava querendo sempre e sempre de novo. Alguma coisa que eu simplesmente não podia deixar para trás.
Em uma noite, quando eu olhei de volta todo o tempo que eu tinha perdido, foi então que eu percebi que fazia sentido não lembrar mais do seu rosto. Fingir que não se lembrava do seu rosto, melhorar todo o meu aspecto de vida e voltar pros olhos castanhos e masculinos que, agora, me deixam sem sono. Os olhos que me fazem pensar duas vezes sobre a vida e sobre todas as coisas que eu havia te dito naquela noite quando você me disse que iria embora, que não aguentaria meus joguinhos, nem minhas mentiras, nem minha carência, muito menos os meus problemas psicológicos.
Mas é pra você que eu escrevo hoje. Porque hoje, eu sinto falta daquela amizade que me partiu o coração de uma forma que ele nunca pode voltar a ser o mesmo. Eu sinto a sua falta no meu dia e da sua voz no telefone. Eu ainda sinto falta, eu ainda lembro todas as noites, ainda me lembro dos riscos que eu corri pra ajudar a garota que eu sempre pensei que  fosse garota. A garota rejeitava. A garota estupida com a vida, a garota cheia de amigos e sem nada pra falar.
Eu acabei mudando a garota, a vida, e todos meus pensamentos. Mas o que é certo e sempre fica: eu não te esqueço. Eu não esqueço também o que você fez por mim. Era enorme e eu não pude suportar. Algumas dívidas não se pagam nem com o preço da morte, mas eu quero te dizer que eu te entendo ainda que eu não saiba como eu te entendo. Eu só te entendo em todas as partes do seu dia, em todos os seus escândalos, porque você foi forte. Muito mais forte do que eu.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Anjo


Eu havia me esquecido daquela vez em que meus amigos me diziam que era fácil ser feliz, e das piadas que eles faziam sobre como a vida era mais triste do meu lado por conta de todas as coisas que eu exagerava sentindo. Mas agora eu sou sincera, comigo e com quem quer estar comigo. Se não quiser, que caia fora. Agora, eu sou outra pessoa. Ainda totalmente exagerada nas sensações, mas que não vive nada menos do que a realidade. E essa realidade esta sendo mais incrível do que eu pensava. Eu me arrepio fácil, eu me prendo em coisas fúteis que me fazem sorrir muito mais. Sorrir tão muito mais que sempre que você está comigo eu me sento um pouco acanhada.
        Eu sei talvez eu devesse me entregar um pouco mais dessa vez e ouvir os meus amigos de verdade. Eu devia mudar o rumo da minha história, entrelaçar nossos caminhos de forma que nada mais os pudessem separar. O que não pensaram ainda é que todos os meus amigos conhecem o meu coração. Todos os seus amigos conhecem o seu, ou ainda não, acho que nem mesmo a sua família sabe desvendar o que está por trás de alguns dos seus olhares que não são de desconfiança, não são de admiração, não são comuns. É um tipo que eu ainda não aprendi a lidar, é daquele tipo que vai me prender a vida toda no mistério de tentar descobrir o que há por de trás daqueles olhos castanhos. Eu ainda não sei o que é certo dizer por que eu não me esqueço de uma ferida aberta há não muito tempo atrás. É ela que me condena, que me trás de volta, e até que me faz te dar mais valor do que nas outras vezes que outros apareceram. Antes de você, eu não era nada. Ou era. Sim, eu era. Eu era metades de histórias tristes, eu era toda de outras histórias de gente que eu não conhecia, eu não tocava. E só agora, eu entendo o significado da respiração de alguém além de apenas para a sobrevivência, da importância de tocar alguém, de um sorriso, de um bom dia, da saudade, da vida.
        Há cores diferentes por todas as minhas estradas, há dias que são confusos, mas e aí, eu ouço a sua voz, eu te beijo e vejo o seu rosto e é como se nada mais existisse entre nós dois. Eu sinto a sua respiração, e fico deitada em você sempre que eu posso, porque o destino, na maioria das vezes, é muito travesso com o ser humano. Permite que você chegue num abismo e quase pule para depois te mandar outras tantas dadivas na vida que te faram ser feliz muito mais do que as outras vezes que você já foi.
Bruna Ferrari

terça-feira, 12 de junho de 2012

Inquieto-mundo Sujismundo


“Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
(Carlos Drummond de Andrade)

Era um mundo sem flores, sem amores. Era um mundo sem cor. Era um mundo sujismundo, sem vida, sem primaveras. Era um mundo sem sentido, aquele em que eu vivia há quatro meses. Naquele mundo que eu não entendia e de repente deixei para trás, num pedaço qualquer de lugar quando eu encontrei você, e o meu mundo passou a ser diferente; outro. O meu mundo foi mais mundo, foi mais meu e seu. Agora, só fazia sentido todas aquelas profecias que me diziam quando eu chorava por ser tão sozinha e não entender o que a solidão me fazia. Agora, era o meu mundo reconstruindo os pedados nos seus olhares, deixando marcas pelo seu ombro porque o meu mundo e eu não sabíamos mais nos controlar.
Eu deixava de lado alguns outros poemas, parava de ler poesias pra me afogar no travesseiro e ter uma noite. E ter, finalmente, uma noite; já que faziam tantas noites que eu não parava de ver o amanhecer no céu e contar as horas para outra noite chegar de pressa. Tantos dias, e eu me senti perdida. Perdida no meu mundo, sem primavera, sem flores, sem amores. E então você veio, e o meu mundo inquieto passou a ser outro. Uma guerra de beijos e abraços, duas mordidas no seu pescoço e tantas outras no seu braço que agora é o que me fazem ficar acordada por mais algumas horas. Eu desejo não mais as noites, nem manhãs; eu desejo mais algumas tardes eternas, dobrar a duração das horas do seu lado e poder te dar toda a minha coleção de amores para você não me deixar no meio do caminho ou aonde quer que seja.


Bruna Ferrari

domingo, 27 de maio de 2012

Literatura dos Sonhos da Pequena Menina.


Ninguém sabia por que aquela menina chorava tanto, mas todos que lhe olhavam subjugavam como algum problema amoroso, alguma dor de um machucado da véspera, alguma cólica. Todos olhavam, todos achavam a mesma coisa e todos mal sabiam que, aquela pequena menina vivia no mundo dos sonhos. Ela chorava porque havia crescido e não poderia voltar mais lá, nem se esconder de baixo da cama quando os adultos começavam a gritar com ela. O problema era que ela encontrou nos livros outro refugio, uma saída para outro mundo que ia muito além das palavras e das páginas, vinha encher-lhe os olhos de lágrimas, fazer rir ou chorar, se sentir muito bem por um final feliz. Era tão bom que exaltava de felicidade, ela queria pular o tempo todo depois de uma história bem escrita do século passado. Era a Literatura que ela não podia deixar de lado, mas todas as pessoas te empunham um novo caminho. Seus pais sonhavam com alguém diferente dela, e era por isso que ela chorava. As lágrimas eram de desespero de carinho, amor e afeto, e também alguém para parar de dizer a todos aqueles sonhos que já não cabiam no coração de tão imensos e compridos.
A menina chorava por não ter ninguém a te dar a mão. Chorava o tempo todo por todas as pessoas rindo dos seus sonhos e colocando o capitalismo e independência contra as suas argumentações. Mas sonhos, são sonhos. E ela sabia que ninguém como o final de uma história escrita no século dezoito podia mudar a sua vida, como fazia o seu dia ficar melhor depois de algumas páginas lidas. A menina entendia o porquê de toda a aquela raiva do mundo, poderia até ser que houvesse algum motivo que explicasse, mas não queria ouvir, era muito pouco para justificar outro caminho que não fosse o dos seus sonhos.

Bruna Ferrari

domingo, 20 de maio de 2012

Seus Dedos e Seus Olhos


Eu queria que a vida parasse mais dois segundos, porque eu ainda tinha os dedos na minha pele e pelo resto do corpo. As mãos geladas, os dedos frios, o corpo quente de todas as manhas de quadro blusas, de todas as tardes sem nenhuma, de todos os jeitos por entre os meus braços. Eu te queria assim, um pouco mais de perto e mais intenso, um pouco mais meu e menos deles. Todas as noites eu voltava para o começo da história e cheirava o meu uniforme ainda com o seu cheiro, mordia meus pulsos e procurava os seus dedos dentro da minha camisa, mas eu não encontrava nada; eu não encontraria. Você já estava do outro lado da cidade, e eu aqui querendo um pouco mais de você.  Só que eu sentia mais medo de você do que eu sentia do frio, ou do escuro. Então eu me encolhia em um canto e esperava você olhar para mim e sorrir como se fosse um sinal para eu chegar mais perto. Um aviso prévio que você estava precisando de mim, de que não havia ninguém olhando e de que eu podia te abraçar. Um dia desses, eu senti mais frio o que normal, eu não conseguia entender o jeito que você se afastava de mim, eu não entendi porque estava tão frio e tão escuro. Você não olhava pra mim, você não me dava o sinal que eu esperava. Eu esperei até o dia amanhecer, e ele amanheceu como das outras vezes, mas dessa vez, você era mais deles e menos meu.

Bruna Ferrari

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Fala...


Só de falar, deu vontade de ouvir
aquela respiração que eu sentia toda a noite
e suas palavras me pedindo pra ficar.
Eu indo embora e você indo se perder
nos braços, nos beijos, de outro alguém
que eu também não sabia como entender. 


Mas eu me encontrava na lua
e no meio das cobertas com o seu cheiro
que não saia da minha cabeça,porque eu também gritava o seu nome
do outro lado da cidade
e falava o tempo inteiro
que eu te queria em presente continuo
em passados desconjugado
em futuro idealizado.




Bruna Ferrari

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Três Anos de Realidade


           A única coisa que eu tinha certeza era que eu gostava dela pelo o que ela era. Até mesmo os defeitos, o que fazia o meu amor ser maior do que os demais namorados que ela poderia ter, ou que já teve. Não, eu não sou ninguém especial o suficiente pra dizer que estar comigo vai fazer alguma diferença, porque não vai. Foi a ser realista que eu aprendi durante todo o nosso tempo juntos. Nós discutimos de monte, e não posso dizer que era de todo ruim. Era necessário, é tudo o que posso dizer. Isso me mantinha um pouco mais ligada em nós, de fato, a sensação de não estar namorando uma parede – desta vez – me agradava mais do que pensar nos problemas que poderiam surgir depois de uma não tão agradável discussão. Ela era orgulhosa ao extremo, mesmo quando eu estava certa, esperava as minhas ligações pedindo desculpas e depois das minhas se redimia com as suas e milhares de perdoes sinceros. Eu sentia orgasmos múltiplos, e me jogava num prazer novo que me enchia o peito de outra coisa. Talvez porque fosse diferente dessa vez, era mais que amor. Um amor que o mundo ainda estava por conhecer, mas que vinha crescendo... Ela não me ligava, era racional e realista, às vezes, um pouco cruel. Mas ela não me ligava pra me fazer me sentir melhor, e não ligaria. Agora eu vejo, e agradeço pelas noites que passei na angustia desesperada de saber se estaria bem ou não, porque sinto que me fiz, mas independente nas coisas que realmente quero. Muito mais seletiva. E essa sensação, é melhor do sentir todo o universo de lindas emoções alheias pelo corpo, é melhor até mesmo, do que estar amando.


Bruna Ferrari

domingo, 22 de abril de 2012

Os Seus Olhos

Eu me lembro do dia em que eu esperava a semana toda pelo final de semana. Agora, eu me lembro de todo o final de semana que eu não aguento mais esperar para chegar segunda. Eu me lembro, um pouco da sua voz e toda a hora do seu rosto, e de todas as suas coisas, e do seu cheiro ainda na minha roupa. Eu me lembro das minhas mãos e do meu corpo, e do mesmo lugar de todas as manhas. Nubladas, com chuva, com sol. E todas aquelas pessoas do outro lado do meu lado, e eu só vendo você desviando o olhar, olhando para janela e de volta para outro lugar que não fosse à minha direção. Eu entendi todos os segredos do mundo, até mesmo a Matemática da minha vida, a Química da Física que eu sempre tive dificuldade com os cálculos. Eu não entendi os seus olhos, nem todas as vezes que você me abraçava de um jeito a me pedir mais carinho. Eu não entendia as suas mãos perdidas pela minha cintura, muito menos como você deixa o seu rosto próximo, mas não me beijava. Eu não entendi o seu sorriso sem hora e sem graça, mas eu adorava tanto. Adorava todos os dias, e todas as tardes e todas as suas coisas que eu descobri aos poucos e com medo de deixar pra trás aquilo tudo o que eu tinha vivido. A queda enorme, todas as brigas. Tudo. Que não fazia tanta diferença quando eu estava do lado. Não fazia diferença eu te entender ou não. Eu só não sabia o que estava sentindo, e sinto não saberei assim tão pressa. Enquanto isso eu fecho os olhos e espero toda a chuva passar abraçando você – escondida nos quatro cantos, envolvida por sei lá que sentimento. Eu só vivo o nosso momento intensamente sem deixar nada pra depois.

Bruna Ferrari

quinta-feira, 22 de março de 2012

Chuvas de Março

Eu deixei de viver no que dia decidi parar de pensar em você. A única coisa que me fazia olhar para o lado na escuridão, e fazer brilhar uma luz no meio do nada sem sentido. Continuo a beira-mar das minhas emoções, espero pelos dias que não viram; dias que se passam ao seu lado, mas que não reconheço como seus olhos - tão longes. Era possível acreditar numa história se houvesse uma. Mas não há. Não há história, não há outro amor, não há outros olhos que não os seus para me consolar nas noites de chuvas de março. De Janeiro a Dezembro. Nenhuma coisa nova para me fazer piscar os olhos de tanta luz do outro lado de lugar nenhum. Contos de fadas inacabáveis, e sem um fim. Parem de me procurar pelos cantos de todos os anos. Parem de me atormentar por todas as noites. Esqueçam-me. Procure outra razão de existência, porque há anos eu escrevi sobre o meu amor por esses olhos castanhos que já não me conhecem mais na rua. Ignoram-me, aniquilam-me, matam-me. Com uma vontade enorme, não me fazem dormir também. Não me deixam em qualquer lugar. Só que eu parei de pensar em você, como parei de pensar em tentar resolver os problemas do mundo e da minha vida. Eu parei para beber um pouco da agua que cai de lá do céu, sentir o gosto amargo que faz parte do meu corpo apenas porque tenho mais alguns anos do que quando você me conheceu. Quero admitir, não conheço mais o anjo que me dava boa noite todas as noites. Eu não o conheço. Eu não quero mais seus olhos. Eu não quero o que você tem para me dar – você nunca teve nada para me dar, só que eu sempre que quis de você mais que o mundo.
Esquece, apaga, renegas teu amor por mim. Só me deixe dormir por um instante, eu sei que você é capaz de tirar todos os pesadelos que eu tenho a noite. Minhas ideias são confusas, e minhas redações são piores do que desistir do meu sonho de tantos anos de literatura. É pior do que acordar todos as madrugadas, olhar para escuridão e não ver aquele brilho que vinha de algum lugar. Agora, eu sei. O que devo fazer é mais do que você tem para me dar, eu nunca vou poder contar com você de noite. De novo, nem com seu par de olhos me observando enquanto como, durmo, e estudo. Jogar-te-ei algumas estrelas daqui mesmo, e um pouco da agua que eu não conseguir beber enquanto chove. Porque é Março, porque vem mais chuva por aí e você não continua tão lindo como sempre.
Bruna Ferrari

quinta-feira, 8 de março de 2012

Pra-sempres que Sempre Acabam

Hoje eu achei que havia te esquecido, que seu rosto já não viria bagunçar a minha cabeça. As minhas lágrimas já se acostumavam a secar de pressa sempre que eu caia no chão, desesperada gritando o seu nome sem saber o que sentir. Mas sempre e de novo, eu voltava naquela história com o seu nome de alguns anos atrás. Voltava no capitulo que eu mais gostava, repassavam na minha cabeça as mesmas palavras sempre me perguntando onde estava todo aquele amor que nos tínhamos, onde estariam agora os para-sempres prometidos? Ainda que eu não voltasse no tempo e parasse de repassar os erros, o nosso destino é este, e é tão certo que eu não te teria agora se fizesse tudo certo. Eu não te teria para sempre. A lua continuaria ficando um pouco mais triste toda a vez que eu choro. Por vezes, eu sinto como se estivesse morrendo por dentro; quase sempre eu tenho a certeza de que estou, de fato, até perceber que eu não posso me mudar, eu não posso voltar atrás, eu não conseguiria fazer diferente com mil chances, mas que o caminho é longo demais. Sempre tem mais alguma coisa por acontecer que iria te tirar de mim – outra vez.
Desse jeito, sem poder me mudar. Conformada com a realidade do mundo e com o frio que não passa lá fora, eu me apego a partes vizinhas, a sentimentos semelhantes que me façam esquecer você, a realidades quase verdadeiras da coleção de não-amores que eu tenho de monte. Procuro em outros olhos, os castanhos dos seus, sem perceber o que eu estava realmente procurando era que você estivesse em outros corpos para estar do meu lado. Eu me apegaria a imagens refletidas no espelho, irreais. Assim como toda a minha vida, num conto de fadas, eu jamais haveria de te perder. Eu jamais te magoaria, e no final do dia, o encanto não passaria, eu te teria todas as noites na minha e comigo para me falar sobre a vida. Para me ter uma noite, as próximas e para sempre.

Bruna Ferrari

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Em Menos de 24 horas

Eu continuava de longe. Sempre de longe e sempre querendo te encontrar, sem ao menos saber o que falar. A vontade explodindo no peito, escorrendo pelos olhos e me fazendo perceber que eu sentia a sua falta, e eu sentia tanto. Mesmo com a multidão de gente do meu lado, eu olhava pros lados procurando o seu rosto que me fazia tanta falta, e que eu queria tanto deixar um pouco mais próximo de mim. Um pouco qualquer que fosse me deixava um pouco mais feliz, ainda que fosse um pouco, seria sua. Sua, mais perto, mais minha, mais nós, menos ele. Só que eu olhava seu rosto nas fotos, por um tempo e de novo, e mais uma vez e mais uma e mais uma, até a noite acabar me fazendo me sentir de novo mais sozinho do que quando eu estou realmente sozinho, me fazia lembrar que você estava em outra cidade, nem se lembrava de mim quando estava sozinha porque sempre estava com ele.
Eu sentia a sua falta e sentia a falta daqueles seus olhos que eu nunca vi. Do seu abraço que eu nunca recebi, do seu cheiro que eu nunca senti, do seu sorriso que eu nunca vi. De você, que eu não sabia de verdade quem era, ou como eram os gestos, mas eu guardava com carinho na minha cabeça, a sua voz e aquele dia que nunca vou tirar do meu coração. Todas as coisas confusas, todas as suas palavras sinceras, e até a sua falta de desatenção, me prendem de tal maneira que as vezes eu sinto que não sou capaz de respirar profundamente por muito tempo. Eu não sou capaz de escrever a caneta mais um texto bonito para você, eu não sou capaz de continuar capítulos, nem de sorrir com a minha melhor veterana. Você continuava na minha cabeça e eu não sabia muito bem o que fazer com isso, não sabia o que fazer com a outra história que eu já tinha começado, mas que já não fazia tanto sentido como eu e você. E nem todas as histórias mais bem escritas do mundo poderiam fazer mais sentido do que eu e você; eu e você e todas as nossas vírgulas desconhecidas, todos os parágrafos aleatórios que você colocava entre a gente sem perceber; não me deixava estar mais perto, não me deixava estar mais longe. Eu continuava a mercê das suas vontades e escravo das suas qualidades. Eu continuava longe. De você, e do mundo, dos amigos e do espaço. Faltava você no meu mundo e para mim, isso era morrer gradativamente mais rápido, doía mais do que ser queimado, do que ser assinado ou se jogar de um penhasco.
Você tirou a minha sanidade, me fez teu amigo e depois foi embora. Você mudou meu jeito, agiu diferente e depois foi embora. Você veio e abriu as portas do meu coração com a sua voz, com o seu sotaque e todas as suas coleções de nãos que eu tinha de monte e repetido, depois foi embora dizendo que eu não sou teu. Que eu nunca serei, e que não existe espaço para mim nesse pedaço do seu coração que você chama de amor. Não há e nunca haverá. Simplesmente não acontece de eu conseguir ver os seus olhos ou te conhecer um dia. Foi um dia que eu ouvi a sua voz, seria um dia que eu te teria nos meus braços como se fosse para sempre, para agarrar para nunca mais soltar...

*você ver que não é a única que se perde

Bruna Ferrari

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Natal Passado

O efeito da bebida já passa, as luzes se apagam, o Natal se foi. Simplesmente desapareceu da minha alma, quando eu descobri estar doente, como fumaça. Desde que larguei esse vicio, desde que fazem alguns meses amanhã e depois de amanhã, que já não uso outro nome. Eu perdi os amigos, perdi os amantes, perdi a família, e perdi mais ainda: tudo o que eu poderia ter. Passei o Natal bêbada, reconquistei meu pai, virei mulher. Mas mesmo assim, eu fui até a árvore e revirei os presentes procurando aquele que teria o teu nome. Como se ainda houvesse algo de especial entre nós duas, como se os seus olhos ainda se importassem com alguma coisa. Então eu volto, eu escrevo pra chamar a sua atenção, eu dou um escândalo. Assim que os sinos tocam, eu ouço a sua voz, e o seu “Feliz Natal” ecoa pela minha cabeça, mesmo sabendo que eu só sabia sobre o Natal dele - que já nem mais me importava tanto como você. E mal havia perguntado pelo seu. Talvez você nem considere comemorar, talvez até esteja bêbada como eu, talvez, esteja na cama com outra pessoa. O que sempre dá para fazer é voltar no tempo momentaneamente na cabeça, junto com aquela doença que eu descobri há quatro anos, e fazer dias melhores. Dessa vez, eu chorei ao conseguir todas as minhas coisas de volta e ter que apagar todas as suas fotos, o seu numero, me esquecer do seu rosto para não voltar a cometer o mesmo erro que cometi há anos quando eu escrevia sobre como ele era o amor da minha vida e como eu era sozinha. Ainda que perdida na escuridão da eterna dúvida, eu ainda sinto sobre este Ano algo próximo à esperança crescendo dentro de mim, então seguro firme o telefone na direita e a garrava de tequila na esquerda. Dou meios sorrisos amarelos que se espalham pela sala como se tudo fosse relativamente verdadeiro, mas até seria, se esse não fosse o 4º Natal que eu perco alguém, se esse não fosse o 4º Natal que eu continuo passando do mesmo jeito, como se esse não fosse o 4º Natal que eu choro por alguém. Como se não fosse nada disso, e como se nada tivesse acontecido e você estivesse aqui, eu ainda voltei para perto da árvore e procurei o embrulho que pudesse ter o seu corpo e todo seu amor junto, mas nenhum deles, de fato, era grande o suficiente. Ninguém tinha me amado como você me amou.
Agora, às 5 da amanhã, tudo se vai embora. Ate mesmo aquele sentimento mínimo que eu sentia de talvez, alguma hora do seu dia, você se lembrar de ligar pra me desejar “Feliz Natal” porque achava que eu merecia, não por mim, mas por ser Natal. Eis o Grande Erro dos homossexuais: a muita pouca religiosidade. Eu entendi que você ignorou o nascimento de cristo para dar atenção a outras risadas da garota de cabelos negros-metade-loiro, da outra que se dopava com lápis de olho, da indecisa bissexual e das tantas outras que eu nunca fiz questão de decorar nome nenhum.  Eram os efeitos do ciúme que, mesmo ligados ao Natal, eu nem conseguia mais dar bola. Talvez chegue um momento na vida que nós simplesmente desistimos do mundo, de nós e de tudo, e é então que aparece um anjo para te fazer acreditar tudo outra vez. Neste 4º Natal sozinha, chorando, eu vou desejar algo diferente além de um futuro solteiro. Eu vou desejar pro meu anjo outras coisas além do meu ódio. Eu vou desejar outro anjo, e fazer outra promessa para saber que dali alguns dias eu vou voltar a gritar o seu nome pra qualquer pessoa que me apareça na rua e que use aquela mesma calça, aquela mesma cor de camisa azul-sei-lá-o-que que você vestia que cante as mesmas músicas, que continue acordada comigo de madrugada e me lembre, de cinco em cinco minutos de como nunca sentiu nada igual por ninguém. Eu ainda vou te olhar, eu ainda vou sentir, e você ainda vai saber por que bem no fundo dos meus olhos ainda está a verdade que só você sabe ler; aquela verdade que só você pode aguentar. Eu ainda vou correr atrás de você mais alguns anos, eu ainda vou lembrar-me de você por entre alguns outros relacionamentos. Nada vai compensar. Ainda assim, quando tudo estiver acabado, você vai me encontrar na universidade, ou sei lá o que e vai se lembrar desse par de olhos castanhos e desde rosto, ainda que com tantos nomes, te fez sofrer, te fez sorrir,  te fez crescer.

Bruna Ferrari

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Máscara da Literata-Poeta

   Não Nasci para ser outra coisa, e dentro de mim sou todas coisas. As perdidas e amadas, as bonitas e amassadas que já nem sei pra que tipo de coisa eu nasci. Nasci porque tinha de nascer, nasci para ser outra coisa e além do que uma simples literata-poeta grudada na insônia das noites solitárias e dos dias sem vida. Nasci porque tinha de nascer, nasci porque tinha que sentir dentro de mim todas as pessoas do mundo e agora eu já não sei qual delas é que me levou. Foi a morena da rua de baixo ou o loiro do interior? Tudo isso de pouco me importo, o meu passado é uma mascara. Tirei a mascara, e ela tentou me voltar na cara para grudar em todo o meu corpo como mel. Tirei-a outra vez e me perdi já não a reconhecendo, talvez toda ela seja quem sou. Abri meu coração e vasculhei pedaços de passado onde eu não a tinha e não havia nem eu.
    Além de sentimentos eu não era nada, além de promessas eu não poderia ser um só. Eu tenho em mim todas as coisas do mundo e um desejo ainda maior de ser uma só. Larguei a máscara uma ultima vez, mas ela era toda a minha companhia. Assim, sentindo um vazio por dentro e vendo o espaço do lado de fora. Eu olhei para lado tentando te procurar, pra poder te dizer que eu havia me encontrado. Mas você já não estava mais lá, estava longe demais. E mais longe enquanto o tempo passava. Eu não te achei e me perdi, senti que nem meus versos podiam me consolar. Eu tentei te procurar de volta, mas a minha mascara já tinha caído. Eu só nasci com ela e agora eu não sabia o que eu tinha de novo pra te dar, eu não sabia um jeito novo de tentar. O tempo passou e eram sempre as mesmas coisas, a minha mascara se foi e não me reconheço , há em mim um pedaço de vontade que não me deixa não te querer, e que me faz tentar dias e noites pra ter algo que talvez possa ser de nós dois. E haverá as horas, ainda haverá o tempo preso em nós e amortecido por um querer de ambos que tenta dar distancia só pra estar mais perto.
   Logo éramos dois e não havia mais nada, e agora nem o tempo mais existia, não havia as horas.  E não havia mais distancia só havia nossos sentimentos que não serviam para mais nada, mas me consolavam e tiravam o meu sono. Deixavam-me acordado sempre pensando em você e uma nova maneira de ser algo novo que você possa, talvez, dessa vez, querer pra sempre. Querer tanto pra não ter mais jeito de dizer não, querer tanto pra você ficar loucamente perdido nos meus beijos e não voltar pra sua cidade com um monte de promessas quebradas e um coração partido que você se agarrava tanto. Eu não ajudava e continuava pensando no que restava além de ser uma literata-poeta, uma literata-quase-poeta, só pra mergulhar nos sonhos dos meus textos-poesias que eram pra você. Já que eu não podia mais te ter.

Bruna Ferrari

sábado, 28 de janeiro de 2012

Soneto do Amor Perdido

Eu tentei inventar o amor
Enganando os mistérios da paixão,
E de repente um medo súbito me veio
E eu continuei no chão
                                    
Eu acreditei em finais felizes,
eu tentei esquecer alguém outra vez
enfrentei outras crises
para acabar amando ninguém.

Ainda hoje eu procuro uma razão
Nas coisas que eu não acredito
para voltar com você nas minhas mãos.

Mas eu entendo sobre os mistérios
Que não me deixam em paz,
E sei que amor eu sentirei jamais.

Bruna Ferrari