segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Dois extremos de Dois anos

"Ai você simplesmente respira fundo porque sabe que se cair uma lágrima, não vai conseguir mais parar de chorar."

(As vantagens de ser invisível)




Estou em crise, estou em duvida. É muito estranhamente alheia todas as sensações que esse termino me causa. É muito incomodo e doloroso viver com as recordações que construímos em tanto tempo juntas. Lembranças são um saco. 
As minhas bandas preferidas tem musicas sobre a gente, ou era eu sempre associava uma musica boa a alguém que era bom pra mim, você. Que merda, agora eu ouço todas as mesmas músicas e as lembranças boas me enchem muito. Meus amigos me disseram que esse tipo de sensação não é magoa, nem angustia, nem sofrimento, mas saudades. Saudades, essa palavra tão conhecida pela boca da galera que já se deu mal algum dia, ou que o rio da vida mudou de curso e precisou largar tudo. Tá aí... Saudades, uma das minhas palavras preferidas. 
Com você, eu tinha saudades. E hoje, eu tenho essa sensação bizarra que parece saudades, mas não é. Acho que são lembranças comprimidas prontas pra explodir no meu peito. Eu acho que vou entrar em combustão com tanta coisa na minha cabeça desse jeito, tanta minhoca, tanta vontade. Eu odeio lembranças.
Eu odeio lembranças, porque eu me lembro que neste momento, você deve estar naqueles seus roles latinos que eu ria com você dançando, e nos quais comíamos pratos que eu nunca sabia o nome. Nesses roles em que ventava muito, e essa era a maior desculpa que eu usava pra chegar mais perto de você. Hoje, eu sei que você está num desses roles, que eu dispensei (mesmo adorando comida de lá) pelas lembranças.
Ainda não sei como me preparar emocionalmente pra voltar aos lugares que fomos, que tive tantas primeiras vezes com você. Também não faço a menor ideia de como andar pelos corredores da faculdade e não ter tantas duvidas. Não faço a menor ideia de como ouvir minhas bandas preferidas, e não repassar cada momento na minha cabeça, mas tudo bem, porque eu também não faço a menor de ideia de como levantar da cama sabendo que não quis isso. Nem o termino, nem as saudades, nem as lembranças que ficaram desse destroço que esta meu coração.
Eu fui a guerra por você, e nunca voltei de lá.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

De volta ao morro

Enquanto eu colava cartazes e militava pela nossa causa, voce bebia cerveja no bar com os amigos todas as sextas. Fechava com aqueles que te davam as costas nas noites em que precisou chorar de tanta pressão. A minha vida fez "bum" e te encontrei. Meu dedos estavam frios, ventava muito. Ainda consigo me lembrar como se fosse hoje... A gente se esbarrou e trocou olhares, eu nem fiquei na duvida de que ce era certa pra mim. 
Outra vez, eu fumava distraído e você passou arrancando olhares. Era como se todos os holofotes estivesse ligados te iluminando na minha frente. Que bizarra foi essa sensação, cara. Eu ainda me lembro como se fosse hoje... Cê apareceu e me ofereceu um abraço. Acho que talvez não tinha dinheiro no bolso, então utilizou da sua mais poderosa cartada.
Logo eu, duro como uma pedra, passando frio e continuando a minha luta diária, tinha parado alguns momentos pra te entender. Metade do que dizia não era verdade, eu era um analista do discurso alheio e cada brecha, encontrei uma insegurança. Normalmente sempre aviso as pessoas pra tomarem cuidado comigo, sou vivido. Quase fui preso duas vezes, sou cabra da peste.
E quando te entendi, que decepção. Cê num tem nada no coração do que diz ter, o sistema solar gira em torno da sua própria bunda e só. Eu estou aqui rindo de você achando que me engana, achando que eu acredito, achando que eu não vejo tuas brechas, achando que seus defeitos estão bem escondidos. Cê faz tanta merda que se caga toda...
Moça bonita, se estiver lendo isso aqui vão o que a minha flauta queria dizer por mim: sei que a gente tá bem, mas escuta só, eu sou malandro, entende? E você não fecha com meu povo. Subo o morro todos os dias pra chegar em casa, meus amigos são mortos, não posso ficar no bar fazendo o social sem ter esse peso na consciência. Luto todos os dias, ou minha vida vira luto.
Cê é moça da cidade, e nessa idade já tem apartamento e vida quase pronta. Tá difícil pra todo o brasileiro, mas prá gente aqui, tá em dobro. Não consigo terminar meus estudos. Tua cota comigo já passou, e ainda bem que eu arrombei as portas dessa universidade que se tranca pra mim.

domingo, 10 de abril de 2016

Rio-São Paulo

"e tanto, tanto que te quero" 


Estou confusa, meu amor! Estou confusa! 
Essa conexão Rio-São Paulo enche minha cabeça de dúvidas.
Lembro-me dos dias de primavera daqui
sem esquecer como seus olhos brilham mais por ai.

Sinto por ser essa egoísta...
Quem dera eu superar todas essas milhas,
superar tudo,
conseguir viver nossa vida.
Mas eu, de coração amargo, e rabugento,
fico aqui cheia de minhocas por dentro
a te esperar mais uma vez todos dos dias.

quarta-feira, 9 de março de 2016

Chora, moça

"How many times do I have to tell you
Even when you’re crying you’re beautiful too
The world is beating you down, I’m around through every mood
You’re my downfall, you’re my muse
My worst distraction, my rhythm and blues
I can’t stop singing, it’s ringing, in my head for you"


Calma, moça. Sei que teus dedos tremem e que as teclas parecem pequenas, mas toda essa mare de sentimentos vai passar. Cada nota vai ter seu tempo certo, e você não vai mais esbarrar nos sustenidos. Sei que é difícil acreditar no que eu to dizendo agora, eu garanto que as coisas possuem um lugar pra estar e teu lugar é ai. Não sai daí, é aí que é teu lugar, e você sabe disso. Não abandona o que lutou por pouca coisa e não desiste agora.
Tenta não desistir, a curva de aprendizado tá crescendo e tá funcionando. Desperdiça mais horas praticando, erra mais, tenta mais, se decepciona. Desse jeito você nunca vai levantar a cabeça e as chances não estão espalhadas pelo chão. Olha pro teu trabalho, quem é que nunca quis ter as facilidades que você tem? Porque tudo teu é um problema, um defeito? Porque tu se incomoda com o moço olhando do outro lado da rua e sabendo que tens um namorado? Tá difícil, eu sei. Mas esquece esse gente, percebe que ninguém te adiciona nada.
Parece que as coisas não se encaixam, mas na verdade, você tá quase completa. Segura a onda, respira... expira. Volta pro piano, Ana. Esbarra nos sustenidos, bota força nas teclas, chora tudo o que você tem. Chora Mozart pelos dedos, chora. Chorar faz bem, ainda mais quando fica assim... tão lindo...

segunda-feira, 7 de março de 2016

O Som do Piano

"I'd take another chance, take a fall, take a shot for you
I need you like a heart needs a beat,but it's nothing new
I loved you with a fire red now it's turning blue"



Ana acordou mas não conseguia colocar os pés no chão. Estava muito frio, e a sensação térmica era como se pisasse na própria neve. Mesmo assim, encontrou forças por entre os cobertores, só não encontrou a meia do pé direito. Havia alguns dias que sempre amanheciam daquele jeito: chão gelado, amanhã fria, preguiça e muito cobertor. Mas Ana era insistente, ia direto para o piano repassar suas lições. 
O instrumentou passou a ser o único companheiro de uns tempos pra cá. Foi casada, mas a vida estava de mudança. Não achava um peito pra se acanhar sem sentir medo, não achava aquela posição certa pra dormir de conchinha depois de uma noite de sexo. Pareciam que as coisas tinham a mesma forma de antes, e só o piano conseguia modelar seu coração. Apesar de gostar, nunca estudou música formalmente. Ao invés disso, foi estudar arquitetura. Foi recomendação expressa do pai, também arquiteto, que contava histórias sobre os maiores prédios da cidade nos passeios de domingo. 
Ao terminar a faculdade, Ana se sentiu perdida e tudo piorou quando o marido foi embora quase na mesma época. Tinha a sensação de estar baleada no peito, ou ter esquecido um pedaço de si em algum lugar que não pudesse mais achar. O mais engraçado era que não sentia falta do seu homem, sentia falta de si mesma. Teve a melhor festa de formatura do mundo, ganhou um carro que meses depois vendeu para pagar o advogado. Passou um ano desempregada. O pai, orgulhoso do diploma que só servia pra pendurar na parede, insistiu para que ela não desistisse da era. "O mercado é bom!", dizia ele com orgulho. Mas na verdade, o mercado estava péssimo, e cada dia que passava o próprio pai fazia suas rezas antes de dormir para voltar no dia seguinte ainda empregado. 
Uma tia se comoveu com a situação da pobre menina e ofereceu o apartamento na praia por uns tempos. Ana foi sem pensar duas vezes, e foi lá que conheceu o piano pela primeira vez. Lá, também, passeava na praia todas as noites. Nunca teve medo de ser assaltada, nem nada, apesar de já ter perdido o celular, a bolsa, uns tênis de marca.
Num desses passeios encontrou Ricardo, um jovem sucedido, era engenheiro num escritório perto. Ela não entendeu muito bem o que ele fazia, mas parecia que era algo com vistoriar as obras da prefeitura em algum lugar especifico da cidade. A amizade com Ricardo foi ficando cada vez mais forte, chegavam a pegar no sono do lado do celular. A cada bip, aquele frio na barriga subia. E não demorou muito pra juntarem os corpos num beijo. Ana adorou aquela sensação de estar protegida, de se sentir querida, de se sentir alguém de verdade. Naquele momento pensou que poderia até largar o piano, gostaria de ter o coração totalmente modelado pelas mãos de Ricardo. 
A medida que ficavam mais íntimos, a vontade que tinham de estar mais próximos era notável. Ana largou o piano, fez outros planos pra sua carreira, tentaria alguma vaga de arquitetura perto da empresa onde Ricardo trabalhasse. Nem que tivesse que aturar aquilo pelo resto da vida, queria estar perto dele. Ele amou a ideia.  Ao fim de um ano, estavam quase morando juntos. Ele vinha nos fins de semana, dormiam juntos, dividiam espaço de escovas dentes, a toalha dele já ficava na casa dela. Passou a ter uma gaveta no armário. Tudo ia bem. 
A melhor noticia foi quando Ana recebeu um telefonema de uma empresa. Tinham uma vaga disponível. Fez a entrevista e passou sem grandes dificuldades. Aquelas pessoas eram forçadas demais e não exigiu grandes coisas pra continuar na competição. Apesar de estar mais perto de Ricardo, ele não quis morar com ela. Disse que tinha vivido muito tempo naquela configuração e agora era difícil, gostaria só de ir passar uns dias, continuar com os espaços na gaveta e na casa, mas sem grandes responsabilidades. Ana, sempre compreensiva, entendeu e aceitou. Ficaram nesse intercambio de casas por algum tempo, até Ricardo começar a se sentir preso novamente. 
O relacionamento não tinha problemas aos olhos dela, mas ele estava cada vez mais sufocado. Pediu um tempo, uma pausa da vida que tinham pra poder botar a cabeça no lugar. Ana aguardou todo o tempo ansiosamente. No fim desse período, Ricardo veio contando que conhecera uma garota, estavam bem amigos ha algum tempo. Não disse muito, mas não foram necessárias palavras para entender o que estava acontecendo. Ana, novamente, compreendeu e aceitou.
Continuaram por perto, todo esse tempo Ana ia e voltava do trabalho que cada dia odiava mais. A sensação de ter o peito baleado crescia, e o medo aumentava. Num desespero, ligou muitas vezes no celular de Ricardo que caia direto na caixa postal. O dito cujo não tinha mandado nenhuma mensagem desde que voltou de viagem, não tinha atendido nem um telefonema. Sem muito pensar, foi direto pra casa, mas no caminho, trombou com Ricardo. Estava acompanhada da moça que apresentou-se formalmente, Ana manteve a compostura, porque se sentia, além de desgraçada, uma dama. Procurou não dar muito espaço pra conversa, o que teria pra conversar com a amiga tão próxima? Nada. 
Ricardo se despediu com um beijo no rosto bem gelado, virou as costas e de relance, Ana pode ver a mão dele pegando a dela. Procurou não olhar pra trás, e logo, saiu correndo pela cidade. Voltou pra casa, a antiga casa da tia, e lá estava. Lá estava o velho piano companheiro de sempre. 
Ana compôs sua primeira musica, e as feridas no peito foram se fechando. Talvez tivesse encontrado alguma coisa que, finalmente, a preencheu por completo... Era o som do piano.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Passarinhos

"Despencados de voos cansativos
Complicados e pensativos
Machucados após tantos crivos
Blindados com nossos motivos"



Queria te dizer o quanto eu te acho talentosa, mas isso você já sabe. Não sei por onde começar sem te assustar, apesar de você não parecer ser uma daquelas pessoas que correm de alguém como eu. 
Escolhi dizer aqui o quanto eu acredito que você mudou minha vida. Nunca encontrei alguém com tanto brilho nos olhos assim. Chega até ser engraçado de tão ridículo que é reparar nisso. Não consigo descobrir de onde vem. Todas as vezes que eu te olho, procuro. E sempre acabo esquecendo que é nisso que estou pensando quando você pergunta. 
Na minha lista dos prazeres favoritos da vida, você está entre os cinco melhores. Infelizmente, no tempo que passamos juntas, eu passo pensando no quanto eu desperdicei minha vida. Não gosto do jeito que vivo, odeio onde estou, meus talentos não servem pra nada, sou incapaz de criar qualquer coisa.
A unica coisa que eu não queria era escrever sobre você, mas juro que segurei o máximo que pude. Desculpe. não sei o que passa pela sua cabeça, não sei o que dizer quando você está por perto, também. Eu te admiro muito. Você não é totalmente frustrada como eu.
Provavelmente, continuarei pela mesma estrada por mais uns cinco anos. E acredite, vai ser muito difícil. Por ironia do destino (ou não), minhas melhores experiencias são efêmeras. Meus melhores desenhos começam num acaso, como você.
Lamento muito por este acaso ter começado tão tarde, mas vou tentar não pensar nisso, porque este e o conselho que você me daria agora. Afinal, minha vida não pode ser tão ruim assim.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Meia-noite

"Não há nada de novo, ainda somos iguais"


Imagina que louco se em 2016 pudêssemos dar as mãos na rua sem os olhares marcantes? Ia ser incrível começar o ano com tanta boa sorte. Imagina que louco seria se aquela champanhe que tomamos todos os anos fosse ingerida num gole honesto? Imagina que louco se pudêssemos, de repente, esquecer as pessoas? dizer... "tchau".
Daqui há semanas, eu faço duas décadas, mas eu me sinto a mesma de sempre. Não tenho nem aquela experiencia a mais. é, no minimo, muito bizarro se vestir de branco e esperar pela passagem de mais um dia na sacada. Meia noite é uma hora que se repete sempre, e vocês sempre estão nem aí. Eu sei que esse novo ano trás uma esperança, mas puxa, sabe o que isso muda na vida de vocês? extremamente nada. As mudanças podem acontecer com um ano novo, ou não. As mudanças acontecem o tempo inteiro.
Apesar de eu também fazer parte da galera que se arruma pra ficar na sacada esperando dar meia noite, tomar champanhe, comer coisa boa, eu também faço parte que passa o tempo todo pensando que isso não vai dar em nada diferente do que todas as meias-noites que passei no meu quarto.
Talvez eu pudesse fazer um ano novo a cada dia primeiro de todo mês (só pra não passar em branco, sabe como é né? inicio de um novo ciclo). E pra falar a verdade, eu não espero nada de 2016, nem do próximo aniversário de duas décadas que eu vou fazer. Eu não espero nada além de pegar aquele ônibus, aquele metro, ir trabalhar, voltar, aguentar a faculdade e me lembrar que a vida não tem nenhum sentido se não fazer as coisas repetidamente. Tenho uma teoria de que é isso que vocês estão comemorando.
Essa noite estive considerando em baixar a idade do meu suicídio pra 21. Assim, eu só ia ter que comemorar mais um ano novo e não me sentiria tão mais velha. 
Fico na espera de grandes mudanças que me façam descobrir pra que ser viver. Mas é sério, tem algum sentido nisso?

*******

https://www.youtube.com/watch?v=YZibNACT9b8

*******

Ia quase esquecendo, feliz 2016 pra vocês.