“João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
(QUADRILHA, Carlos Drummond de Andrade)”
Engraçado
que era sempre assim... Quem queria, na verdade, não queria. Depois mudava de
ideia e queria de novo. E queria e queria e não queria, mas também queria. Era difícil,
mas era prático, é só escolher: uva ou maracujá? Uva. Não fica arrumando obstáculos,
porque assim é muito fácil de tropeçar.
De
alguma forma, eu sinto muito, e por outra, eu não sinto nada. Já estava cansada
dessa história de “quadrilha” (o poema já diz tudo e muito). Eu tinha me
esquecido de como o ser humano era, e de que histórias que começavam do mesmo
jeito também teriam o mesmo final, com uma mera margem de erro, quase nula. Um
chorava pelo o outro, e o outro se preocupava com o outro outro que havia se
envolvido também sabe-se lá como. E eu não me preocupava com ninguém, me preocupava
com todos. Todo mundo chorava por todo mundo, e foi muita gente entrando na
vida uma da outra de uma vez só. Mas eu não, porque eu chorava por todos, eu
chorava pelo mundo e por todas as outras existências que ainda não vivi. Seria bizarro
se um dia você me visse encostada na parede só observando os sorrisos alheios,
e feliz por isso, porque, na verdade, eu ficava triste com as coisas que eles
não se importavam no momento. Com as coisas que você também não se importa e
muito dificilmente vai perceber que sim, tem importância! Não é legal, não é
engraçado, não é errado, não é amizade, não é nada. É um algo que ninguém
consegue definir, não tem no dicionário, não tem em lugar nenhum. Deveria eu voltar e te explicar a história que
você nunca deveria saber sobre a minha vida? Seria isso então, uma “amizade” ou
um passatempo estranho de quando você não tinha chances com ninguém e já não
teria ninguém mais para falar?
Fique
tranquila, não é só você. Todo mundo já viveu o que você viveu, todo mundo já
fez comigo o que você também fez. Triste. Era uma amizade, eu repito. Mas é
sempre assim, você tem a lua e quer o sol; você tem o sol e quer a lua. Mora no
Nordeste, mas gosta do sudeste; mora no Sudeste, mas gosta do Nordeste.
Você
tinha tudo ali na sua mão, era só um pedido e estava tudo pronto. Você não
quis, e provavelmente não vai querer, é uma pena só de pensar. Tanta gente
podia estar junta, tanto amor poderia estar exalando, mas as pessoas ficam
nessa de querer gente que se importe, sem se importar que existe gente se
importa ainda mais e chora. E por essas pessoas que choram pelas outras,
qualquer que seja o motivo, você, vocês, deveria pensar mais de mil vezes antes
de pronunciar qualquer palavra. Machuca sim, dói sim.
Não
se preocupe, você não vai me ver chorar.
Bruna
Ferrari