quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sobre o Dia em que Você for Embora

"Well I'm afraid of saying too much and ending a martyr
But even more so I'm afraid to face God and say I was a coward"





     Essa noite eu estivesse pensando muito sobre o dia em que você iria embora. Já tinha me visto chorando absurdos - mais do que eu poderia controlar - e jogando todas as coisas que me lembrassem de você pela janela. Gritando sem parar, dando socos no travesseiro, culpando Deus e o destino por nossos planos serem tão diferentes.
Pode ser que este seja um dos motivos pelos quais o sono foi embora dessa vez. Ou seja seja só mais uma das minhas preocupações que está me atazanando desde que eu botei essa ideia de partida na minha cabeça. Acho que vivo o que temos como todo mundo que vive a vida sabendo que vai morrer, caminhando pra frente, e com o mesmo destino. Eu caminho pra frente, já sabendo que uma hora isso vai ter que parar. Espero que ao menos tudo o que viveremos nesse meio de história, possa valer de muita coisa até a hora da minha morte. 
Não contei os segundos por não ter por perto relógio, nem celular. Mas já fui tirando devagar as coisas que me fazem lembrar você no meu quarto. Dois ou quatro recados ali, um jornal, embalagem, pedaços de laços com sua cor preferida, desenhos e um monte de presentes que eu tinha feito pra você e nunca tive coragem nenhuma de entregar. Já até voltei a fazer os tsurus, porque eu não tinha parado por ali, apesar do esforço enorme. Eu nunca vou me esquecer que um dia eu vou morrer, e eu também não vou me esquecer que uma hora você vai precisar ir embora. Acho que só estou facilitando essa separação, assim eu não caio em abismos de novo. Essa vida é traiçoeira apesar de tudo, mesmo quando a gente já deu umas boas cabeças no caminho.
Quando você for, eu só espero que lembre sempre de mim, e por motivos que te façam feliz, e não que te irritem ainda mais. Eu espero que se despeça com felicidade, como quem parte pra um novo futuro, uma promessa de um bom destino certo. Como quem larga tudo na vida pra fazer o que ama, pra ser o que ama, e precisa deixar as velhas coisas de lado, precisa deixar todos os laços na gaveta, os remédios no armário, as roupas a mofar no armário da casa antiga. Como alguém que se lembra que vai morrer, mas que acredita que o que está no meio é sempre melhor.



Bruna Ferrari

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sobre como Deus me Desencontrou

============= AVISO ==============

Já aviso aos cristãos, e todos os teístas do mundo também, que este texto pode ofender. Mas, meus caros, entendam que a minha intenção não é essa. Este blog é quase meu diário, eu só quis tirar uma angustia do peito e compartilhar com meu velho amigo. Enfatizo que esta é a minha opinião, e que ela não é lei, não está na constituição. É direito se opor, ou não ouvir/ler, ou não seguir. E simplesmente não ler. 
Se mesmo assim continuar lendo, bem... não diga que eu não avisei. Só estou evitando conflitos desnecessários no meu inbox, ou qualquer meio de comunicação.
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"Every whisper
Of every waking hour
I'm choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt, lost and blinded fool (fool)
Oh, no, I've said too much
I set it up"

Essa noite eu fui a missa, o padre era legal, dizia coisas bonitas. Eu entrei de mansinho já pensando duas vezes. Faz um bom tempo que eu não vou a missa, e muitas vezes por falta de tempo e cansaço. Outras, por falta de "fé". Não sei se tinha ficado feliz, mas eu me lembrava de todas as repetições e de todos os significados implícitos que existiam ali. E isso não era grande coisa, não pra mim.
Eu não sei porquê, mas dessa vez não fez sentido nenhum. O padre dizia coisas sobre Deus e eu só me perguntava "Mas quem é Deus?". O padre dizia coisas sobre o céu, sobre um lugar prometido ao lado de Jesus, e eu só me perguntava "Mas porque eu tenho que ir pro Céu?". O padre dizia coisas sobre a salvação eterna e os planos de Deus para isso, mas eu, outra vez, só me perguntava "Porque eu haveria de ser salva? De quem eu havia de ser salva?". Na mesma missa, a aplaudimos um livro... E eu pensei em qual seria a diferença se eu aplaudisse o meu exemplar do Livro do Desassossego. Ele falava dessa "Palavra" como se fosse a verdade infinta, e eu sei e entendo que pra ele talvez seja mesmo. Pra ele, pra tanta gente. Mas nas primeiras palavras do sermão, eu já me dei conta de que aquilo tudo não era pra mim.
O sermão era sobre família, sobre marido e mulher e filhos. E eu sei que eu não faço parte dessa maioria. Eu sei que eu não consigo entender como alguém que eu não conheço e que não me conhece tem o direito de me julgar, ou sei lá! Dizer o que eu posso fazer! Um dia eu ouvi de um colega da igreja: eu tomo minha cerveja, e isso não faz mal a ninguém. Bem, eu digo o mesmo... Eu não faço mal a ninguém. Eu não mato, eu não roubo, eu não sou injusta, eu tento não julgar os outros, eu não cago regra na vida de ninguém. 
Olhando para os lados, todas as pessoas tinham os olhos fechados. Algumas ate choravam e eu nem entendia. Fechei os olhos, e imaginei que tivesse nascido na Índia... Talvez eu não estivesse naquela situação, talvez o livro que eu fosse aplaudir seria outro. Fechei os olhos outra vez e me imaginei no Afeganistão, talvez eu nem pudesse ter aquele momento. Diante de tantas verdades que sempre se dizem únicas e incontestáveis, eu decidi não fazer nada. Ou na verdade, eu tinha decidido, sim. Eu virei as costas e fui embora. E me senti horrível por muitas vezes na minha vida eu ter deixado alguém que eu gostava de lado porque não satisfazíamos o que me faziam acreditar... E hoje eu me pergunto "pra que tudo isso?". Qual era a diferença entre seguir as regras de um livro qualquer, agir como um livro qualquer e fazer tudo isso como a Bíblia? 
Porque? Porque? Porque? Porque eu teria que me colocar cercas por causa de uma salvação que eu nem sei pra que existe, e eu nem sei do que eu vou me salvar. E porque esse livro é sagrado? bem, eu não sei. Eu não consigo nem ao menos saber se tudo o que está escrito ali é de fato, pode ser que a Bíblia fosse um livro bem escrito que ficaria legal numa adaptação ao cinema, ou pra uma minissérie e só. A verdade é que pode ser que eu precise de mais estudo, ou de mais tempo... mas uma coisa eu peço:
Senhor Deus, caso esteja lendo o meu texto agora, eu quero de você não muito mais do que eu tenho de todo mundo. Eu não espero de você, não mais o que eu já espero de todo mundo. Gostaria que ao menos soubesse todo o esforço que eu fiz, e por quantos anos eu me enganei pra poder acreditar em você desse jeito, mas eu só me sinto um fantoche infeliz da sociedade. Sinto muito por te decepcionar, quando eu já tinha estabelecido regras pra minha vida, pra minha rotina, e pro meu corpo. Eu não estou disposta a fingir que nada acontece desta vez. Eu não vou me sentir culpada outra vez por fazer o que me faz bem.


Bruna Ferrari

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Estação


"I cannot turn to see those eyes
As apologies may rise
I must be strong and stay an unbeliever
And love the sound of you walking away, you walking away"



Acordei no meio da noite outra vez. Não sei se era a cama, o travesseiro, as pelúcias, ou o XP no jogo que eu estava deixando de ganhar por estar ali, sentada. De alguma forma, eu me sentia meio inútil. E mudei tudo outra vez. Troquei a roupa de cama, mudei pelúcias de lugar, coloquei mais um travesseiro, até joguei mais um pouco só pela XP¹.
Minha vida continuava a mesma. Eu já não sabia mais quem ia e quem voltava. Acho que eu sou um passageiro no trem da vida de quem me conhece. Eu só quero sempre pagar a passagem e partir. Assim, sem destino, sem motivo. As estações passavam, eu observava tudo pela janela. Os cabelos brancos, as rugas, a impaciência, a indisposição, as dores no corpo. Talvez eu tenha tentado tudo tarde demais, corrido atras de um trem que já tinha me esquecido. Fica difícil de ver quem esta do lado de fora com a velocidade que as coisas passam. Pois é. Passa.
Agora a gente comemora um novo ano, uma vida nova, e eu me sinto, por vezes, ridícula por estar acordada comemorando a passagem de mais um dia para o outro. Sei lá, acho que a vida perdeu um pouco do encanto mesmo com dezoito anos. As crises chegaram sem serem chamadas e eu desci na estação errada. Eu me acostumei com isso, eu já me acostumei a confundir os sentidos dos destinos e ir pra um lugar quando queria ir pra outro. O pior é que eu só me dava conta no meio do caminho, é decepcionante ter que voltar tudo de novo. E é mais decepcionante ainda saber que você só fez isso depois de faltar só uma estação.
Só faltava uma estação, e eu me dei conta de que o sentido estava errado. Mas eu tentei outra vez, porque eu acredito muito em outras chances. Eu dei mais uma chance pra mim, porque quem sabe, mesmo errando a direção eu esbarrasse com alguém que me levasse no lugar certo.


Bruna Ferrari



¹XP abreviação de eXPerience que significa experiencia, atributo para adquirir nível e habilidades em games com estrutura de RPG