quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Sobre como Deus me Desencontrou

============= AVISO ==============

Já aviso aos cristãos, e todos os teístas do mundo também, que este texto pode ofender. Mas, meus caros, entendam que a minha intenção não é essa. Este blog é quase meu diário, eu só quis tirar uma angustia do peito e compartilhar com meu velho amigo. Enfatizo que esta é a minha opinião, e que ela não é lei, não está na constituição. É direito se opor, ou não ouvir/ler, ou não seguir. E simplesmente não ler. 
Se mesmo assim continuar lendo, bem... não diga que eu não avisei. Só estou evitando conflitos desnecessários no meu inbox, ou qualquer meio de comunicação.
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"Every whisper
Of every waking hour
I'm choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt, lost and blinded fool (fool)
Oh, no, I've said too much
I set it up"

Essa noite eu fui a missa, o padre era legal, dizia coisas bonitas. Eu entrei de mansinho já pensando duas vezes. Faz um bom tempo que eu não vou a missa, e muitas vezes por falta de tempo e cansaço. Outras, por falta de "fé". Não sei se tinha ficado feliz, mas eu me lembrava de todas as repetições e de todos os significados implícitos que existiam ali. E isso não era grande coisa, não pra mim.
Eu não sei porquê, mas dessa vez não fez sentido nenhum. O padre dizia coisas sobre Deus e eu só me perguntava "Mas quem é Deus?". O padre dizia coisas sobre o céu, sobre um lugar prometido ao lado de Jesus, e eu só me perguntava "Mas porque eu tenho que ir pro Céu?". O padre dizia coisas sobre a salvação eterna e os planos de Deus para isso, mas eu, outra vez, só me perguntava "Porque eu haveria de ser salva? De quem eu havia de ser salva?". Na mesma missa, a aplaudimos um livro... E eu pensei em qual seria a diferença se eu aplaudisse o meu exemplar do Livro do Desassossego. Ele falava dessa "Palavra" como se fosse a verdade infinta, e eu sei e entendo que pra ele talvez seja mesmo. Pra ele, pra tanta gente. Mas nas primeiras palavras do sermão, eu já me dei conta de que aquilo tudo não era pra mim.
O sermão era sobre família, sobre marido e mulher e filhos. E eu sei que eu não faço parte dessa maioria. Eu sei que eu não consigo entender como alguém que eu não conheço e que não me conhece tem o direito de me julgar, ou sei lá! Dizer o que eu posso fazer! Um dia eu ouvi de um colega da igreja: eu tomo minha cerveja, e isso não faz mal a ninguém. Bem, eu digo o mesmo... Eu não faço mal a ninguém. Eu não mato, eu não roubo, eu não sou injusta, eu tento não julgar os outros, eu não cago regra na vida de ninguém. 
Olhando para os lados, todas as pessoas tinham os olhos fechados. Algumas ate choravam e eu nem entendia. Fechei os olhos, e imaginei que tivesse nascido na Índia... Talvez eu não estivesse naquela situação, talvez o livro que eu fosse aplaudir seria outro. Fechei os olhos outra vez e me imaginei no Afeganistão, talvez eu nem pudesse ter aquele momento. Diante de tantas verdades que sempre se dizem únicas e incontestáveis, eu decidi não fazer nada. Ou na verdade, eu tinha decidido, sim. Eu virei as costas e fui embora. E me senti horrível por muitas vezes na minha vida eu ter deixado alguém que eu gostava de lado porque não satisfazíamos o que me faziam acreditar... E hoje eu me pergunto "pra que tudo isso?". Qual era a diferença entre seguir as regras de um livro qualquer, agir como um livro qualquer e fazer tudo isso como a Bíblia? 
Porque? Porque? Porque? Porque eu teria que me colocar cercas por causa de uma salvação que eu nem sei pra que existe, e eu nem sei do que eu vou me salvar. E porque esse livro é sagrado? bem, eu não sei. Eu não consigo nem ao menos saber se tudo o que está escrito ali é de fato, pode ser que a Bíblia fosse um livro bem escrito que ficaria legal numa adaptação ao cinema, ou pra uma minissérie e só. A verdade é que pode ser que eu precise de mais estudo, ou de mais tempo... mas uma coisa eu peço:
Senhor Deus, caso esteja lendo o meu texto agora, eu quero de você não muito mais do que eu tenho de todo mundo. Eu não espero de você, não mais o que eu já espero de todo mundo. Gostaria que ao menos soubesse todo o esforço que eu fiz, e por quantos anos eu me enganei pra poder acreditar em você desse jeito, mas eu só me sinto um fantoche infeliz da sociedade. Sinto muito por te decepcionar, quando eu já tinha estabelecido regras pra minha vida, pra minha rotina, e pro meu corpo. Eu não estou disposta a fingir que nada acontece desta vez. Eu não vou me sentir culpada outra vez por fazer o que me faz bem.


Bruna Ferrari

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