quarta-feira, 27 de maio de 2015

Sapatos Molhados


"Et même, si pour nous c'est l'enfer
Dans le feu de ses grands bras ouverts
J'te promets des flammes de bonheur
Des tangos à t'en arracher le cœur"




Estava andando com as mãos nos bolsos, porque fazia muito frio.Brincava com o vapor que saia da minha boca enquanto bocejava. Essa era mais uma daquelas manhãs que eu ia tomar café fora de casa, comer as coisas que você pensava que eu não gostava, mas você gostava, então experimentava quando você não estava vendo. Tudo isso era pra não te dar o prazer de perceber que algumas coisas só gosto, porque gosto de você. Eu gosto tanto de você.
Meus sapatos continuam molhados. Pegamos uma chuva muito forte ontem a noite, eu adorei. Seus cabelos ficam tão sexy grudados no rosto enquanto você sorri. Você é divertida demais, tropeça e se sai como ninguém. Não sei se por insegurança, ou por apenas se sentir a vontade comigo, mesmo. Acho delicado esses momentos que passo pensando em você, principalmente quando caminho sem rumo eminente. Eu me deixo levar pelas pequenas coisas, parece que minha vida se torna um daqueles textos de Tumblr que todo mundo acha lindo e compartilha no Facebook.
Sei que estar na minha situação é um tanto complicado, e machuca muitas vezes. Os sapatos molhados contam muito sendo assim, deixam mais pesado a caminhada, eu levo mais tempo pra conseguir pegar meu ônibus e ir embora. Enquanto dormia, eu te senti levantando, mexendo na sua mochila. Agarrei forte o travesseiro, será que era agora a hora que você ia ir embora de vez? E esta é a parte que é mais difícil sobre estar na minha situação. Pode parecer incrível o jeito que você gosta de mim, mas existem sempre algo a mais que não sou eu, e nunca serei. Alguma hora vai chegar, nós vamos conversar e você vai me contar sobre a necessidade de mudar de ares, conhecer gente nova, recomeçar tudo outra vez, tentar a vida lá fora.
Eu vou olhar pro chão firmemente e esperar você sair de perto pra entender o que eu estou sentindo. Nós já havíamos conversado sobre momentos como este antes, tínhamos decidido como ia ser a nossa vida caso não acordássemos de manhã juntos. Afinal, eram só algumas vezes quando tínhamos tempo um para o outro. 
Eu adorava este relacionamento de tantos anos, adorava também nossas conversas de fim de tarde. Engraçado era como nós ficamos nesse fluxo estranho de correr um atras do outro, toda a vez que a vida mudava de sentido. E também era engraçado como nos xingávamos muito em pensamentos, por perto só beijos e abraços. Acho que esta despedida, o dia que finalmente chegou, está sendo difícil para nós. Tem sido difícil desde o momento que percebemos que a vida passa pra todo mundo, as coisas seguem seu ciclo natural, se renovam e nessas, pode ser que o que é novo não seja tão bom quanto o que existia.
O meu café é solitário esta manha, e ontem foi uma ótima noite, mas eu sinto que parti seu coração em pedaços, e você partiu o meu mais ainda por não dizer que me amava nem na nossa despedida. Senti um desperdiço de vida neste pequeno momento de necessidade em que eu me encontrava enquanto encarava seus olhos, em lágrimas. Esta não era a primeira vez que eu chorava na sua frente, muito menos você na minha. 

Eu sei que você esteve certa todo este tempo, e eu estive tão errado em tentar manter nosso relacionamento do modo que estava. Não sei se sinto muito, é egoísta dizer isso, mas eu fiz de tudo pra te manter do meu lado o máximo que pude. O máximo que eu pude e que eu aguentei, foi isso. Já está na hora de arrancar esses sapatos molhados, mudar de roupa, e voltar a gostar das coisas que eu não gostava tanto antes de você. A minha vida precisa seguir na normalidade, e eu não posso continuar caminhando por um caminho tão pesado assim.



Bruna Ferrari

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Eu Não Preciso Dizer que Te Amo



Hoje eu acordei mais incrível do que nunca. Depois daquele tapa na cara que você me deu ontem, parece que tudo ficou diferente. Meu pai me perguntou da onde vinham aquelas marcas, mas não foi do mesmo jeito que ele pergunta toda a vez pro meu irmão quando o pescoço dele volta roxo depois de uma noitada. Ele me intimidou, e quis saber logo o que estava acontecendo. Eu poderia ter dito que eram os moços da esquina, tinha pegado um zé mane qualquer por ai e pronto, quem sabe ele fosse ficar orgulhoso de mim.
Eu nem falei nada no fim, só fiquei ensaiando as palavras da minha cabeça e esbocei a mesma reação. Mas que merda ele tinha mesmo a ver com isso? Pois é, nada. Senti até um calafrio de pensar que todas aquelas marcas no meu corpo poderiam ter sido consequências de uma noite boa. Bem boa. Daquelas, cês sabem, né? Mas não era não. Triste. Nem sou desse tipo que aguenta ficar acordado durante uma noite inteira. Dá preguiça, também dá sono. Enjoo muito fácil. Contei pro meu amigo o que tinha acontecido, ele ficou um tanto assustado que pudesse ter feito aquilo comigo, e eu... envergonhado. Eu ia ser o covarde outra vez.
Eu não sou covarde não. Eu encaro, mas a galera tem essa mania de ficar achando coisa errada demais. Sempre pensam na superficialidade. Eu sou complexo, não sou pra essa modernidade de cinco minutos, muito menos pra esses pseudos-cultos. E veja só, até você dá um tapa na cara de uma pessoa como essa!
Tinha te escrito uma carta pra quando voce fosse pra Europa, rasquei assim que você desapareceu. Pode ser que a gente nem volte a se falar depois de ontem, agora você deve estar até cantando vantagem e já ter esquecido de tudo. Eu não. Fui eu que levei o tapa, não é mesmo? A minha mão na sua cara eu segurava, nosso amor é assim. A gente nem precisa dizer que se ama, a gente se morde e sai rolando pela cama. Goza muito. Minha mãe sempre diz que você é que nem mulher de vagabundo: quanto mais bate, mais quer. Eu não acredito nisso, acho essa frase o maior clichê que existe quando sogra não gosta de nora. Num me lembro se a frase era mesmo essa, mas veio desse jeito e eu escrevi assim. 
Ela também diz "vê lá com quem você fica andando!". Queria poder dizer que nem precisava se preocupar tanto comigo, respondia as perguntas do meu pai, tomava meu banho e o roxo, eu dava conta. Era só usar um cachecol num dia ensolarado, nada demais. Não tinha mais o que esconder dos meus amigos, minha reputação já estava no lixo. Todo mundo notava. 
Enquanto você estava de bobeira por ai, conheceu outra pessoa. Com certeza considerou me dar mais um tapa na cara, e eu não ia fazer nada pra te punir de volta. Nosso amor tem dessas coisas. Até ouvi a definição perfeita, a gente é assim: sadomasoquismo. O mesmo amigo que ficou impressionado que falou essa palavra difícil, tive que buscar no dicionario. Esse povo fica dizendo palavra complicada pra enfeitar a frase, eu não. Eu não preciso disso. Eu digo logo. Palhaçada, viu. Mesmo depois desse tapa na cara, eu não preciso dizer que te amo. E eu não vou!

sábado, 2 de maio de 2015

Meu Texto Ruim

Acordei, de novo. E sei lá quantos mais textos vão começar com essa mesma situação. Há alguns minutos atras, eu sabia exatamente o que diria aqui. Agora, já não sei mais. Pode ser que a construção de algo seja por muitas vezes assim, você tenta preparar previamente, mas o rascunho logo é esquecido por coisas novas e totalmente fora do contexto, como eu li num livro.
Eu não sei bem o porquê de estar escrevendo. Não sei o porque de não conseguir dormir também. Toda vez que deito na cama, essa inquietação de repente me sobe e nada sobra. Chego a sentir seu corpo sobre o meu, e nós dois suados pela cama, pode ser que seja tesão. Parece até errado estar sentado uma hora dessas, parece errado dormir sozinho, e não acordar do seu lado. É fato de que tudo isso me causa um desespero enorme, mas eu ainda não sei se este é o motivo de estar escrevendo.
Pode ser que seja só um desabafo, uma outra maneira de pôr pra fora o que estava faltando antes de chorar tanto. Deixei explodir, como consigo conter mais a boca do que os olhos, essas merdas acabam acontecendo.Minha consolação é não estar sozinho, penso nos tantos outros que estão na mesma situação que eu. Anônimos, sem dormir, chorando sem motivo algum e metendo o nome de alguém no meio. Acho que se essas pessoas montassem uma rede social pra se ajudar, daria bastante certo. Mais certo que o facebook, alias. Depois penso de novo, e acho que daria mais merda e mais conflito.
Odeio essa minha ambiguidade, e eu sei que você deve estar se perguntando como eu fui meter essa palavra neste contexto se nada do que eu disse até agora aparenta ter sentido. Sei lá... Eu quis. Algumas coisas na vida são assim, lide com isso. Estou cansada de pensar pra dizer, pra escrever então nem se fala. Preciso deixar as coisas fluírem, tá difícil. Tem um terremoto passando pela minha vida, colocando a prova tudo o que eu achei que era firme. Não sei no que segurar de verdade.
Nessas horas é que eu meto a culpa em você. Grito com você mentalmente enquanto me magoa. Eu sei que se for desenvolver o assunto eu provavelmente vou acabar concordando, porque você me leva fácil e você sabe por onde quer me levar. Mas a vida é assim, e eu preciso aprender a lidar com isso. Tem coisas que são como são, como aquelas explicações fonéticas que os professores de inglês tinham preguiça de me dar e diziam: Deus quis assim.
Será que Deus quis a gente assim também? Não. Provavelmente não. Nós nem acreditamos muito nele. A gente é tudo o que Deus não queria pra humanidade. Somos desafiadores da tradição, ratos de laboratório da modernidade. Somos roedores, aproveitadores, geneticamente modificados pra saber lidar com gente diferente, simpática, fundamentalista, otária, machista, feminista, burra. Enfim, e muitas outras gentes que eu tenho preguiça de colocar todos os adjetivos. E muitas outras coisas que eu tenho preguiça de colocar aqui.
Minha vida se resume a isto, ter a paciência colocada em prova a todo momento, alguns beijos seus de mês em mês, e textos ruins. Meus textos ruins.


Bruna Ferrari