No meu quarto eu inundava. Garrafas
de cerveja ficavam pelo chão e eu secava o restava da vodka. Sim, eu estava bêbada.
Mas continuava andando de um lado pro outro e com todos os problemas na minha
cabeça, eu não cabia num breve espaço de tempo. Naquela casa eu não perdia as
forças. Podia pular no ombro dos outros e dar outros apelidos pra qualquer que
fossem porque eu era a mais magra da turma. Eu era a única menina, a mais nova,
a pérola da casa. Eles não podiam me jogar na piscina porque eu não tinha
roupa, não podiam me mandar lavar louça porque eles eram a maioria, não podiam
ganhar no domino porque meu namorado tinha me ensinado a contar. Eu sempre
odiei números. Pra mim, números são erros e que, preciso reconhecer, eu sonho
todos os dias com as pessoas se dando conta disso. Gritando com os exaticos e
tirando matemática da vida.
Eles nem contar sabiam. Era
aleatoriamente aquele aleatório que eu também odeio. Então eu ganhei no dominó,
no can-can e no buraco. Ganhei porque tinha um namorado gêmeo – e só gente
descolada namora gêmeo. Ganhei porque eu era a mais bonita até eu me olhar no
espelho e me sentir um nojo, querer
voar pela janela e me jogar no lago. Bater no galo que não parava de cantar e
começar a fazer tudo o que eu não faria porque eu tinha privilégios aquela
noite. Mais linda, mais magra, mais bonita, mais inteligente. Eu ainda era
demais pra aquela casa. Era demais pra aquele quarto, e tão pouco pra aquela
semana que parecia não passar. Eu fiquei com medo de que talvez a gente tivesse
perdido a graça. Que não fosse mais tão legal ter vontade de te chutar o seu
irmão pra o ver rir ou de morder o seu ombro pra te marcar. Porque, sei lá, o
mundo parecia um pouco mais triste quando você não olhava pra mim. Quando eu
não tinha – toda – a sua atenção.
Eu estava – um pouco – bêbada. E
continuava querendo você perto pra cuidar de mim. Olhar com aquela cara que você
faz de quando eu faço alguma besteira e não percebo. Eu esconderia o meu rosto
do seu ombro de novo, eu te abraçaria forte pra você não me ver chorar e
voltaria àquela vontade enorme de chorar na sua frente e de te morder de novo.
Acho que eu olho o sol pensando que poderia ser um novo dia em outra cidade,
que nós iriamos fugir juntos e eu teríamos sorrisos e um café da manha feliz.
Mas, infelizmente, você não veio. Você não viria. E eu acordei com o meu pai
descendo a rua e suja de grama.
Bruna Ferrari