quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Carta ao Desespero Alheio

“She’s just like the weather...”



    Meu amor, senti uma necessidade tão grande de te escrever que não consegui me conter. Estive este tempo pensando nas suas coisas, estive este tempo pensando nas bobagens que eu poderia ter te dito. Eu sinto muito. Sou um ser humano nascido para errar, este destino é tão certo que eu deixei de perguntar se alguma vez na minha vida eu acertei.
        “Amor” essa palavra está cansada. E me desculpa por usa-la tantas vezes em vão. Eu sei que o que sinto é transparente e não precisa de nome, mas eu me esforço em te mostrar. O mar de emoções no qual você está me envolvendo parece ser eterno e grande demais. Eu tenho medo. Estou me deixando levar pelas ondas do seu habitat natural, você acaba ficando mais que a vontade.
     Estou sendo seu, larguei a praia. Estou morando no mar, que quando adentro sua casa penso em ser até o cabide que segura suas roupas. Nada disso é meu. Todo, parte. Começo, meio e fim. Mas sei que morrei na praia, não importa qual seja o meu papel nas partes que existem. Isso é o incrível, porque quando estou no mar, quero voltar para praia e quando estou na praia, quero ir de volta para o mar. Eu sou como qualquer ser humano que quer o que não tem e se te quero tanto é porque não te tenho. Obrigado.
      “Amor” esse sentimento tão sentido que já perdeu toda a graça. Eu sinto muito por ser atirado em sua vida, pelos olhares ansiosos, por te querer o tempo todo, por tentar te dar a mão. Amor, desculpa por ser quem eu sou. Assim, descontrolado. Só você entrou na minha vida, acalmou meu coração no meio dessa confusão. Você é quem gosta de mim também. Você é quem deixou seu corpo inteiro mergulhar em mim.
        Meu amor, eu sinto muito por me apaixonar por você todos os dias que acordo, todas as vezes que você me liga, todas as vezes que eu me lembro do que passamos e construímos juntos. Eu sei que isso só piora a nossa distancia, que eu crio montanhas entre nossos caminhos... Eu sei, eu sei... Mas eu sou assim, eu dou trabalho e não consigo mudar isso. Todos os meus esforços são em vão.
       Estou sem coragem de admitir... Você é como o tempo, e também é regido pela lua. E agora que eu me joguei no mar, percebi que ele é sua casa. Mas o que eu quero, de verdade, é que minha casa seja sempre o seu coração. Desculpa.



Bruna Ferrari

sábado, 29 de novembro de 2014

Decay



“And if I happen to fall

Then please don't pick me up
Cause we're enjoying our time
And I wouldn't want to interrupt
They worked out so well
When you discovered that it's all the same
We get lost sometimes
But the reality will keep us sane





Usarei este meu breve momento pra falar sobre coisas tristes, numa noite triste, num dia triste, sobre uma pessoa triste. Sim, essa pessoa sou eu. E nossa, vão dizer que sou depressiva, ou que sofro de algum mal no coração que ninguém entende. Bem, já começo dizendo que não é porque sinto que sofro agora, que acho que meu sofrimento seja único e eterno. Ele é duradouro, mas eu sou bem paciente, sabe? Até espero a tinta secar pra pintar de um jeito bonito por cima e a arte do quadro ficar incrível, depois saio correndo pra ir te mostrar só pra você dizer: “Muito bem! Olha como ela é uma boa garota e é ótima desenhando!”.
Sou um pouco ansiosa... Borro a maquiagem, mordo os lábios, tiro esmaltes, faço batuque em tudo e em qualquer lugar pra passar o tempo. Ou canto, quando dá e quando não me mandam calar a boca. E aqui, agora, dentro do meu quarto, eu escrevo bastante no pensamento. Escrevo pras pessoas que amo de verdade. Aquele amor que a gente sente e nem precisa explicar o porquê... É, se eu escrevi um texto sobre você, ou se por relance ou coincidência eu te cito nele. Sinta-se importante. Isso não é pra qualquer, isso não é qualquer um que consegue (apesar de muitas vezes parecer). Eu falo demais, já falaram disso comigo, até disseram que não se importam (por educação, é claro). E agora, depois daquelas palavras todas cuspidas na minha cara, eu tinha travado a minha língua. Perdi minha comunicação, meu radar, meu ponto de equilíbrio. Perdi tudo o que me deixava em paz. Bati com a cabeça num poste e está bem difícil de conseguir acordar...
Bolei alguns planos pra conseguir minha língua de volta, e alguns outros sobre como eu deixaria esse mundo pra trás. Muitas vezes quando eu tomo coragem o suficiente de acabar com tudo um pouco antes do que eu tenho planejado por anos, eu penso na quantidade de pessoas legais que eu iria decepcionar... Não são muitas. Conto três. Não, minto. São quatro. Não é uma quantidade significativa pra muita gente, e pra mim, elas representam o mundo. Vocês podem me achar ingrata ou o que quiserem e eu digo: o blog é meu, o texto é meu, e eu escrevo o que eu quiser.
Estou um pouco cheia de dormir na minha cama... Eu me reviro pra todos os cantos, sinto que ela não é minha. Nunca foi. E vou pro chão... E o chão também não é meu. E aí eu recolho os meus cobertores, e os cobertores também não são meus. Parece egoísta, mas eu gostaria muito de ter coisas que eu pudesse chamar de minha. Eu até tenho, pra não deixar esse texto um drama maior do que está sendo, mas parece que nada é o suficiente. Sempre tive essa crise. O que vão pensar de mim se eu não for o suficiente? Será que vão embora quando estar comigo não for o suficiente como aconteceu da outra vez? Será que algum dia eu vou ter algo que é suficientemente meu? Será? Será? Será? Não sei. Vou passar a vida inteira nesse impasse, mas desta vez, eu resolvi me atirar no mundo com tudo. Eu já perdi minha língua, minha paciência, minha dignidade, minhas coisas e minha vida há muito tempo atrás. Talvez, eu não tenho nada mais a perder agora que minha língua também se foi, meus textos também se foram, e pareço afundar num buraco literário sem fim. Estou a cada dia que passa pior, mas não mais magra. E nem pra emagrecer ser pior ajuda.
Essa vida está do cão, está demais cansativa pra mim. Chegou ao ápice da merda toda, e eu só estou esperando o momento certo de dar certo. Não, nem isso mais estou esperando, eu perdi as expectativa sobre mim, sobre vida, sobre o mundo e tudo o que eu tenho. Talvez eu só esteja esperando tomar umas cervejas ao invés de sempre tomar no cu no fim do dia.




Bruna Ferrari

sábado, 22 de novembro de 2014

Um Texto à Decepção




"It's a kind of magic
The bell that rings inside your mind
Is challenging the doors of time"



Houve um tempo que eu estava neste caminho, as pessoas me olhavam e diziam: “você vai achar um bom homem, casar e ser feliz”. Eu queria ser feliz mesmo, mas eu não entendia porque eu precisava casar pra isso acontecer. Cresci, e eu acreditei nisso. De verdade. Aos 15, eu já não era mais essa menina, acho que tinha parado com as barbies cedo de mais, tomado porres cedo demais... Sei lá, alguma coisa aconteceu. E eu nem me preocupava tanto com isso. Eu sabia desde cedo a voltar bêbada pra casa.
Eu cresci mais ainda, e não sei que sopro entrou por de baixo do meu edredom e fez uma confusão total. Sim, eu comecei a perder o sono, a imaginar coisas. Sonhos, desenhos, textos. Tudo era motivo pra me tirar fora da cama. Comi livros nesse tempo. Eu me afoguei em páginas e paginas e paginas. Arrastei mais três paixões por três anos e nenhuma delas me levou a algum lugar. Ou sim, levaram, não foi de tudo ruim. Eles eram exigentes demais, eu não bancava a agradável com eles. Começava a parar de me esforçar e me arrastar, não pelas paixões, mas pra entender o que tinha na minha cabeça de tão anormal. Procurei psicólogos, religiões, banhos, cartomantes, novos livros, poesia, ciência...
Nada era suficiente. A minha primeira hipótese era de que alguma coisa deu errado na hora da minha fecundação. Deus preferiu me fazer pensar de outra maneira, acho que ele zoou mesmo com a minha cara... E eu nem sei direito se ele existe. A segunda hipótese era de que as pessoas é que me zoavam mesmo. Com o tempo, eu percebi que Deus deu de ombros pra minha existência há muito tempo e eu nem precisava mais me preocupar com isso. Eu não o conhecia, não conversávamos, não tinha nenhuma prova concreta do que ele disse fazia sentido. Como sempre, pelo menos, tínhamos uma coisa em comum: nós mudávamos de personalidade e nome o tempo inteiro. Conheci tantos nomes pra Deus, tanto Deus que me deixou confusa. E quando eu finalmente pensei que tivesse entendido qual era a brincadeira que Deus fazia, voltei atrás.
Quando eu era menina, pensava que as coisas ruins aconteciam pelo destino e chamava o destino de Deus, porque eu não acreditava nele, e eu não queria desrespeitar as pessoas que amavam por conta disso. Ninguém morreu na minha frente naquela época. Ninguém me ofendia e eu não chorava por essas coisas. Eu não tinha que acordar cedo. Eu não tinha que ir pra aula de francês. Eu brincava sozinha de baixo da mesa com as minhas barbies. É, só com as barbies, eu não gostava de bonecos no meio de tudo. Eles estavam lá só pra passar o tempo quando minha mãe aparecia de repente e eu tinha que esconder tudo. Como eu ia explicar aquela cena toda pra ela? Eu era discreta, desaprendi a ser e reaprendi. Hoje, mais do que nunca. Vale a pena.
E se o meu discurso até agora parece incoerente, é porque eu sou desse jeito mesmo. Eu sou como as ondas do mar, eu vou e volto, e vou e volto, e acabo no meio da praia. Talvez eu seja mais inconstante que isso; é difícil de lidar, por isso sou tão sozinha. Só que eu cansei dessa conversa toda, cansei até de não usar as roupas que gosto, cansei de não escutar as bandas que gosto porque elas não tocam no radio. Que bom que elas não tocam no radio.
Acho que no fundo eu desacreditei que pudesse decepcionar quem me amava da maneira que eu pensei que pudesse. Acho que eu desacreditei que pudesse me reprimir por tempo o suficiente das coisas não explodirem pra fora do meu coração. Acho que a coisa agora é bem assim... Eu sou assim. Eu sempre fui. Eu não tenho nome, eu não quero regras, e se eu tiver tudo isso, eu quero ter a liberdade de mudar a hora que eu quero. Nunca aguentei essas coleiras que a sociedade me impôs, nunca aguentei essas coleiras que os relacionamentos me colocaram e eu não quero ser hipócrita de dar um passo atrás ou a frente sem reconhecer isso. Sem reconhecer que convencional, e coleiras me incomodam. Até sinto muito em ter que dizer que eu já não me importo mais, eu sei das consequências desse texto, eu sei das consequências das coisas que eu faço, por hora. E se não souber, eu vou descobrir. Errando. Experimentando.
Eu vou descobrir, porque descobrir é tão bom. E eu só descobri tudo isso agora. Na verdade, eu acabei reconhecendo que eu precisava disso. Eu não vou mais me conter no meio da noite. Soltei essas correntes que me prendiam, deixei muitas ideias pra trás, troquei tudo como se troca de roupa. Simples assim.
A vida é simples, e minha vontade também. Mesmo que no final tudo possa ser uma merda.


PLEASE, DON’T TIE ME UP!


Bruna Ferrari

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Cometa Halley¹

“Take me, love me
Make me your animal
Show me stroke me
Let me be your animal



Voltei tropeçando e pensando sobre a vida. Não, não era culpa da minha embriaguez, muito menos dos meus amigos que se importavam tanto comigo e acabaram percebendo o que não deveriam ter percebido. Era sua culpa mesmo, e eu mesma sabia que afinal, você não tinha culpa nenhuma. Eu era boa demais, concordava demais, me esforçava demais e de vez enquanto, batia aquele pensamento “mas o que é mesmo que eu estou fazendo da minha vida? Porque é mesmo que eu estou me encantando por uma pessoa dessas?”. Uma pessoa dessas, dessas que não dava pra negar que era encantadora, incrível. Botei a culpa em todas as partes do teu corpo, na água, na chuva, no tempo. Em mim, neles. Menos em você.
Eu te protegia do mundo. Um extinto capricorniano que ninguém poderia entender. Cerveja boa no copo, comida boa na mesa, e muita gente sem me dizer o que fazer. Eles abaixavam a cabeça como se soubessem de toda a minha história. Eu parecia estar vivendo tudo outra vez...
Meu melhor amigo bebendo comigo, muitas Stellas na mesa. Nossa banda no fone de ouvido, e no meu coração, minha cabeça, nas batidas e nos murros que eu dava naquela mesa, só você. Você, seus problemas, meu emprego, nosso dinheiro e uma porção de coisas que não estavam tão disponíveis assim. Arrastei por seis garrafas o sentimento do mundo inteiro, percebi que a vida não era tão simples, e nem mesmo, repetitiva. Precisei do meu dicionário de sinônimos pra definir aquilo tudo, eu tinha um só adjetivo e o seu nome na boca. Pronto, pra gritar a qualquer momento, de vontade, de raiva, e de outras tantas coisas a mais. E nem consegui. Estava pronta e a minha voz não saia. “Mas o que é mesmo que eu estou fazendo da minha vida? Porque é mesmo que eu estou me encantando por uma pessoa dessas?” Você não era disponível. A minha boca já estava dormente, não importa o quanto eu mordesse. A culpa não era das pessoas, da astrologia, da universidade. Era só minha. Eu estava certa de que empurraria o tanto que eu conseguisse tudo isso pra dentro de mim mesma, enterraria de certa forma, que ninguém que pudesse ler meus negros olhos castanhos conseguiria desvendar o que eu estava sentindo. Estava tudo bem...
Bem, como a Lua, como o sol, como o mar. Sempre ali, sempre bem, sempre disponível, sempre ao alcance dos seus braços pra quando você quisesse. Tal como eu, meu tempo, meus afazeres minha rotina. E nem era a sua culpa. Eu não poderia dizer que era. Você nem ao menos me cobrava isso. Sim, incoerente, inocente, adolescente, criança, imatura, qualquer mais adjetivo que você conseguir achar e que não esteja no meu dicionário de sinônimos. Eu boto aqui, por você, mentalmente. E por um agradecimento por tanta paciência. De estar, de continuar, de sentir. E ainda isso tudo acontecendo, tudo isso na minha cabeça, não me faziam menos sua, mais minha, pior, menos prazeroso. Eu estava à deriva dos seus mistérios e mergulhada no seu prazer.


Bruna Ferrari


¹“O cometa Halley é um cometa brilhante de período intermediário que retorna às regiões interiores do Sistema Solar a cada 75-76 anos, aproximadamente.(WIKIPEDIA)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A Breve História sobre como Dois Corpos adoraram Álcool


"So wild and free, so far from me
You're all I want, my fantasy
Oh, look what you've done to this rock 'n' roll clown

Oh oh, look what you've done..."





       O dia tinha começado errado. E eu já sabia que terminaria assim se não te encontrasse por aí. A minha sorte foi que eu te encontrei, acreditei que tinham sido as figas que fiz mentalmente depois de quatro lances de escadas. Socando as paredes, as guitarras altas no meu ouvido, e tropeçando nos degraus porque estava correndo de mais. Eu queria que passasse logo, desci as escadas o mais rápido que pude e ainda assim não parecia ser rápido o suficiente.
Era infeliz aquele momento, eu não sabia se eu me preocupava com as horas pra te ver, ou com minha vida que estava toda errada. Sim, exagerada, porque sim. Se uma coisa não funciona, eu paro de funcionar e a minha vida também. E neste momento, eu estou louca de muitos sentimentos. Meu melhor amigo quase desmaiando, várias aulas perdidas. Pouca cerveja pra tudo isso. Agarrei ele pelo colarinho, dei-lhe um banho de realidade.
“Você vai sim, e você vai ficar bem”. Você precisa ficar bem, este dia está uma merda, pensei, mas não disse.
E ficou melhor do que já estava, acredito. No começo foi complicado, mas aos poucos a gente percebe que viver a vida com culpa pelos outros é uma merda incrível. Eu já tinha me decidido parar de me importar, dar de ombros, parar com esses abismos no meu coração. E a hora ia passando, e meu estomago começava a doer (é um saco ser ansiosa também), e o dia passando, passando, passando e dando errado, mais uma vez. Soquei a mesa, ele me ouviu falar sobre tudo e ainda me disse:
“Continua! Eu sou todo ouvido! Eu sei que você precisa disso, daqui a pouco, você vai parar de olhar pra porta e vai ficar bem, ou pelo menos fingir que está. Você se esforça. Então pode continuar falando agora, aproveita”.
Aproveitei. Dois segundos. Foi o tempo de socar a mesa mais uma vez, e olhar pra fora. É, o dia estava prestes a melhorar. Eu me controlei pra não sorrir, mas foi inevitável, você me abraçou. Sentou com a gente, e eu olhando pra você pelo canto dos olhos, utilizando da minha visão periférica. Eu poderia falar mau inglês, falar tudo o que eu queria, sei lá. Mas eu não fiz nada, tudo isso não passou de ideias. Afinal, eu sou muito fraca pra essas coisas com você. Eu não queria perder nosso tempo tão valioso com isso, era besteira, era desperdício, eu poderia lidar sozinha em casa numa hora que eu estivesse menos estressada.
Era sempre assim, você vinha e arrastava tudo o que eu tinha junto com você. Como um furação que deixava rastros enormes de destruição depois que ia embora.Você sempre ia embora, era inevitável. Então eu colocava uma musica, abraçava meu melhor amigo e propunha desafios:
“vamos?!”
“VAMOS!”
E fomos com as garrafas de cerveja na mão, totalmente cheias. Tão adolescente tão wild and free que eu nem ligava tanto assim. Cambaleamos pela calçada, ele não tinha tanto equilíbrio e batia nos meus ombros a todo o momento. Era engraçado. Era engraçado demais. O caminho inteiro foi a garota que ele não conseguia pegar, o xixi, a cerveja boa, o artesanato, e a melhor parte do sexo feminino. Engraçadíssimo, daqueles que eu queria dose extra.

Ele mijou, a garota parou de ser nosso assunto principal, a cerveja acabou. Voltamos todo o caminho discutindo sobre a localização, ele já tinha passado por lá, virado a direita, a esquerda, quase fez a gente se perder de tão bêbado, mas eu lembrava as ruas certas, lembrava o que era paralelo, e o que era perpendicular. Esta cidade é uma merda, eu pensava o tempo todo. E já estávamos chegando, eu já estava pensando que o dia ia parar por ali, mas não parou. Você veio de novo, me encontrou não sei de onde, não sei como. Você sempre me encontra e ofereceu mais cerveja pra gente. Tomamos mais, querendo muito mais. E não só porque eu estava incrivelmente puta por você ser linda e me ter na mão, mas também, porque eu sabia que momentos como aquele em que você vai, se perde de mim, e volta e me acha, não eram tão comuns na sua vida. Eu valorizei isso, e passei o resto da minha noite com seu cheiro no meu nariz.

Bruna Ferrari

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Ce n'est pas un texte


“On laisse passer l'amour
On est un peu perdu
On est un peu Tordu
On fait sans blanc d'y croire
Comme si on pouvais savoir

Et on s'invente une vie
Et celle-là on y croie
Les belles histoires d'amour
Les beaux rêves d'un soir
Qui nous aide a vivre
A s'endormir moins tard
La conscience tranquille
Et plein d'espoirs


O dialogo era esse. Eu colocando as mãos nos bolsos, você por aí e um abismo no meio da gente. Meu melhor amigo me mandando mensagens no celular, me avisando sobre coisas que eram importantes. Eu ignorando. Colocando as mãos nos bolsos, procurando um espaço que eu pudesse manter meus olhos fixos e não olhar pra você. Foi difícil, mas eu consegui, achei o chão, uma sujeira pela calça, folhas. E meus olhos, como se tivesse vontade própria, voltavam a olhar pra você.
Você estava de olhos fechados, era uma zona segura. E eu? Ah, sim, eu também estava por lá. Rabiscando as folhas do caderno, quando eu conseguia tirar as minhas mãos do bolso. Olhei pro céu umas três vezes, e voltava a olhar pra você em todas as ocasiões. Eu poderia levantar devagar, pensei. Poderia fazer isso, ou me jogar dessa pequena varanda. Cogitei na minha cabeça todas as opções que incluíam, eu e aquele pequeno espaço entre nós. Sim, é daquele abismo particular que eu estou falando. Exato, daquele que é feito com areia movediça no interior. Tão profundo. Aquele abismo que estava se formando no fundo do meu peito.
Eu deveria beber mais vodca. Eu deveria cantar mais músicas, eu deveria parar de desenhar, de escrever, de querer fazer uma tatuagem, de querer sair correndo pra qualquer lugar e me esconder. Nem sei por que essa vontade imensa de me esconder estava tomando conta de mim. Quando eu percebi, já estava desse jeito. Com vários buracos a serem preenchidos, varias lacunas sobre o que eu ainda não tinha dito. Busquei até no meu dicionário de sinônimos alguma outra palavra que eu pudesse usar pra abismo. E achei: confusão, desordem, caos. Essas outras definições eram mais perfeitas do que abismo, mas abismo era uma palavra só, era exata de um jeito que eu nunca conseguiria ser.
Só que eu sou dessas pessoas que gosta de fazer o trabalho bem feito, gosta de ser competente, se importa, quer melhorar. Eu estou me esforçando pra diminuir isso, e não só, pra esconder tudo de baixo da blusa e não te causar problemas. Mas a todo o momento eu me pegava no colo de outras pessoas, pensando, escrevendo. Dessa vez eu tinha sido incompetente, todo o meu esforço foi pro chão depois que eu tive um pequeno-grande-imenso deslize. Era tanto tempo gasto em preparação pra nada. E agora, eu ficava por aqui. Minha mãe me fazia aquele questionário no caminho de volta, mas o sono me dominava, não era interessante. Cansei desse papo de você precisa ser mais família, você é o meu orgulho e nunca tinha nada no meio – não tinha nenhuma ação, que de fato, me fizesse acreditar nesse discurso que eu ouço há anos. Pelo menos entre mim e você havia o abismo, outros bocados de sentimentos e cerveja. Tinha bastante coisa até.

[inacabado por conta do tempo disponível, e dos interesses do momento].



Bruna Ferrari

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Naive


“Do you want to go to the seaside?

I'm not trying to say that everybody wants to go
I fell in love at the seaside
I handled my charm with time and slight of hand





Então eu voltei pra casa, como se fosse uma noite qualquer. Deitei na minha cama, como de costume, apaguei as luzes, mas não peguei no sono. A cama parecia errada, tinha algo faltando. Logo duvidei que fosse o barulho, ou o coxão. Arrisquei no coxão, e revirei, virei, revirei outra vez. Testei todos os seus lados. Não era o coxão. Arrisquei o barulho, peguei alguns papeis de presentes que estavam sobrando pelo meu quarto e enfiei de baixo do coxão. Minha mãe sempre disse que isso dava sorte, chamava mais presente, fiz figas pra ajudar a dormir também.
Não adiantou, levantei da cama. Procurei pelos cantos qualquer pedaço de coisa que eu pudesse por culpa pela minha insônia. O vilão ao pé da cama, a luminária que não funcionava, a parede que não era da minha cor preferida, todo aquele quarto que não tinha a minha cara, mas era meu. Cambaleei no escuro. Aquele peso no coração, nada na mão e a insônia me perseguindo, tomando conta de mim, sussurrando no meu ouvido. O seu nome, o seu cheiro, o seu jeito, o seu corpo. Tudo teu que eu não consegui deixar naquele lugar, naquela rua, naquele dia. Arrastei tudo pra dentro de mim, engoli seco como se não fosse nada, como se eu não sentisse a sua falta. E voltei pra cama.
Eu tinha voltado pra cama num ato previamente falho. Eu deito sabendo que não vou dormir. E todas as noites que eu te via pareciam ser assim. A minha mala já estava cheia de saudades antes mesmo de você partir, as minhas roupas pareciam ter sempre o seu perfume, e o meu corpo até parecia modelado pra você. Estava tudo com você, e eu preenchida de insônia pelos quatro cantos do meu quarto. Assim, como se fosse simples, inundada. Eu boto a culpa na falta de sono do porque eu penso tanto em você, mas você e eu sabemos que não é desse jeito que as coisas acontecem. Você estava comigo há menos de uma hora, e agora fica um vazio imenso e incontrolável. E agora eu fico pensando: “talvez você pense em mim também”. Fico calada pra não chorar na sua frente e te dizer que eu vivo o presente, e que por hora, apesar dessa insônia, você foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
Eu não conto quantas coisas que não gosto no meu quarto quando eu volto do choque de animo que você me dá. Quero perder a vergonha e dignidade – o que eu perdi, ainda não me é o suficiente. Metade do mundo pode dizer “menina, você é jovem demais, existe muita coisa ai por vir”. Exato, é assim, forte e impuro e jovem e precipitado. Exatamente como eu gosto que seja e escondo isso dentro de mim. Não, eu diria. As coisas que estão por vir nem aqui estão, deixe-me pensar no que eu tenho, por hora porque é isso que me faz viver. E aqui, na insônia, no escuro do meu quarto, com a luminária quebrada, o violão no pé da cama, e a parede que não é pintada da minha cor preferida, eu digo que só falta você pela noite inteira. Falta você, e todas as coisas de mim que você levou embora no metrô.




Bruna Ferrari

domingo, 19 de outubro de 2014

Overdose

”Well I'm here to tell you now each and every mother's son
That you better learn it fast, you better learn it young'Cause someday never comes”




Deveria ter começado esse texto com “Era uma vez”, assim no final, ia parecer um conto de fadas. Pais poderiam ler pros seus filhos. Poderia ter um final feliz, ou talvez eu chamasse ainda mais atenção porque a minha história não teria um final feliz. Tudo bem, eu já comecei a escrever do jeito errado, vamos terminar do jeito errado também.
Eu já sabia que algumas coisas poderiam não fazer sentido, que em algum lugar de mim mesma tudo o que eu fazia era um esforço enorme pra não gostar tanto de você. E nessas, eu fazia o que eu não podia, eu largava a mão de muita gente. Dois espaços, um canto, qualquer coisa que preenchesse por completo essa vontade e essa raiva também. Sim, raiva, daquelas que a gente se odeia por gostar, se odeia por querer, se odeia por se esforçar por completo por dois minutos, dois abraços, um domingo, uma tarde, o quer que seja. Isso no fundo é muito bom, dá tempo, dá gosto, dá mais vontade. Tanta vontade que não pode ter.
Era assim, e nem tinha “era uma vez” na nossa história. Continua não tendo, e também continuo sem entender a sua paciência, a sua serenidade ou o jeito que você me escondia as coisas. Seu olhar parecia misterioso. As mãos, a disposição do rosto, o jeito de andar, tudo estava misterioso como se não nos conhecêssemos. E olha, você sabia dos meus segredos todos, mas eu tinha que te desvendar. Pra você, eu não tenho aquela cara de psicóloga que todo mundo pensa que eu tenho, meu sexto sentido não funciona com você. Ele falha, e isso só me deixa com mais raiva. Eu sinto vontade de te morder, arrancar um pedaço, levar pra casa, colocar num potinho pra eu poder fingir que você continuaria aqui quando eu acordasse.
Penso que eu deveria sumir da sua vida e da vida de todos a minha volta, eu não sei se eu adiciono tanta coisa assim como você fala. Eu sei que eu quero que você goste de mim demais também, mas não tem jeito. Você sabe. Você sabe de todas as coisas que me fazem ser quem eu sou, e eu fico apalpando algo pra me segurar e não me entregar, tão mais profundamente do que eu tinha feito da ultima vez.

Eu fico me metendo no meio de tanta gente, e olha ai o que acontece: eu levo pra casa todos os dramas, porque eu faço todas as simples situações serem coisas que podem acontecer com você. Coisas que poderiam ser suas. Eu entendo. É meu erro, é minha culpa, por hora, eu estou esta merda. Esse era o motivo pelo qual eu gostaria do “era uma vez” no começo, acho que ia dar um ar encantador. No mínimo, iria ser poético. Nada mais.



Bruna Ferrari

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Caneta Nanquim

“O que você é enfim?
Onde você tem paixão?
Segue por aí
Eu não sou ninguém demais
E você também não é
É só rodopiar
Em busca do que é belo e vulgar


Hoje o dia era isso. Eu tinha gasto alguns centavos tentando me fazer feliz e alguma coisa estava sobrando no meio desse espaço. Acompanhei o resto do quadrinho andando pela cidade, até tinha tropeçado umas duas outras vezes de tão incessavelmente interessante que estava. Prestei atenção em todos os detalhes, como se cada quadro soubesse mais sobre mim, e como se saber o tipo de enquadramento me ajudasse em alguma coisa. Provavelmente, eu estava sentindo inveja, porque todo mundo tinha o seu próprio jeito de desenhar, menos eu. Eu desenhava mangá, e um mangá bem dos ruins, daqueles que se parecem com um muitos outros.
Voltando pra casa eu percebi que errei nos seus olhos, na disposição do rosto, na posição daquele desenho que eu fiz de você e que agora era seu. Não dava pra consertar. Era um saco pensar que tudo estava de caneta nanquim e que mesmo que eu tentasse corrigir, o trabalho seria atrapalhado. Eu corria o risco de perder o desenho inteiro, esses pequenos rabiscos tinham um grande significado pra mim.
Decidi que faria da minha vida com você algo parecido com caneta nanquim no papel, que quando a gente erra é bem difícil de concertar o erro – quase impossível. É difícil de fazer de novo, de fazer ser bonito como era antes, de ter o mesmo encanto. É preciso jogar a folha toda fora, e recomeçar o trabalho delicadamente, tomando cuidando pra não esbarrar a mão na parte da tinta que ainda não tinha secado e borrar tudo. Minha vida com você seria isso. Seria como um desenho feito direto a caneta nanquim, e eu me cobraria pra não manchar as partes que estavam boas, e bem desenhadas, do jeito que queríamos.
Só que no meio daqueles livros, daquela gente, e do seu sorriso, era complicado demais disfarçar as vezes que eu tentava ficar mais perto de você. Você virava, e eu logo desviava o olhar pra você não perceber que eu estava morrendo de vontade. Os meus mangás preferidos atrás de mim, mais a esquerda, você a direita, uma porção de textos atrasados, sem nexo, na minha frente. Mesmo assim, toda a vez que eu fechava os olhos mentalmente, eu não conseguia ver muita coisa. Éramos só eu e você, e todas as outras coisas que nós gostávamos, que tínhamos desenhado nessa folha em branco – com caneta nanquim – e já estava seco. Pode ser que, pra mim, fosse mais difícil de compreender qual o motivo pelo qual eu me encantava tanto com você mesmo depois de tanto tempo. E tinha passado muito tempo depois daquela vez que a gente nem sabia como dar as mãos direito, onde colocar o resto do corpo...
Sim, desse jeito tudo era mais difícil, e ainda parecia difícil não sentir ciúmes dos seus olhos em qualquer outro lugar que se não olhando pra mim. Você mal sabia que eu conhecia todo o seu corpo nos meus sonhos, e que de noite, você me dava boa noite antes de dormir. Eu procurava esquecer os obstáculos que tínhamos pela frente, como se daqui há alguns quadros o nosso livro fosse chegar ao fim, mas sempre houvesse uma continuidade. Eu também tinha feito propaganda sua para os meus melhores amigos. Eles te olhavam com desconfiança, eu ria. Eles mal sabiam o que se escondia por de trás dos seus olhos, dos seus cabelos, das suas mãos, do seu corpo, das suas pernas. Ainda estou me perdendo nisso tudo, mas percebo que consigo me encontrar mais facilmente do que muita gente por ai. Isso me faz bem.
Isso me faz tão bem quanto pensar em você no meio da noite, e aí, você sabia o que acontecia comigo como dizia o que eu pensava sem eu ter que dizer nada. Depois disso, eu chorava, eu me culpava. Mas quando você voltava, eu nem me lembrava das vezes que eu chorei tanto por alguém que havia me trocado, me magoado, mentido pra mim. Eu só queria estar com você, e eu estava. Inteiramente. Inteiramente mergulhada na sua energia que passava pro meu corpo, os nossos chakras se alinhavam de um jeito que eu não saberia como expor em palavras – tudo poderia não ser tão sensacional pra você quanto era mim, e essa era a primeira que eu não me importava em assustar alguém com o precipício que eu formava na minha alma. É isso. Eu tinha aprendido a não gostar de gente que ficava em cima do muro depois desse ultimo tombo. Ou vem, e me pega. Ou vai embora, e me larga.
Você tinha decido ficar e fazer diferente. Ou talvez fosse o quadrinho e meu mangá preferido que tivessem mexido com a minha cabeça e eu nem tinha percebido. Sim, com muitos “E”s, porque você estava sendo mais adicional que uma oração aditiva na minha vida. Mais adicional, mais encantadora que todas aquelas aulas que eu passava o dia assistindo, ou que eu mesma dava...
Você decidiu ficar e fazer diferente. E eu nem aceitava mais você colocar a culpa nos seus anos, eu não me importo quantas primaveras você tenha a mais que eu. Porque quando você me abraçava, eu sentia que de alguma forma, você voltava criança. E eu também voltava a ser uma criança indefesa e inofensiva, apenas esperando o seu toque. Meu corpo estremecia, a minha cabeça dava voltas – não era culpa do álcool – e seu cheiro se espalhava pelo ambiente me fazendo querer mais mais mais mais mais mais. Me fazendo querer te colocar em cima daquela mesa de bar, arranhar suas costas, te deixar marcas onde você pudesse se lembrar de mim pra ter certeza que você se lembraria muitas vezes ao dia e não só quando estivesse trabalhando, afinal, eu tinha te confessado que meu mangá preferido estava lá. Depois disso, eu duvido muito que você olhe praquela estante da mesma forma.



Bruna Ferrari

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mais que Indie, mais que Vodca

"Will you ever change?
The way that you fiddle and you rearrange
The little pieces of your life you keep
So close to your chest
I know you care"


Outra vez, você estava do meu lado como se fosse pra sempre, e mesmo com todos os nossos combinados, eu ainda pensava uma ou três vezes antes de dizer pra você que eu gostava de tudo aquilo, que talvez eu quisesse repetir a doze e sentir um monte de coisa de quando você me diz que me quer, que gostava de mim “pra caralho”. Acho que mais uma vez eu considerava todos os nossos combinados porque eu sou nova demais, porque eu não presto – é o que dizem – e porque o mundo do seu lado parecia mais feliz.
Só que aí você ia falar sobre aquilo de novo, e eu ia me sentir errada e não iria entender qual era o meu papel na história da sua vida. Eu iria me sentir sem papel nenhum. Às vezes, até parecia que você não entendia as coisas que eu sempre te disse sobre não conseguir aceitar o que quer eu fosse, sobre não entender porque as pessoas se preocupavam tanto em olhar nos meus olhos e não dizer nada. “Você é legal, muito legal. Você é bonita, é simpática, é comunicativa, é confiável” e mesmo assim nada disso parecia ser um motivo forte o suficiente para que as coisas continuassem. De alguma forma, eu me sentia errada e deslocada, como se estivesse tirando o seu futuro perfeito fora do eixo, e mexendo com a sua cabeça sem parar, só pelo fato de que é tão bom pensar que você pensa em mim também.
Enfim, eu era esse mínimo de pessoa que alguém pode ser, e que abandonava as pessoas quando elas davam trabalho demais e eu não tinha paciência o suficiente pra aguentar o drama aquariano, leonino, escorpiano, virginiano, capricorniano. Enfim, eu era essa pessoa enrustida, que as pessoas riam das coisas que eu fazia tentando superar o que eu também havia mais sofrido na vida. Sempre considerei que o sofrimento de cada um fosse proporcional a idade, mas eu tinha reconhecer que mesmo com a idade que você tinha, você era demais. Você sempre foi. Acho que você sempre será. Mesmo sem querer, eu já até tinha pensado no dia que estaríamos a sós, e você iria soltar todos aqueles dramas dignos do seu signo. Eu me aproveitaria da ideia, te pedia desculpas depois, a vida seguiria ao normal.
Só que eu continuei travada apesar dos enfins, e percebi que, talvez, na sua vida exista um espaço muito grande pras outras coisas que eu não consigo mais considerar. Eu sempre tive medo de conhecer que eu gostava tanto de alguém assim, por isso, eu evitava te dizer as coisas que sentia, que ainda sinto, aliás. Era evitar a barra pra você, tinha um traço heroico nisso tudo até você me ligar, até você estar perto de mim, até eu me perder em você, e até você sem querer dizer que não – por uma coisa tão mínima. Eu lidava com todas as outras coisas, menos a ultima; mesmo sem querer era difícil demais pra mim, era pensar que tudo poderia voltar, era pensar que você tinha a chance de ir embora a qualquer momento sem ao menos me dizer que voltava, ou pra onde ia, ou que tinha adorado estar na minha companhia.

Eu prefiro você assim, sabe? Prefiro que você continue sendo essa “metamorfose ambulante”, ao ser mais um desses hipócritas espalhados pela rua. Eu nunca vou ter coragem de te dizer “para, eu to me magoando com você desse jeito”, porque eu sei que ter você é mais importante do que todas essas coisas que me magoam. Acho que ter você, beijar você, ter o seu cheiro pela minha roupa é mais importante do que me preocupar se eu poderia ou não te abraçar naquele momento. Eu acho que ter você comigo é uma das coisas mais importantes do mundo, e eu gostava disso, mesmo sendo pela metade, mesmo sendo mais ou menos, eu gostava disso... Mais que Indie, mais que vodca. 




Bruna Ferrari

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Indeed

“Since I was born
They couldn't hold me down
Another misfit kid
Another burned-out town
I never played by the rules and I never really cared
My nasty reputation takes me everywhere

Eu não sei se foi medo de dar mais alguns passos adiante e confirmar que sim, era isso. Sempre foi e sempre tinha sido desde aquela tarde em que a gente se enturmou. Ou se era medo de parecer ridícula demais, sentir demais, gostar demais, porque, sabe... Isso sempre foi um problema muito grande em mim que as pessoas insistiam em notar.
Dessa vez, eu não sabia de fato o que era. Talvez porque não era nada, ou talvez só fosse isso de tentar sustentar tudo. Ou talvez só fossem as coisas que eram difíceis de lidar. E sempre tinha algo assim, existia sempre uma pedra no caminho que me incomodava bastante. Incomodo que não era aquele de segurar as mãos dentro do bolso, morrendo de vontade de pegar nas suas, mas esperar que você desse o primeiro passo. Incomodo que não era aquele de quando você não olhava nos meus olhos, e qualquer outra coisa te tirava atenção. Eu não sei o que era, nem o que seria, nem o que podia ser. Eu insistia em ver nenhum erro naquilo. Nossos dias não eram Rock ‘n Roll, não eram daqueles que a gente saia pra um monte lugar aonde só os bacanas iam. Nossos melhores dias eram tardes andando por aí e desperdiçadas ao pé de uma arvore – que sabia mais os seus segredos do que eu.
Mesmo assim, eu sabia que o beijo de despedida chegava, e eu ia ter que lidar com pensar em você no meio desse caos todo que é a minha vida – uma delicia. No meio dessa gente estranha que me achava estranha por deixar todo mundo meio mais sozinho pra ir falar dois segundos com você. Sim, eu sou tudo isso. Inteira. E eu não sei ser diferente, tenho um monte de pedaços pra desperdiçar. Agora, você pode desperdiçar a parte de eu não ter coragem pra fazer nada, pode pensar de novo e reconsiderar se deveria estar aqui, porque eu te meti nesse nó. Aquele nó do seu pescoço que eu não sabia fazer e morria de inveja, porque eu morri tentando. Fazer esse nó e desfazer os outros que tinham na minha vida. Ele estava lá, no seu pescoço. Era quase impossível de não olhar. Eu preferia que o meu tempo livre fosse gasto assim se não houvesse outra forma, porque toda a vez que você ia embora, eu também morria de vontade de te pedir pra ficar.

Bruna Ferrari

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Patético

“Now when she tells she's gonna get itI'm guessing that she'd rather just forget itClinging to not getting sentimentalSaid she wasn't going, but she went still

Eu preciso dizer que já não aguento mais. Talvez a cara de alguns, o desprezo de outros, ou a possível luta social de tantos. A vida está patética, e viver no tédio é a consequência de muitos anos tentando sobreviver no meio de zumbis cheios de aparência. A diferença é que dessa vez eu tinha decidido ir contra a maré, não me preocupar com os olhares rasgados e indiferentes, sair usando gravata por aí, sei lá. Acho que todo mundo ia pensar que desse jeito a vida poderia ser mais patética ainda, e eu iria acabar ouvindo um belo mesmo-discurso-de-meio-mundo sempre com as mesmas palavras: “sim, eu concordo, mas não eu, eu não sou assim”. Você é sim, todo mundo é um pouco. Não sei por que se esforçar pra dizer que não, deixa todo mundo saber que sim. Sem problemas nenhum.
Já comprei meu passaporte de ida pra esse tal abismo que é ser julgada. Não tem volta, vai ser como viver no presente, porque tá faltando ser assim. Mas está faltando tanta coisa que isso seria nada mais que incrível. E alguns momentos a vida voltaria a ser uma merda, ninguém estaria do meu lado por conta disso. Eu não somaria muita coisa, eu não faria o que queriam de mim, eu não deixaria que os dedos apontados na minha cara me ofendessem. Eu ia ser pior do que sou hoje. Eu iria subir no altar com todo mundo sabendo, todo mundo não concordando, todo mundo querendo me tirar dali a tapas. E eu faria isso com muito gosto e com muito sorriso, eu tenho aqui meus argumentos, eu tenho também os meus motivos pessoais e quem quiser procurar saber, vai ter me procurar também. Mesmo que eu esteja jogada na cama bêbada e sem conseguir dizer uma palavra, porque se meu fígado é forte, eu também sou.

Eu sou forte e vocês deveriam parar pra pensar nisso. Ou seja, tudo o que me dizem é insignificante, é mínimo e ridículo. Eu estou me dando o trabalho de escrever sobre isso, porque eu não quero que me digam que o meu sofrimento semanal não foi nada, ou que eu nunca deixei transparecer que eu precisasse de algo, ou que nunca dissesse qual é o meu problema. O meu problema é esse, não é fazer cruz ao entrar sair porque acredito, é ver essa gente olhando pra mim como se eu fosse algum tipo de aberração que lê bem, escreve bem, e “até que é uma boa menina”. Não exijo grandes coisas, a vida patética mesmo assim. Está patética até no escuro do meu quarto, onde eu achei que coisa nenhuma pudesse me atingir.

Bruna Ferrari

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Reaça

“Não, velho, tá tudo errado. Deixa eu te explicar, você tá confundindo muito esses conceitos...”
       
Por hoje eu vou parar a minha luta diária, vou esperar um instante pra voltar a defender meus ideais e rezar. Vou deixar de lado aquelas duas que tanto que me chateiam, vou me esquecer de todos os meus trabalhos atrasados, ou de todos os textos que eu ainda não li. Porque hoje é um dia especial.
        Hoje, é aquele dia em que a gente para e pensa em uma pessoa e já não consegue mais olhar pra ela sem pensar em tudo o que ela fez por você. E ela fez muito, e ela fez tanto com tão pouca coisa que fica até difícil de explicar como eu notei tanto. Eu agradeço, mas não aos céus, porque esse benefício é humano. Ele parte de você e das coisas que nós temos, e quem sabe se não fosse por isso, a gente nem estaria se cumprimentando pelos corredores agora. E quem sabe, se não fosse por isso, eu ainda estaria numa fossa tremenda por não ouvir todos os seus conselhos. Não porque são seus, mas porque são bons e fazem mais sentido do que a maioria.
        Você vai contra a maré, você faz tudo diferente. Você muda e é independente. Você sabe bem o que quer, e o que não quer por perto. Confesso que muitas vezes espero que você me chame de mais nova, porque é engraçadinho te ouvir dizer isso. É tão engraçado quanto ouvir minha melhor amiga falar do quanto ama o namorado. Deve ser por isso que eu te acho uma pessoa tão prática e ao mesmo tempo tão complicada, porque é difícil pra eu entender como a vida pode ser simples desse jeito. A amizade é simples como você, e um monte de outras coisas também.
        Mas hoje, além de ser especial, é também um pouco triste. É triste, porque eu não sei como te agradecer por tudo o que fez, e nem sei se tudo isso vai ser suficiente. Entendo que houve outras pessoas que me ajudaram também, e não gostaria que elas, ao lerem esse texto, pensem que eu estou desmerecendo o que fizeram. Só que você foi um pouco além. Mal me conhecia, já chegou assumindo responsabilidades. Hoje é também triste, porque eu sei que eu não vou conseguir reproduzir aquele sentimento de quando você me fez sorrir enquanto conversávamos de assuntos sérios e éticos. Eu não vou conseguir dar um presente a altura, muito menos algo que você mereça.
        Eu te dou o que eu posso e o que eu tenho, e o que sei fazer de melhor. É ser amiga, escrever sobre, e agradecer. Se ainda nada for especial o bastante, eu volto e refaço tudo, mas acho importante que fique aqui registrado o meu agradecimento e os meus parabéns.

Bruna Ferrari

domingo, 15 de junho de 2014

Aquela Pessoa

“Eu tentei me manter afastado, mas você me conhece, eu faço tudo errado...”.


Sinto muito. Eu não aprendi. Todo mundo me conhece, talvez saiba como eu sou. Eu sou assim, eu fui desse jeito aí, mas eu ainda não aprendi. Tenho um sexto sentido de saber quando a coisa vai acontecer, e sempre acontece. Dessa vez eu até tinha dado dicas, tínhamos conversado de monte e não dito nada mesmo assim. É muito fácil dizer nada, quando há mais nada para dizer.
Não sei ainda o que está acontecendo comigo, nem sei no que tudo isso pode terminar, nem sei o que está acontecendo com você, nem sei o que está acontecendo com o mundo. É, eu não sei de nada, e é bem melhor assim. Sair correndo e deixar tudo pra trás, com a impressão de que nada, de fato, existiu. Aposto que quando eu abrir os olhos, eu vou estar em outra dimensão, vou descobrir coisas novas, pessoas novas, e vou ter uma outra vida. Porque sempre chega uma vez que as coisas cansam, as roupas ficam velhas demais pra serem usadas, o tênis fica gasto e é preciso trocar tudo, comprar novo. A minha vida já está gasta demais. Eu vou deixar ela pra trás, e aconselho que você também faça o mesmo, se já não é que está fazendo.
Vamos guardar tudo em uma caixa. Eu já tirei as suas fotos do meu quarto, lavei todas as blusas que ainda restavam o seu cheiro. Está tudo novo outra vez. Arrumei novos hobbies, li mais coisas em inglês, falei com meus antigos amigos, até tomei bronca de quem não deveria. Eu sou desse jeito, lembra? Eu sou aquela pessoa que deixa as pessoas chorando e não chora por elas; eu sou aquela pessoa que vai sempre estar do lado, mas sem nada interessante pra oferecer; eu sou aquela pessoa... Aquela pessoa que todo mundo diz que gostaria de ter, mas não quer, eu sou aquela pessoa que sempre tem algo de errado demais pra poder tentar.
Eu sou aquela pessoa, que dá a vida por uma causa sem sentido e que sorri e finge que não vê, porque me ver magoada pode te decepcionar. Você me tem fácil demais, nem dá conta disso. Você tem tudo fácil demais, e eu vou continuar sendo aquela pessoa... aquela pessoa do “apesar dos pesares, eu continuo aqui, pronta”.



Bruna Ferrari

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Valendo

“Para todos aqueles que me importo, e para todos aqueles que ainda gostam de mim. Aqui vai um desabafo, e uma despedida, mas também um agradecimento por terem me feito aguentar muito mais do que eu pensava que podia lidar.
A todos vocês, eu devo parte da minha vida. Ou até mesmo, ela toda. Eu estarei com vocês sempre, mas de outra forma, com outro jeito. E nunca duvidem da minha infinita misericórdia e do meu companheirismo absurdo.

Com carinho, B.”


Parei. Eu simplesmente decidi que vou parar e parei. Seco e com tudo o que me resta. Já errei muitas vezes, e é sempre a mesma desculpa. Alguém quer ser feliz vai de bar em bar, volta por aí com as mesmas coisas na mão de antes, um mundo. Diz que não dá, mas nunca dá. Pra mim, nada nunca dá. Então eu decidi parar, e vou parar. Eu já parei.
Já soltaram da minha mão tantas vezes, porque não sabiam lidar com aquilo. Numa manhã, tudo desabava, e depois tudo voltava ao normal e eu continuava ao acaso, ali, do lado. Esperando a hora que ia chegar a minha vez de ser feliz também, de algum jeito, no meio daquele desespero repentino. Eu percebi que o problema era eu, ou que eu tirava traumas de um jeito fácil, em que as pessoas procuravam outras e conseguiam lidar com tudo que diziam pra mim jamais conseguir entender, compreender, ou viver. Sou errada, e isso é um fato. Agora eu simplesmente aceitei, e vou fazer como o resto dessa gente por aí. Vou caminhar devagar, olhando as vitrines e tropeçando na calçada. Ninguém acredita que vai morrer amanhã pra viver a vida intensamente.
Ninguém acredita em nada disso do que eu tenho pra oferecer, e quando eu ofereço, é só o tempo de eu fechar os olhos, que já tem obstáculos, eu já sou errada outra vez, que já está fugindo pelos cantos tentando não me encontrar, que já não sabe como dizer que não quer. Mas tudo bem, esse é o meu texto, e eu estou escrevendo para fazer como todo mundo faz: lamentar da minha vida e de como todas as pessoas fogem de mim do mesmo jeito. “Intenso demais pra ser”, “não é a hora certa”, “eu não estou pronto”, “não é você, sou eu” e todas as outras mais desculpas que eu estou cansada de ouvir, mesmo de gente que eu não me importo tanto assim, que confunde o que eu sinto, que não entende o que eu digo, mas mete meu coração no meio, toca na minha ferida, tira a casquinha e deixa sangrando. Isso é tudo o que eu sou, e o que fizeram de mim.
Sem sentido. Eu não faço sentido. E essa noite eu simplesmente parei de ser. Vocês vão conhecer o que eu era antes, e vão desejar fortemente que o que eu tenho agora volte, mas eu não vou voltar. Agora, eu vou ser assim. VALENDO.


Bruna Ferrari

sábado, 24 de maio de 2014

15 dias

“And we know that it could be
And we know that it should
And you know that you feel it too
[…]
Back to the street, back to the place
Back to the room where it all began,
Back to the room where it all began…”



E agora? Eu perguntei a mim mesma. Quem é que iria me deixar marcas no pescoço? Quem é que iria me fazer sorrir apenas com um olhar? Quem é que de vez em quando ia cair nos meus abraços de tanta insegurança, e me dar mordidas nas costas das mãos? Quem é que ia perder o ritmo da respiração toda a vez que me beijasse? Quem é que teria aquele olhar para me deixar sem jeito com as coisas que eu sinto?
Onde ficariam as minhas mãos? No bolso, talvez. Onde ficaria o seu castanho tão-lindo? Na lousa, eu tinha certeza. E todas aquelas outras coisas que você me guardava pra dizer ainda estavam espalhadas por ai, porque você não aguentou e eu entendia tão bem. Você mal precisava dizer e eu já sabia... Você foi mais que heroica, eu poderia escrever um romance e ficar rica com a nossa história-de-nunca-acabou. Você foi linda, mais uma vez.
O seu batom não ia ficar mais na minha boca, o seu cheiro não ia ficar mais na minha blusa, no meu nariz, no meu quarto ou em todo o lugar que eu fosse. As suas mãos iam se perder por aí, você olharia baixo todas as vezes que me encontrasse pelos corredores, e nós andaríamos a solta como se nada tivesse acontecido – eu sabia fingir, você aguentava esconder. Eu não ia mais sorrir tirando os fios loiros de cabelo que ficavam na camisa. Você não iria mais agarrar no meu braço, sorrir pra mim, suspirar e apertar a minha mão forte, como se fosse muito mais do que éramos no momento – como se fossemos o que nós queríamos, de fato, ser. Eternas.
E agora? Eles me perguntavam. Eu ia cantar suas músicas, ensaiar os seus passos, esquecer aquela foto por alguns instantes e me lembrar do peso do seu corpo contra o meu, e de como as pessoas nos achavam lindas juntas. Vou dançar sozinha, cantar sozinha. Recomeçar outra vez, guardar a sua chance num potinho – porque as chances que eu te dei, todas elas, estão comigo conservadas no formol. Quem sabe eu não tentaria parar de escrever tanto sobre as coisas que eu gosto e começasse a me esforçar mais para fazer as resenhas... Ou talvez não, porque dessa vez, eu tinha largado todo mundo. Dessa vez, eu tinha começado com o pé direito. Nós estávamos sempre a mercê de um beijo acidental, não podíamos  ficar tão próximas e já era um perigo. O corpo pedia.
Nossa respiração combinava, eu ficava sem jeito de você perceber e você ficava sem jeito de eu perceber que você percebia. Você também mudava quando estava comigo... E essas eram as coisas que eu mais contava pra minha melhor amiga, ela adorava quando a gente se dava bem, porque ela é minha irmãzinha. Nem o nome dela eu posso mais chamar, de repente, eu sei que vou chamar você também. Volta tudo outra vez, eu me sinto um nada, e volto a chorar, desacreditando da vida e de mim. Dessa vez, eu não sabia por que eu chorava. Você não me magoava, você só me deixava. Então, eu vou ficar nessa como nos outros quatro anos que eu não sabia o que fazer. Eu vou respirar, e não desistir.

Eu sempre vou estar do seu lado pra quando você me quiser. 

domingo, 18 de maio de 2014

Castanho

“Back to the street, back to the place
Back to the room where it all began…”


Ainda me é estranho ficar aqui falando sobre os seus olhos já na minha terceira folha de caderno rasgada, quando isso deveria ser só coisa da semana em que nós conhecemos e que agora se estende até o fim de semana e sabe-se lá mais quanto tempo. É algo muito severo ficar esperando mais respostas, ficar esperando que toda essa tempestade passe de vez. É muito severo, agora, porque penso nos seus olhos e não posso vê-los. Todos os outros olhares ficam sem graça depois que eu vejo o seu. Todas as outras pessoas não são tão interessantes quanto pareciam depois que os seus olhos cruzaram com os meus. Nada é habitualmente normal quando você está do meu lado, me olha, me abraça, segura a minha mão. Dentro de mim, uma confusão sem rumo começa.
O mundo muda. O mundo pára. A Terra gira de forma incerta. Num sentido que não existe, num momento que é atemporal. E me leva pra longe... Daqui. Eu fico tomando cuidado pra não me encontrar num abismo de repente, ou pra não ter coragem o suficiente de largar tudo e ir correndo ao seu encontro em qualquer metrô que seja. Continuo me perdendo nos seus olhos tão-castanhos, na disposição do seu rosto, no ritmo da sua respiração toda a vez que me abraça... Eu fico nervosa. Eu não sei onde colocar as mãos, não sei como fazer, como reagir, porque tenho um grande medo que perceba tudo isso e que me largue. Então eu ficaria sem seus olhos, sem seus beijos, e sem tudo isso que nós temos agora que foi tão difícil conquistar, e aceitar que sim, nós estávamos bem, nós nos sentíamos bem e não tinha nada de errado em fazer o que faz bem.
Tudo isso, eu escrevo pela terceira vez sem contar todas as outras que você não sabe, e também sem contar sobre todos os outros textos de quando você nem estava na minha vida e eu pedia pra você vir. Agora, eles são todos seus, tudo faz um sentido imenso que até me dá mais medo de dizer: por favor, não se vá.

Bruna Ferrari

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Existências


“She's indecisive
She can't decide
She keeps on looking
From left to right

Sim, eu sou triste. Eu sou apenas mais um corpo que existe, abraça, beija e ama e que não faz muita diferença. Viver enche o saco. Aguentar aulas chatas enche o saco. Ter que respirar enche o saco.
O mundo é isso. A gente fica enchendo o saco com um monte de coisas, disserta sobre a existência do outro e se acha culto, mas no fim, ninguém sabe de nada. Ninguém sabe dizer sim com amor, nem não com fervor. Ninguém nem ao menos consegue não amar alguém acidentalmente.
Sim, eu sou triste. E você tem todo o direito de dizer que tudo o que eu falo nunca fez sentido, que minha caligrafia sempre muda quando eu escrevo e que eu não posso ter razão porque é sempre outro alguém que escreve por mim. Você pode dizer tudo isso, e a humanidade vai continuar existindo, fumando, bebendo e amando. Nada de catastrófico vai acontecer vai acontecer quando tivermos mais problemas, então não esquenta com tanto. Vamos pegar aquele chocolate ali na mesa, prestar mais atenção naquele incenso queimando e acender uma vela aos nossos deuses. Vamos ser tristes, porque é de direito, vamos ter o saco cheio porque não há mais o que fazer.
Um brinde ao tédio da nossa existência.


Bruna Ferrari