“Take me, love me
”
Voltei tropeçando e pensando sobre a
vida. Não, não era culpa da minha embriaguez, muito menos dos meus amigos que
se importavam tanto comigo e acabaram percebendo o que não deveriam ter
percebido. Era sua culpa mesmo, e eu mesma sabia que afinal, você não tinha
culpa nenhuma. Eu era boa demais, concordava demais, me esforçava demais e de
vez enquanto, batia aquele pensamento “mas o que é mesmo que eu estou fazendo
da minha vida? Porque é mesmo que eu estou me encantando por uma pessoa dessas?”.
Uma pessoa dessas, dessas que não dava pra negar que era encantadora, incrível.
Botei a culpa em todas as partes do teu corpo, na água, na chuva, no tempo. Em
mim, neles. Menos em você.
Eu te protegia do mundo. Um extinto capricorniano
que ninguém poderia entender. Cerveja boa no copo, comida boa na mesa, e muita
gente sem me dizer o que fazer. Eles abaixavam a cabeça como se soubessem de
toda a minha história. Eu parecia estar vivendo tudo outra vez...
Meu melhor amigo bebendo comigo,
muitas Stellas na mesa. Nossa banda no fone de ouvido, e no meu coração, minha
cabeça, nas batidas e nos murros que eu dava naquela mesa, só você. Você, seus
problemas, meu emprego, nosso dinheiro e uma porção de coisas que não estavam
tão disponíveis assim. Arrastei por seis garrafas o sentimento do mundo
inteiro, percebi que a vida não era tão simples, e nem mesmo, repetitiva.
Precisei do meu dicionário de sinônimos pra definir aquilo tudo, eu tinha um só
adjetivo e o seu nome na boca. Pronto, pra gritar a qualquer momento, de
vontade, de raiva, e de outras tantas coisas a mais. E nem consegui. Estava
pronta e a minha voz não saia. “Mas o que é mesmo que eu estou fazendo da minha
vida? Porque é mesmo que eu estou me encantando por uma pessoa dessas?” Você não era disponível. A minha
boca já estava dormente, não importa o quanto eu mordesse. A culpa não era das
pessoas, da astrologia, da universidade. Era só minha. Eu estava certa de que
empurraria o tanto que eu conseguisse tudo isso pra dentro de mim mesma,
enterraria de certa forma, que ninguém que pudesse ler meus negros olhos
castanhos conseguiria desvendar o que eu estava sentindo. Estava tudo bem...
Bem, como a Lua, como o sol, como o
mar. Sempre ali, sempre bem, sempre disponível, sempre ao alcance dos seus
braços pra quando você quisesse. Tal como eu, meu tempo, meus afazeres minha
rotina. E nem era a sua culpa. Eu não poderia dizer que era. Você nem ao menos
me cobrava isso. Sim, incoerente, inocente, adolescente, criança, imatura,
qualquer mais adjetivo que você conseguir achar e que não esteja no meu dicionário
de sinônimos. Eu boto aqui, por você, mentalmente. E por um agradecimento por
tanta paciência. De estar, de continuar, de sentir. E ainda isso tudo
acontecendo, tudo isso na minha cabeça, não me faziam menos sua, mais minha, pior,
menos prazeroso. Eu estava à deriva dos seus mistérios e mergulhada no seu
prazer.
Bruna Ferrari
¹“O cometa Halley é um cometa brilhante de período intermediário que retorna às regiões
interiores do Sistema
Solar a cada 75-76 anos, aproximadamente.” (WIKIPEDIA)
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