quinta-feira, 13 de novembro de 2014

A Breve História sobre como Dois Corpos adoraram Álcool


"So wild and free, so far from me
You're all I want, my fantasy
Oh, look what you've done to this rock 'n' roll clown

Oh oh, look what you've done..."





       O dia tinha começado errado. E eu já sabia que terminaria assim se não te encontrasse por aí. A minha sorte foi que eu te encontrei, acreditei que tinham sido as figas que fiz mentalmente depois de quatro lances de escadas. Socando as paredes, as guitarras altas no meu ouvido, e tropeçando nos degraus porque estava correndo de mais. Eu queria que passasse logo, desci as escadas o mais rápido que pude e ainda assim não parecia ser rápido o suficiente.
Era infeliz aquele momento, eu não sabia se eu me preocupava com as horas pra te ver, ou com minha vida que estava toda errada. Sim, exagerada, porque sim. Se uma coisa não funciona, eu paro de funcionar e a minha vida também. E neste momento, eu estou louca de muitos sentimentos. Meu melhor amigo quase desmaiando, várias aulas perdidas. Pouca cerveja pra tudo isso. Agarrei ele pelo colarinho, dei-lhe um banho de realidade.
“Você vai sim, e você vai ficar bem”. Você precisa ficar bem, este dia está uma merda, pensei, mas não disse.
E ficou melhor do que já estava, acredito. No começo foi complicado, mas aos poucos a gente percebe que viver a vida com culpa pelos outros é uma merda incrível. Eu já tinha me decidido parar de me importar, dar de ombros, parar com esses abismos no meu coração. E a hora ia passando, e meu estomago começava a doer (é um saco ser ansiosa também), e o dia passando, passando, passando e dando errado, mais uma vez. Soquei a mesa, ele me ouviu falar sobre tudo e ainda me disse:
“Continua! Eu sou todo ouvido! Eu sei que você precisa disso, daqui a pouco, você vai parar de olhar pra porta e vai ficar bem, ou pelo menos fingir que está. Você se esforça. Então pode continuar falando agora, aproveita”.
Aproveitei. Dois segundos. Foi o tempo de socar a mesa mais uma vez, e olhar pra fora. É, o dia estava prestes a melhorar. Eu me controlei pra não sorrir, mas foi inevitável, você me abraçou. Sentou com a gente, e eu olhando pra você pelo canto dos olhos, utilizando da minha visão periférica. Eu poderia falar mau inglês, falar tudo o que eu queria, sei lá. Mas eu não fiz nada, tudo isso não passou de ideias. Afinal, eu sou muito fraca pra essas coisas com você. Eu não queria perder nosso tempo tão valioso com isso, era besteira, era desperdício, eu poderia lidar sozinha em casa numa hora que eu estivesse menos estressada.
Era sempre assim, você vinha e arrastava tudo o que eu tinha junto com você. Como um furação que deixava rastros enormes de destruição depois que ia embora.Você sempre ia embora, era inevitável. Então eu colocava uma musica, abraçava meu melhor amigo e propunha desafios:
“vamos?!”
“VAMOS!”
E fomos com as garrafas de cerveja na mão, totalmente cheias. Tão adolescente tão wild and free que eu nem ligava tanto assim. Cambaleamos pela calçada, ele não tinha tanto equilíbrio e batia nos meus ombros a todo o momento. Era engraçado. Era engraçado demais. O caminho inteiro foi a garota que ele não conseguia pegar, o xixi, a cerveja boa, o artesanato, e a melhor parte do sexo feminino. Engraçadíssimo, daqueles que eu queria dose extra.

Ele mijou, a garota parou de ser nosso assunto principal, a cerveja acabou. Voltamos todo o caminho discutindo sobre a localização, ele já tinha passado por lá, virado a direita, a esquerda, quase fez a gente se perder de tão bêbado, mas eu lembrava as ruas certas, lembrava o que era paralelo, e o que era perpendicular. Esta cidade é uma merda, eu pensava o tempo todo. E já estávamos chegando, eu já estava pensando que o dia ia parar por ali, mas não parou. Você veio de novo, me encontrou não sei de onde, não sei como. Você sempre me encontra e ofereceu mais cerveja pra gente. Tomamos mais, querendo muito mais. E não só porque eu estava incrivelmente puta por você ser linda e me ter na mão, mas também, porque eu sabia que momentos como aquele em que você vai, se perde de mim, e volta e me acha, não eram tão comuns na sua vida. Eu valorizei isso, e passei o resto da minha noite com seu cheiro no meu nariz.

Bruna Ferrari

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