domingo, 19 de julho de 2015

Quatro Anos e Meio é muito Tempo

"You better run, you better run, girl"


As vezes eu queria fosse tudo diferente. Descobri da pior forma que viver é uma tarefa um tanto difícil, e caramba, agora eu fico me perguntando como foi que minha tataravó chegou nos cem anos. Não é atoa que meu vô sempre falava sobre ela beber muito. Afinal, acho que é melhor trocar um fígado por uns sorrisos e saideras, até vomito tá valendo.
Nas ultimas semanas eu dei espaço pra muitas coisas entrarem em minha vida. Enchi meu tempo livre com o máximo de novas experiencias que pudesse ter, e bem, vamos dizer que isso foi engrandecedor de alguma forma e de outra, nem tanto. Parece que quando eu consigo me desatolar daquela areia movediça que se chama religião, eu logo me atolo em outra. Nem dá mais pra culpar Cristo. Que saco, não?
Acho uma tristeza ainda pensar nesse vazio que não consigo preencher. Algo que eu ame tanto e que me queira de volta também. Tentei desenvolver os meus outros aspectos artísticos, tem funcionado, mas essa não é a minha pequena felicidade rotineira. Nao consigo por pra fora as coisas inaladas dentro de mim. Isso tem me matado bastante, principalmente porque estamos na metade do ano e estar na metade do ano significa, para mim, ter mais seis meses pra completar vinte anos. 
Vinte anos, e eu pareço que não sei de nada. Vinte anos, e quatro anos e meio a mais pra morrer. Em quatro anos e meio da pra morar junto, ter três gatos e ainda dividir o aluguel. Em quatro anos e meio da pra trocar o emprego mais de três vezes e (quase) se formar. É muito tempo que eu não sei o que fazer, tenho preguiça demais, acho que essa coisa de ser interessante, inteligente e parar de atrapalhar a vida alheia, parar de fazer draminha, não deve ser pra mim. Em quatro anos e meio eu poderia parar até de tentar ser assim, me tocar que não vai rolar, e excluir esse blog (que já tem mais que quatro anos e meio). Em quatro anos e meio já dá pra pensar em ter filhos e almoçar aos domingos com a família.
Quatro anos e meio é muito tempo.



Bruna Ferrari

sábado, 11 de julho de 2015

Reaça #2

"As vezes eu me sinto mal quando leio os seus textos, 
porque parece que eu sou uma pessoa ruim e te faço muito mal"

trilha sonora oficial: https://www.youtube.com/watch?v=pkae0-TgrRU

Constatei nesses últimos dias que eu adoro comparações e odeio igualações. E isso me fez pensar muito sobre as coisas que sou e que fui. Penso que tanta coisa aconteceu no meio do caminho que eu tive perdas e ganhos. Também penso que eu estava correndo atras da felicidade diária como qualquer outro. Eu não sei bem o que é isso, por isso eu paro pra analisar as pessoas e o que elas precisam. Não acho que é necessário dizer que você é quem eu mais observo e não só por estar mais próxima e presente, mas também por ser absurdamente linda e atraente - por dentro e por fora.
Sinto que sua felicidade cotidiana é pequenininha, não em tamanho, mas em detalhes. Um doce, um beijo, um abraço, uma surpresa, ou uma oportunidade, algo que saia dentro do planejado. Não te vi sorrir tantas vezes quanto desejava, também não te vi eufórica toda a vez que te encontrava. Acho que te vi mais exausta do que qualquer outra coisa. Perguntei muito a mesma mim o porquê daquilo.
Percebi pensando neste tempo - desde que te conheci, até agora - que você tem uma ideia bem mais clara do que eu e é uma dica bem útil: você consegue distinguir o que acontece na sua cabeça, e o que acontece no mundo lá fora. E não acredito que isso seja ser realista, necessariamente, porque sua natureza em si é sonhadora. Você é cheia de desejos, muitas vezes impossíveis. Acho que isso é ter clareza do que é necessário na vida, do que dá pra viver sem dizer, sem mostrar, sem fazer, e do que não dá, é extremo de necessário. Esta foi a sua maior contribuição para o ser humano que sou hoje. Sempre que me pego naquele pensamento de que minha vida está uma merda, mesmo sabendo que no fundo, ela só está uma merda na minha cabeça, porque eu faço os meus problemas parecem maiores do que são e valorizo demais meu sofrimento. Você me faz perceber isso num piscar de olhos.
Tenho raiva muita vezes. Tenho aquela vontade colossal de te agarrar pela gola da camiseta e te  empurrar na parede gritando: "mas o que é que você fez comigo, mina?" (usando as gírias de um jeito usualmente seu de falar). Você não fez nada. Só deu um cheque-mate na minha insegurança habitual, você só me fez parar pra pensar que eu estava vivendo nas selas que mesma me coloquei, enquanto eu só me preocupava em não deixar me selarem. Sabe... Você não fez nada além de me fazer sentir a vontade para assumir as coisas que eu sou (e não sou) e que eu gosto (e que não gosto).
Eu gosto de mangás desde que sou criança, eu também curto super-heróis e violões clichês porque nunca vou conseguir ser como eles. Meu armário é composto 90% de roupas vermelhas e pretas, eu não gosto de usar sapatos de salto alto. Eu adoro blusões e jaquetas, gravatas e camisas. Eu não tenho paciência para quem fala demais - mesmo que eu fale para caramba. Eu tenho preguiça de me socializar, as vezes. Eu crio problemas e dramas que não existem. Eu dificulto a minha caminhada nos relacionamentos, porque eu sou insegura socialmente. Eu tenho medo de assumir que simplesmente não me importo com algumas pessoas, porque tenho pena de deixa-las. Eu sou apegada e teimosa, crio caso por algo que pode ser conversado. Eu sou paciente, e compreensiva. Eu digo muito não para mim mesma muito sim para os outros. Eu sou distraída e observadora, ao mesmo tempo. Uma das coisas que me faz bem é desenhar. Sou boa com as mãos e um clichê em pessoa. Ou talvez, só sou uma completa confusão adolescente.
E eu poderia continuar uma lista inteira de coisas que agora eu tenho coragem de dizer que fazem parte de mim, porque você me fez ficar confortável com isso. Alguns desses itens são pequenas felicidades para mim, você me mostrou isso. Os seus anos de caminhada a mais também serviram para me dar um tapa na cara quando foi necessário. E neste tempo que se passou, eu continuei pensando nas formas que eu poderia te agradecer (e te dar aquele "presente" a altura que eu tanto procuro), não só por todas essas pequenas felicidades que você me apresentou, ,mas por estar presente em momentos importantes da minha vida, como meu primeiro passeio num bi-articulado. Foi incrível, é sério. 
Espero que neste dia, todas as pequenas felicidades da sua vida se multipliquem pelo triplo do numero de estrelas no universo. E que este ano a mais que você está ganhando pro seu diário de jornada na terra também sirva para te fazer descobrir outras felicidades, para te apresentar outras oportunidades e muita gente nova. Espero que você continue distribuindo abraços apertados e muita bronca com grito por isso, e que mais ainda, você também seja muito amada. Desejo que seus zilhões de pensamentos por segundo a todo o momento e sua escrita ligeira se transformem em bons textos pra aconchegar o Facebook e o coração alheio. Parabéns por mais esta primavera.


Bruna Ferrari

domingo, 5 de julho de 2015

Direções

Meus dedos congelam, mas preciso colocar no papel antes que me fuja da cabeça esta ideia nenhuma.
Há certo tempo que nada sai do meu corpo, eu me sinto tão fria quanto a chuva que cai lá fora, e despenco em queda livre numa velocidade ainda maior. Meu joelho continua doendo, acredito que por frio, depois daquele vez que eu esbarrei em umas duas ou três pessoas, ele nunca mais foi o mesmo. Acho que foi um convite pra voltar a primeira vez.
É uma coisa bizarra essa problemática de viver, parece que todas as pessoas que estão por perto não gostam do que vivem. Elas querem mudar e não sabem como. Uma pena que tenham encontrado alguém como eu e pedir alguma direção. Sou péssima com mapas e com sentimentos. Tão ruim que me sinto até culpada.
Eu pensava que a vida era simples, que todas as nossas relações se resumiam em amor e sexo, e quando poderia ser os dois, ou nenhum dos dois se chamava de amizade. Eu estava enganada. Tenho lido bastante sobre as relações humanas, tenho observado bastante as pessoas e pensado muito sobre as coisas que escuto e leio. Quanto mais eu aprendo sobre a vida, mais descontente eu fico. Até me pego lendo Fernando Pessoa e ficando ainda mais depressiva.
Sinceramente, eu não sei porquê as pessoas tem dessa de importar tanto com nomes e classificações. Ninguém se importa afinal. Ninguém se importa com o que você comeu no dia anterior pra se classificar uma pessoa saudável. Acho que as pessoas não tem tem interesse. Elas só se esforçam pra tirar uma lasca de cada um em alguma conversa, e poder adicionar uma vivencia a sua só pra não machucar. Isso explica aquela hora que seu amigo te diz "cara, eu te entendo", por mais que você tenha absoluta certeza de que sua situação é unica.
E se soubéssemos o quanto doí viver, ninguém ia querer nascer. Nos empurraríamos pra dentro do útero da mamãe com uma força monumental. A parte boa é que não contamos as cicatrizes que ganhamos por ai, não nos perturbamos com a insonia pensando que poderia ser algo mal resolvido, mas sim falta de exercício e de um bom sexo.
Pode ser que este seja o verdadeiro sentido da vida. Tirar a roupa na cama de alguém, a tal ponto de deixar todas as suas cicatrizes expostas e talvez, esbarrar com alguém tão difícil de tirar a roupa, com péssima cicatrização, como eu, pra cuidar das marcas a mais. Acrescentar algo, sei lá. Transar como se fosse divertido e significante. Como se fizesse parte, e como se a aquela história em aberto, daquele amor que ficou pra trás já tivesse resolvido.
Eu queria poder dar esta direção aos meus amigos. Queria que eles pudessem ficar tão bêbados até acreditar que não existe Deus. Queria poder dizer pra eles fazerem como eu, deitar na cama de alguém e não tirar a roupa, e se tirar, não ser honesto. Não se divertir. Não se esforçar pra sentir o mesmo, porque no fundo, isso não muda nada.
O despertador toca pela manhã.