quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Ainda bem

“You might be a big fish
in a little pond
Doesn't mean you've won
‘cause along may come a bigger one
 and you'll be lost!”
(Coldplay)

Ainda bem que você se foi, ou melhor, ainda bem que você se foi sem me fazer muitas perguntas. Ainda bem que você só confirmou o que já sabia há muito tempo e me deixou para trás como uma simples lembrança dos seus péssimos dias. Ainda bem que, agora, você ama outra pessoa, alguém que está com você de verdade. Ainda bem que superou as mágoas, que sorri com os novos amigos. Ainda bem que conseguiu me fazer simplesmente parar com tudo isso, com essa vida.
Cada vez mais as cosias vão se ajeitando. Tudo volta no lugar e ainda bem que você me ensinou que os problemas se resolveram infalivelmente. Cada vez mais o mundo se torna mais triste, frio, nojento e ainda bem que você me fez acreditar que as pessoas só precisam de mais chances. Não uma, não duas, mas três e quantas mais forem necessárias. Cada vez mais eu vou encarando verdade incontestável, mergulhando em estudos sem sentido, e ainda bem que você me mostrou que não existe verdade absoluta, que não se deve acreditar nas aparências.
Ainda bem que não nos perdemos mais do que já estamos perdidas, que não passou dos limites do perturbável. Ainda bem que voce tirou de mim os pesadelos de toda a madrugada, incontroláveis, de culpas, de mentiras e de pedidos de desculpa. E ainda bem que depois de todo esse tempo, você esteve comigo e com as minhas milhares de faces para só me deixar na hora certa.

Bruna Ferrari

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Que Fica Errado

“I've had good times
With some bad guys
I've told whole lies
With a half-smile
(…)
I don't know what good it serves
               
Parecia meio estranho, mas era verdade. Você acabou gostando do que sempre teve certeza que não iria gostar. De repente, a gente sente e não parece tão errado. As coisas vão tomando o lugar certo, a vida vai andando para frente, e quando percebemos, estamos nos duvidando outra vez. Já estamos errando de novo, como se fosse a primeira vez. E isso é bom, isso é tão bom que precisamos admitir que nos envolvemos demais. Pensando assim, não parece tão errado dizer o que temos que dizer, e perguntar o que temos que perguntar depois.
        Vai existir um tempo em que, talvez, voce nem lembre meu nome, ou se lembrar de algo de mim, vão ser só as minhas inicias. Mas, eu penso que só porque você não me escolheu, não quer dizer que eu já não tenha sido escolhida, não quer dizer que eu preciso ir embora, não quer dizer que eu vou continuar correspondendo as suas expectativas de te magoar de novo, de ir e vir o tempo inteiro, de fazer você gostar menos de mim. As horas não param, e as pessoas mudam. Quem sabe um dia você precise de alguém tão errado quanto eu para aceitar seus defeitos, a sua história. Quem sabe um dia, até mesmo você, precise de outro nome, outro rosto, outra vida.
        Eu te entendo, porque já estive no seu lugar. Você não, porque nunca esteve no meu. Por isso, eu vou esquecer o nome do seu namorado, vou me esforçar pra lembrar só das suas iniciais, vou acreditar em outra coisa, e continuar a sentir beijos no meu pescoço. Eu vou escrever outra história, viver de outro jeito, errar diferente e quando você estiver forte o suficiente, eu vou parar de ter todas aquelas coisas. Você vai abrir seus olhos, e eu vou abrir os meus, mas já vai ser tarde demais para notar que nunca houve nada de errado.
        O que fica de errado é o que não fica.

Bruna Ferrari

domingo, 7 de julho de 2013

Dentro


“I cannot cry
Because I know that's weakness in your eyes
I'm forced to fake a smile, a laugh
Every day of my life”

Eu preciso escrever. Preciso que alguém, descontroladamente, leia as minhas suplicas, olhe nos meus olhos e me diga o que fazer pra sair disso. Sair, pra sempre, sair, sem rumo e pra qualquer direção. Estamos nos afogando em muito mais que sentimentos, você sabe que pode ser mais difícil do pensávamos. Os tempos são difíceis, os sentimentos são confusos, e as pessoas não param de me pedir coisas das quais eu não posso realizar. Eu preciso que você seja forte o suficiente por mim agora, porque eu me sinto despedaçando e caindo... De algum lugar onde eu não tenha nada pra me segurar. Eu preciso da sua mão de qualquer jeito, preciso que você me encontre em qualquer lugar e me leve pra longe desse desespero. Nós não sabemos o que fazer com as coisas que não temos, mas eu sinto que também não sabemos o que fazer, nem o que dizer, nem onde tocar quando estamos perto um do outro.
Acho que eu andei errando demais com todo mundo, e estou sendo cobrada e culpada por todos aqueles problemas que eu não consegui resolver. Escrevendo isso, eu espero que entenda como uma carta de desespero de alguém que já não sabe mais quem é. De alguém que se olha no espelho e não consegue ver nada. Não consegue ver nem ao menos os erros gramaticais nesse texto, não consegue ver esperança em qualquer coisa. Uma carta, pra salvar, desesperadamente, alguém que já não tem mais jeito. Alguém que errou tanto, e tanto, e tanto, e tantas vezes que nenhuma das punições seria o suficiente pelo crime que cometeu. O crime de não conseguir ser o suficiente, nem ao menos para si mesmo.
E ainda, depois de todo esse tempo, e todo esse desespero, ninguém sabe o que fazer com as coisas que ficam no meio do caminho, e eu acredito, que nem mesmo qualquer ser humano que leia esse texto vai conseguir entender o que eu estou sentindo. É tão desesperador. E dá tanto medo que não tem pra onde fugir, não dá pra pensar em outra coisa, não dá nem pra colocar num potinho. O que é o um saco, porque colocar no potinho era a única coisa que isso poderia servir, e mesmo assim não serve... Mesmo assim, eu continuo não sendo o suficiente e perdida por aí. Eu continuo não sendo nada.

Bruna Ferrari

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Incerto mais que Certo


Eu não estou mais triste do que os outros textos, eu não estou dando mais importância a este sentimento do que os outros, mas preciso reconhecer que essa pode ser a coisa mais bizarra que irei escrever pro resto da minha vida; como é engraçado perceber pode-se temer mais o que está por vir do que o que esta acontecendo. Eu acho que eu não deveria pensar nisso, eu tenho muitos meses e todo mundo que morre (assim como eu irei partir um dia) também pensou desse jeito, não só na minha idade.
Sinto que penso demais, sinto que sinto demais coisas que jamais serei capaz de aguentar. Deixei pedaços de mim perdidos por aí e quando me necessito tenho que voltar todo o caminho pra me recompor. É um tanto chato, triste, e sozinho. Nessas estradas a gente nunca tem companhia, e ao contrario do que eu pensava, acho que as pessoas sentem mais medo quando estão acompanhadas, comigo não seria diferente.
Um dia desses voltei para 2009, voltei a reler as cartas que eu não enviei, os textos que eu não postei, as musicas que eu não cantei... E era tanta coisa acumulada. Nem o tempo todo de vida na terra daria conta das coisas que eu deixei pra depois, e continuava deixando. Era hoje um compromisso inadiável que acabou ficando pra outra semana e eu sei lá por que. Por preguiça, por medo de dar certo. Eu sempre fui dessas de me auto sabotar, tudo começa a dar certo e voce se breca vendo o que está errado. Você começa a pensar que sim, que tudo pode dar certo, e você mesmo se diz que não pode pensar aquilo de maneira nenhuma, seria subestimar a obra do destino, mesmo sem saber que obra é essa.
Eu sinto falta, uma falta imensa no meu peito. Preciso acreditar em algo, ter uma fé (não uma religião), eu estou me tornando um ser humano perdido, e nem acreditar mais em mim eu consigo. Talvez isso seja, de fato, “o meu fim eminente”. Apavora, assusta, e não tem o que fazer. E aí escrevo, e aí fica tudo bem, e aí eu posso voltar pra cama, e aí eu posso continuar parar de pensar em bater em alguém (igual), e aí talvez eu pare de maltratar as pessoas, a vida volte a ser como antes e eu volte a ter uma alma. Daquelas que eu nunca tive.

Bruna Ferrari

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Especial e Sem Sentido, Exatamente Como é e Como Era Para Ser.


“É uma história triste. Talvez a história mais triste.”

Outro dia me peguei olhando para as estrelas. Para as pontas dos dedos, para mim, para você, para o seu cabelo, para o jeito como você sorria. Outro dia eu fiquei pensando que talvez nada mais fosse possível, que aquele momento seria único ainda que acontecesse mais uma vez. Como se você estivesse sempre por perto e nunca mais fosse me deixar, eu continuava do seu lado, num espaço de tempo descritível. Eu jamais seria capaz de entender a imensidade de um mundo tão pequeno. Pequeno, em termos de palavra e de verdade. Muitas vezes, eu chego a acreditar que a verdade que me contam na escola é exatamente aquela que eu não ouvir, talvez eu não queira mesmo saber de todas aquelas coisas e continuar parada aqui pensando em você. E eu pensava tanto que extravasava pela boca e por onde você pudesse imaginar. Como se o tempo fosse imenso – como se não houvesse tempo nenhum.
Acho que era isso, transbordava tanto e eu não sabia como lidar. Eu não sabia mais como acreditar, não sabia no que acreditar, não sabia o que fazer; correr sabe lá para onde, mudar de mundo, de lugar e não mudar nada porque eu tenho medo, eu assumo essa responsabilidade, mas eu não sei se é medo e na verdade, eu não sei o que é. Nem sei se é verdade. Eu não sei o que eu estou dizendo. Eu só fecho os olhos e falo tudo como se não tivesse como segurar. E aí acontece isso que todo mundo tá vendo, eu perco os sentidos. Sinto vontade de chorar e gritar ao mesmo tempo, mas ninguém me ouve, ninguém entende, e eu não consigo explicar essa vontade imensa que eu tenho de viver o “para sempre”. Para sempre, com você, com o mundo, com as coisas que eu gosto, com as coisas que eu quero para nunca mais pensar em deixar nada, nem ter que fazer escolhas sobre o que eu faço primeiro. Eu quero em mim todas as coisas que eu gosto naquele espaço de tempo que eu determinar. Todas as coisas que eu sei hoje são por pessoas que fazem parte disso, desse tempo, dessa rotina e desse fim (igual para todo mundo) e eu simplesmente não viveria nada que fosse especial o suficiente, ou que compensasse todas as coisas que por fim eu vou virar. Pó.

Bruna Ferrari

domingo, 31 de março de 2013

Fica


Fica difícil nessa distancia
saber se você pensa em mim
ou se gosta de ficar um pouco
mais pra lá.
Pro outro lado de não sei onde,
onde eu não posso ver
os seus olhos que eu não esqueço,
nem sentir a sua pele
que eu tanto desejo.

Fica difícil no frio dessa noite,
não lembrar que hoje eu estou
sem você e sozinha,
pro resto da noite,
pro resto do dia,
pro resto da vida.
Bruna Ferrari

terça-feira, 19 de março de 2013

Qualquer Lugar Longe


“Cabe o meu amor,
cabem três vidas inteiras,
cabe uma penteadeira,
cabe nos dois,
cabe até o meu amor”
(A Banda Mais Bonita da Cidade)

Quando eu achava que eu não conseguiria sentir mais nada, eu me peguei pensando em você a noite toda. Quando eu achava que a vida não faria tanto sentido depois da minha quase ultima chance, eu me peguei chorando no teu colo e implorando pra você não ir embora. Ficar aqui, mais perto. Muito mais do que seu corpo grudado no meu, numa dimensão absurda que nem você poderia imaginar como é. E assim, toda descontrolada, eu me pego com as costas doendo de ficar lendo na cama enquanto espero você chegar em casa. Eu me pego de vez em sempre contando as horas pra chegar outro dia. Do outro lado da cidade, e em outra divisão, você morava sem carinho nenhum e no fundo do meu coração, tudo o que eu mais queria era largar a minha vida pra viver do seu lado.
Eu simplesmente não te disse isso por orgulho, como também não te disse milhares de outras coisas pra tentar me entender melhor. Acho que não deixar me sentir tão fraca aponto de mudar as minhas decisões, porque em todo o tempo da minha vida – ainda que não considere muito – eu nunca tinha pensado em reivindicar as coisas que quero por alguém. Agora, penso, repenso, leio, releio. Milhões de paginas rasgadas, e três pensamentos pra te levar pra cama, pra te levar embora, pra te levar pra bem longe do interior, onde pudéssemos continuar com essa de ficar um com o outro o dia todo, querer não precisar olhar pros lados pra dar um abraço e seguir a estrada de alguma forma. Qualquer lugar pra longe.

Bruna Ferrari

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O que não dá pra aguentar.


Por algum tempo eu não pude admitir que gostava mesmo de você. Os outros me faziam perguntas que ninguém poderia responder. Talvez, fosse certa questão de tempo até estar na minha cara que todas as coisas que eu fazia, eu chorava o tempo todo porque a distancia era tanta. E eu não digo distancia física, sabe do que eu tô falando? Não é assim tão simples, não dá pra marcar em quilômetros. Era outra coisa que eu não podia falar, não podia admitir, não podia conviver com a ideia de que sim... Estava pior do que eu imaginava, e num patamar de me fazer tirar o sono. Pra pensar em você, na vida, nos meus amigos, e no tamanho do que eu estava sentindo.
Uma vez você me disse as coisas que não perdoaria, e eu as guardei escritas num pedaço de papel dentro do meu criado-mudo pra quando acordasse de um pesadelo onde eu te perdesse, fosse de cara consultar a lista. Não, eu não tenho medo. A minha consciência não me persegue porque eu não fiz nada, mas eu sei e não me pergunte como que de alguma forma era nisso que ia chegar. Alguém ia acabar te enfiando na cabeça que eu era diferente. Eu era. Só com você. De um jeito tão absurdo que eu perdia o ar, principalmente agora que eu não conseguia me sentir diferente em relação as minhas amigas. Eu já previa o que estava acontecendo, já dava finais e aguentava a situação como se importasse alguma coisa se eu fosse embora. Mas desse jeito, eu só me sinto segura. Eu sei que posso segurar a sua mão e sentir que você vai estar lá pra sempre e que quer estar. Eu quero muito que você esteja também.
Então talvez, eu me pergunte por que eu te peço socorro demais. Hoje, eu já encontrei a resposta e isso não passa de um sentimento idiota que eu nunca vou ser capaz de entender. Sinceramente? Nem você.

Bruna Ferrari

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Happy “B.” Day


“JULIETA - Não você, mas apenas seu nome é meu inimigo. Você continuaria sendo o que é, se acaso não fosse Montéquio.O que é um Montéquio? Não é mão, nem pé, nem braço, ou rosto, nem parte alguma do corpo de um homem: seja outro nome! O que há num simples nome? O que chamamos rosa não cheiraria igualmente doce em outro nome? Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservaria a queria perfeição que é dele, sem o título. Romeu, jogue fora o seu Montéquio, que não é parte de você mesmo, e fique comigo, inteira!” (Romeu e Julieta. Adaptado. Shakespeare, William)

Esse dia que era assim, alguma coisa que não podia aguentar, agora ficava travado na minha goela e me impedia de respirar. Não que eu não conseguia, só parecia errado toda aquela situação, toda a aquela dificuldade hipotética que a gente tinha no caminho como se metade de toda a nossa felicidade dependesse unicamente disso. Era fato que não, ou talvez fosse e só eu soubesse que não podia ser. Tinha que mudar, tinha que ser feito alguma coisa que eu não sabia bem o que era. Você gritando o tempo todo, e eu gritando de volta. E gritos do lado de fora e de dentro da sua casa, por todos os lados – o ambiente era um inferno e você não me tinha p’ra fugir. Eu também não tinha você. Eu nunca iria ter. De alguma forma, você ficou preso nos próprios erros e agora me engolia também, eu só acompanhava o balanço do barco, nessa de ir me afogando em ser quem eu não era, em sorrir p’ra gente que eu odiava e desprezava, em fazer o que eu não amava. Mas na duvida, eu continuava com você. Pode ser que depois dessa semana, as coisas ficassem melhores, e é uma pena, eu realmente não tenho nem forças, nem folego p’ra acreditar de novo em tudo isso.
Parecia que eram os mesmos erros e os mesmos problemas, as mesmas pessoas e as mesmas situações. Só que dessa vez era só um pouco mais triste por causa da ocasião, do aniversário, do tempo e da minha vida. Acho que do ano, porque era ultimo na escola e a gente nunca sabia quando ia acontecer outra vez. Tudo era a ultima vez, eu sentia. Você não. Você mantinha essa de aguentar o que não precisava por tanto tempo na sua vida, hoje era só mais um daqueles dias em que você saia com a sua família, aturava seu pai, amava menos, aguentava mais, e fazia demais p’ra continuar tudo aquilo que eu até parecia atrapalhar. Eu sempre fui carente demais, sozinha demais, dei trabalho demais, esperei demais das pessoas. Eu... Só não esperava menos de você do que isso. Mas tudo caiu sobre um abismo, todas as coisas que nós tínhamos construídos juntos pareciam nada e ficou aqui na minha garganta o que eu tinha p’ra te dizer. Isso estava me sufocando. Você só precisava ficar um pouco mais sozinho, um pouco mais de liberdade, porque eu sei que você sabe que você também gosta. Liberdade. Freedom. Liberté. Freiheit. Libertà. Ελευθερία. Saoirse. Frelsi. Свобода. Libertad. Vapaus. 자유. frihet. 自由. Vrijheid.
Sei lá que língua teu coração fala, mas só escuta, isso tá acabando com muita coisa em você, em mim, na sua vida, na minha vida, e com o nosso – talvez – futuro juntos. Eu não quero pedir, mas eu não quero continuar nessa de estar tudo bem, e dar escândalos errados, na hora errada, no dia errado, do jeito errado, de aguentar coisas que eu sei que eu não consigo. Eu quero de volta o que eu tinha antes, quero você fazendo ser diferente como foi das outras vezes. Porque esse foi só o mesmo erro que todos os outros cometeram, e eu não sei o que é parar de pedir muito.
Bruna Ferrari

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Morte e a Mão


Eu já sabia. De alguma forma era só certo demais, eu escreveria mais um texto durante o amanhecer, e depois choraria pelas coisas que eu não tinha. Era confortável, mas talvez, dessa vez fosse diferente. Eu me lamentaria por coisas que eu não tinha feito, que eu tinha feito, e que eu faria apenas pra aguentar esse ano e depois deixar tudo para trás. Como se não fosse nada, e tivesse mudado tudo. Tão tudo. Que me falta palavras para dizer, acho que olhar para trás seja mais do que as pessoas pensam. Seja entrar num abismo profundo, num lugar sem luz. Eu tenho medo de ir e não voltar. Eu tenho medo do escuro, mas eu não choro por isso. E não choraria por mais outras coisas, porque quando você sente a mão de alguém sobre o seu ombro é algo mais que inexplicável para quem está a beira da morte.
Tão próxima, tão fria. A morte e mão. Essa comparação pode parecer estupida (e é, de fato), mas preciso reconhecer que agora, eu não consigo escrever algo diferente. Eu não sei escrever o que eu não sinto, e o que sinto, não faz sentido algum sentir. Era pra se importar menos, ligar menos, tentar menos, e eu faço tudo demais até sair pela boca. Eu não consigo aguentar. E às vezes, eu penso nesse abismo e nessa mão que existe mais não existe – completo paradigma da minha vida – que talvez seja tão melhor assim. Que não houvesse mão, e só houvesse morte, tão próxima, e tão fria, como se não fizesse diferença nenhuma e eu nunca pensasse nisso. Mas eu penso o tempo todo, e o tempo todo eu só sei do que eu não preciso dizer. É necessário ficar calada, segurar nas paredes e aguentar o sangue fluindo pelo corpo. Uma tarefa diária que se torna simples, como ver a luz do sol que também não mais sentido. Nenhuma luz faz sentido.
No abismo, eu sei que é para sempre escuridão.

Bruna Ferrari