sábado, 24 de novembro de 2012

Suficiente


“Fecho os olhos e escrevo,
como se o mundo fosse acabar amanha
e eu não tivesse mais escolha.
“É por isso que nunca releio meus textos.”
(Bruna Ferrari)

De repente, eu tinha parado de perceber que a vida passava mais rápido do que o comum. Era assim, que talvez, eu tivesse decidido fazer as coisas diferentes. Acreditar mais, amar mais, querer mais, importar mais, ter mais amigos, mais tempo, mais vida e sem vida nenhuma. Eu era um abismo de qualidades que não me conhecia, as pessoas me paravam na rua para perguntar o meu nome, mas eu já era familiar a elas. Eu era imensa e me tornei tão pequena que as coisas andam me escapando pelos dedos. As oportunidades são enormes e eu sinto que, simplesmente, não vou aguentar tudo. Não quero perder, não quero mais a sensação de não ser o suficiente para mim e para os outros.
Assim, com certeza, eu teria mais alguns anos e pensasse menos em viver agora o que é certeza que vou viver depois. Mas não posso me controlar, não posso, de repente, parar de sentir a minha própria vida e viver à beira de um suicídio. Quero voltar às horas desse dia, voltar o ano se for possível apenas para fingir que sou forte o suficiente e que metades de algumas coisas não aconteceram. Eu não perderia o ano, eu perderia meu nome, e teria de volta a minha personalidade. Mas o que seria mesmo alguém sem um nome?
Bruna Ferrari

domingo, 4 de novembro de 2012

Não só, mas também.


Hoje, não só hoje, eu perco o sono por sua causa. Vejo nos meus olhos fechados, os seus olhos me encarrando aos poucos. Os seus olhos com um olhar fugitivo, os seus olhos de atenção incontentável. Hoje, e não só hoje, eu sinto a sensação do meu sangue entrando em ebulição. E não é pelo calor, eu sei. Chove lá fora, mas aqui dentro do meu quarto eu continuo suando como se fosse verão, e eu estivesse na praia. Eu só não dormia pela sensação de querer chorar que me vinha, e a noite não deixava. Eu fechava os olhos forte, e repetia poemas para dormir, então, seus olhos apareciam e eu continuava acordada.
Os olhos fortes brilhando com a luz do dia, ainda que no meu quarto fosse de noite. Porque eu sei, você também sentia que não parava de pensar em você e no tempo. Eu não parava de pensar em quanto tempo a mais conseguiria aguentar? Em quanto tempo levaria para passar aquela vontade de chorar?

Bruna Ferrari