sexta-feira, 29 de abril de 2016

De volta ao morro

Enquanto eu colava cartazes e militava pela nossa causa, voce bebia cerveja no bar com os amigos todas as sextas. Fechava com aqueles que te davam as costas nas noites em que precisou chorar de tanta pressão. A minha vida fez "bum" e te encontrei. Meu dedos estavam frios, ventava muito. Ainda consigo me lembrar como se fosse hoje... A gente se esbarrou e trocou olhares, eu nem fiquei na duvida de que ce era certa pra mim. 
Outra vez, eu fumava distraído e você passou arrancando olhares. Era como se todos os holofotes estivesse ligados te iluminando na minha frente. Que bizarra foi essa sensação, cara. Eu ainda me lembro como se fosse hoje... Cê apareceu e me ofereceu um abraço. Acho que talvez não tinha dinheiro no bolso, então utilizou da sua mais poderosa cartada.
Logo eu, duro como uma pedra, passando frio e continuando a minha luta diária, tinha parado alguns momentos pra te entender. Metade do que dizia não era verdade, eu era um analista do discurso alheio e cada brecha, encontrei uma insegurança. Normalmente sempre aviso as pessoas pra tomarem cuidado comigo, sou vivido. Quase fui preso duas vezes, sou cabra da peste.
E quando te entendi, que decepção. Cê num tem nada no coração do que diz ter, o sistema solar gira em torno da sua própria bunda e só. Eu estou aqui rindo de você achando que me engana, achando que eu acredito, achando que eu não vejo tuas brechas, achando que seus defeitos estão bem escondidos. Cê faz tanta merda que se caga toda...
Moça bonita, se estiver lendo isso aqui vão o que a minha flauta queria dizer por mim: sei que a gente tá bem, mas escuta só, eu sou malandro, entende? E você não fecha com meu povo. Subo o morro todos os dias pra chegar em casa, meus amigos são mortos, não posso ficar no bar fazendo o social sem ter esse peso na consciência. Luto todos os dias, ou minha vida vira luto.
Cê é moça da cidade, e nessa idade já tem apartamento e vida quase pronta. Tá difícil pra todo o brasileiro, mas prá gente aqui, tá em dobro. Não consigo terminar meus estudos. Tua cota comigo já passou, e ainda bem que eu arrombei as portas dessa universidade que se tranca pra mim.

domingo, 10 de abril de 2016

Rio-São Paulo

"e tanto, tanto que te quero" 


Estou confusa, meu amor! Estou confusa! 
Essa conexão Rio-São Paulo enche minha cabeça de dúvidas.
Lembro-me dos dias de primavera daqui
sem esquecer como seus olhos brilham mais por ai.

Sinto por ser essa egoísta...
Quem dera eu superar todas essas milhas,
superar tudo,
conseguir viver nossa vida.
Mas eu, de coração amargo, e rabugento,
fico aqui cheia de minhocas por dentro
a te esperar mais uma vez todos dos dias.