quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A Morte e a Mão


Eu já sabia. De alguma forma era só certo demais, eu escreveria mais um texto durante o amanhecer, e depois choraria pelas coisas que eu não tinha. Era confortável, mas talvez, dessa vez fosse diferente. Eu me lamentaria por coisas que eu não tinha feito, que eu tinha feito, e que eu faria apenas pra aguentar esse ano e depois deixar tudo para trás. Como se não fosse nada, e tivesse mudado tudo. Tão tudo. Que me falta palavras para dizer, acho que olhar para trás seja mais do que as pessoas pensam. Seja entrar num abismo profundo, num lugar sem luz. Eu tenho medo de ir e não voltar. Eu tenho medo do escuro, mas eu não choro por isso. E não choraria por mais outras coisas, porque quando você sente a mão de alguém sobre o seu ombro é algo mais que inexplicável para quem está a beira da morte.
Tão próxima, tão fria. A morte e mão. Essa comparação pode parecer estupida (e é, de fato), mas preciso reconhecer que agora, eu não consigo escrever algo diferente. Eu não sei escrever o que eu não sinto, e o que sinto, não faz sentido algum sentir. Era pra se importar menos, ligar menos, tentar menos, e eu faço tudo demais até sair pela boca. Eu não consigo aguentar. E às vezes, eu penso nesse abismo e nessa mão que existe mais não existe – completo paradigma da minha vida – que talvez seja tão melhor assim. Que não houvesse mão, e só houvesse morte, tão próxima, e tão fria, como se não fizesse diferença nenhuma e eu nunca pensasse nisso. Mas eu penso o tempo todo, e o tempo todo eu só sei do que eu não preciso dizer. É necessário ficar calada, segurar nas paredes e aguentar o sangue fluindo pelo corpo. Uma tarefa diária que se torna simples, como ver a luz do sol que também não mais sentido. Nenhuma luz faz sentido.
No abismo, eu sei que é para sempre escuridão.

Bruna Ferrari

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