"It's a kind of magic
Houve um tempo que eu estava neste
caminho, as pessoas me olhavam e diziam: “você vai achar um bom homem, casar e
ser feliz”. Eu queria ser feliz mesmo, mas eu não entendia porque eu precisava
casar pra isso acontecer. Cresci, e eu acreditei nisso. De verdade. Aos 15, eu
já não era mais essa menina, acho que tinha parado com as barbies cedo de mais,
tomado porres cedo demais... Sei lá, alguma coisa aconteceu. E eu nem me
preocupava tanto com isso. Eu sabia desde cedo a voltar bêbada pra casa.
Eu cresci mais ainda, e não sei que
sopro entrou por de baixo do meu edredom e fez uma confusão total. Sim, eu comecei
a perder o sono, a imaginar coisas. Sonhos, desenhos, textos. Tudo era motivo
pra me tirar fora da cama. Comi livros nesse tempo. Eu me afoguei em páginas e
paginas e paginas. Arrastei mais três paixões por três anos e nenhuma delas me
levou a algum lugar. Ou sim, levaram, não foi de tudo ruim. Eles eram exigentes
demais, eu não bancava a agradável com eles. Começava a parar de me esforçar e
me arrastar, não pelas paixões, mas pra entender o que tinha na minha cabeça de
tão anormal. Procurei psicólogos, religiões, banhos, cartomantes, novos livros,
poesia, ciência...
Nada era suficiente. A minha
primeira hipótese era de que alguma coisa deu errado na hora da minha
fecundação. Deus preferiu me fazer pensar de outra maneira, acho que ele zoou
mesmo com a minha cara... E eu nem sei direito se ele existe. A segunda hipótese
era de que as pessoas é que me zoavam mesmo. Com o tempo, eu percebi que Deus
deu de ombros pra minha existência há muito tempo e eu nem precisava mais me
preocupar com isso. Eu não o conhecia, não conversávamos, não tinha nenhuma
prova concreta do que ele disse fazia sentido. Como sempre, pelo menos, tínhamos
uma coisa em comum: nós mudávamos de personalidade e nome o tempo inteiro. Conheci
tantos nomes pra Deus, tanto Deus que me deixou confusa. E quando eu finalmente
pensei que tivesse entendido qual era a brincadeira que Deus fazia, voltei atrás.
Quando eu era menina, pensava que as
coisas ruins aconteciam pelo destino e chamava o destino de Deus, porque eu não
acreditava nele, e eu não queria desrespeitar as pessoas que amavam por conta
disso. Ninguém morreu na minha frente naquela época. Ninguém me ofendia e eu
não chorava por essas coisas. Eu não tinha que acordar cedo. Eu não tinha que
ir pra aula de francês. Eu brincava sozinha de baixo da mesa com as minhas
barbies. É, só com as barbies, eu não gostava de bonecos no meio de tudo. Eles
estavam lá só pra passar o tempo quando minha mãe aparecia de repente e eu
tinha que esconder tudo. Como eu ia explicar aquela cena toda pra ela? Eu era
discreta, desaprendi a ser e reaprendi. Hoje, mais do que nunca. Vale a pena.
E se o meu discurso até agora parece
incoerente, é porque eu sou desse jeito mesmo. Eu sou como as ondas do mar, eu
vou e volto, e vou e volto, e acabo no meio da praia. Talvez eu seja mais inconstante
que isso; é difícil de lidar, por isso sou tão sozinha. Só que eu cansei dessa
conversa toda, cansei até de não usar as roupas que gosto, cansei de não
escutar as bandas que gosto porque elas não tocam no radio. Que bom que elas
não tocam no radio.
Acho que no fundo eu desacreditei
que pudesse decepcionar quem me amava da maneira que eu pensei que pudesse.
Acho que eu desacreditei que pudesse me reprimir por tempo o suficiente das
coisas não explodirem pra fora do meu coração. Acho que a coisa agora é bem
assim... Eu sou assim. Eu sempre fui. Eu não tenho nome, eu não quero regras, e
se eu tiver tudo isso, eu quero ter a liberdade de mudar a hora que eu quero. Nunca
aguentei essas coleiras que a sociedade me impôs, nunca aguentei essas coleiras
que os relacionamentos me colocaram e eu não quero ser hipócrita de dar um
passo atrás ou a frente sem reconhecer isso. Sem reconhecer que convencional, e
coleiras me incomodam. Até sinto muito em ter que dizer que eu já não me
importo mais, eu sei das consequências desse texto, eu sei das consequências das
coisas que eu faço, por hora. E se não souber, eu vou descobrir. Errando.
Experimentando.
Eu vou descobrir, porque descobrir é
tão bom. E eu só descobri tudo isso agora. Na verdade, eu acabei reconhecendo
que eu precisava disso. Eu não vou mais me conter no meio da noite. Soltei
essas correntes que me prendiam, deixei muitas ideias pra trás, troquei tudo
como se troca de roupa. Simples assim.
A vida é simples, e minha vontade também.
Mesmo que no final tudo possa ser uma merda.
PLEASE,
DON’T TIE ME UP!
Bruna Ferrari
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