sábado, 22 de novembro de 2014

Um Texto à Decepção




"It's a kind of magic
The bell that rings inside your mind
Is challenging the doors of time"



Houve um tempo que eu estava neste caminho, as pessoas me olhavam e diziam: “você vai achar um bom homem, casar e ser feliz”. Eu queria ser feliz mesmo, mas eu não entendia porque eu precisava casar pra isso acontecer. Cresci, e eu acreditei nisso. De verdade. Aos 15, eu já não era mais essa menina, acho que tinha parado com as barbies cedo de mais, tomado porres cedo demais... Sei lá, alguma coisa aconteceu. E eu nem me preocupava tanto com isso. Eu sabia desde cedo a voltar bêbada pra casa.
Eu cresci mais ainda, e não sei que sopro entrou por de baixo do meu edredom e fez uma confusão total. Sim, eu comecei a perder o sono, a imaginar coisas. Sonhos, desenhos, textos. Tudo era motivo pra me tirar fora da cama. Comi livros nesse tempo. Eu me afoguei em páginas e paginas e paginas. Arrastei mais três paixões por três anos e nenhuma delas me levou a algum lugar. Ou sim, levaram, não foi de tudo ruim. Eles eram exigentes demais, eu não bancava a agradável com eles. Começava a parar de me esforçar e me arrastar, não pelas paixões, mas pra entender o que tinha na minha cabeça de tão anormal. Procurei psicólogos, religiões, banhos, cartomantes, novos livros, poesia, ciência...
Nada era suficiente. A minha primeira hipótese era de que alguma coisa deu errado na hora da minha fecundação. Deus preferiu me fazer pensar de outra maneira, acho que ele zoou mesmo com a minha cara... E eu nem sei direito se ele existe. A segunda hipótese era de que as pessoas é que me zoavam mesmo. Com o tempo, eu percebi que Deus deu de ombros pra minha existência há muito tempo e eu nem precisava mais me preocupar com isso. Eu não o conhecia, não conversávamos, não tinha nenhuma prova concreta do que ele disse fazia sentido. Como sempre, pelo menos, tínhamos uma coisa em comum: nós mudávamos de personalidade e nome o tempo inteiro. Conheci tantos nomes pra Deus, tanto Deus que me deixou confusa. E quando eu finalmente pensei que tivesse entendido qual era a brincadeira que Deus fazia, voltei atrás.
Quando eu era menina, pensava que as coisas ruins aconteciam pelo destino e chamava o destino de Deus, porque eu não acreditava nele, e eu não queria desrespeitar as pessoas que amavam por conta disso. Ninguém morreu na minha frente naquela época. Ninguém me ofendia e eu não chorava por essas coisas. Eu não tinha que acordar cedo. Eu não tinha que ir pra aula de francês. Eu brincava sozinha de baixo da mesa com as minhas barbies. É, só com as barbies, eu não gostava de bonecos no meio de tudo. Eles estavam lá só pra passar o tempo quando minha mãe aparecia de repente e eu tinha que esconder tudo. Como eu ia explicar aquela cena toda pra ela? Eu era discreta, desaprendi a ser e reaprendi. Hoje, mais do que nunca. Vale a pena.
E se o meu discurso até agora parece incoerente, é porque eu sou desse jeito mesmo. Eu sou como as ondas do mar, eu vou e volto, e vou e volto, e acabo no meio da praia. Talvez eu seja mais inconstante que isso; é difícil de lidar, por isso sou tão sozinha. Só que eu cansei dessa conversa toda, cansei até de não usar as roupas que gosto, cansei de não escutar as bandas que gosto porque elas não tocam no radio. Que bom que elas não tocam no radio.
Acho que no fundo eu desacreditei que pudesse decepcionar quem me amava da maneira que eu pensei que pudesse. Acho que eu desacreditei que pudesse me reprimir por tempo o suficiente das coisas não explodirem pra fora do meu coração. Acho que a coisa agora é bem assim... Eu sou assim. Eu sempre fui. Eu não tenho nome, eu não quero regras, e se eu tiver tudo isso, eu quero ter a liberdade de mudar a hora que eu quero. Nunca aguentei essas coleiras que a sociedade me impôs, nunca aguentei essas coleiras que os relacionamentos me colocaram e eu não quero ser hipócrita de dar um passo atrás ou a frente sem reconhecer isso. Sem reconhecer que convencional, e coleiras me incomodam. Até sinto muito em ter que dizer que eu já não me importo mais, eu sei das consequências desse texto, eu sei das consequências das coisas que eu faço, por hora. E se não souber, eu vou descobrir. Errando. Experimentando.
Eu vou descobrir, porque descobrir é tão bom. E eu só descobri tudo isso agora. Na verdade, eu acabei reconhecendo que eu precisava disso. Eu não vou mais me conter no meio da noite. Soltei essas correntes que me prendiam, deixei muitas ideias pra trás, troquei tudo como se troca de roupa. Simples assim.
A vida é simples, e minha vontade também. Mesmo que no final tudo possa ser uma merda.


PLEASE, DON’T TIE ME UP!


Bruna Ferrari

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