sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Naive


“Do you want to go to the seaside?

I'm not trying to say that everybody wants to go
I fell in love at the seaside
I handled my charm with time and slight of hand





Então eu voltei pra casa, como se fosse uma noite qualquer. Deitei na minha cama, como de costume, apaguei as luzes, mas não peguei no sono. A cama parecia errada, tinha algo faltando. Logo duvidei que fosse o barulho, ou o coxão. Arrisquei no coxão, e revirei, virei, revirei outra vez. Testei todos os seus lados. Não era o coxão. Arrisquei o barulho, peguei alguns papeis de presentes que estavam sobrando pelo meu quarto e enfiei de baixo do coxão. Minha mãe sempre disse que isso dava sorte, chamava mais presente, fiz figas pra ajudar a dormir também.
Não adiantou, levantei da cama. Procurei pelos cantos qualquer pedaço de coisa que eu pudesse por culpa pela minha insônia. O vilão ao pé da cama, a luminária que não funcionava, a parede que não era da minha cor preferida, todo aquele quarto que não tinha a minha cara, mas era meu. Cambaleei no escuro. Aquele peso no coração, nada na mão e a insônia me perseguindo, tomando conta de mim, sussurrando no meu ouvido. O seu nome, o seu cheiro, o seu jeito, o seu corpo. Tudo teu que eu não consegui deixar naquele lugar, naquela rua, naquele dia. Arrastei tudo pra dentro de mim, engoli seco como se não fosse nada, como se eu não sentisse a sua falta. E voltei pra cama.
Eu tinha voltado pra cama num ato previamente falho. Eu deito sabendo que não vou dormir. E todas as noites que eu te via pareciam ser assim. A minha mala já estava cheia de saudades antes mesmo de você partir, as minhas roupas pareciam ter sempre o seu perfume, e o meu corpo até parecia modelado pra você. Estava tudo com você, e eu preenchida de insônia pelos quatro cantos do meu quarto. Assim, como se fosse simples, inundada. Eu boto a culpa na falta de sono do porque eu penso tanto em você, mas você e eu sabemos que não é desse jeito que as coisas acontecem. Você estava comigo há menos de uma hora, e agora fica um vazio imenso e incontrolável. E agora eu fico pensando: “talvez você pense em mim também”. Fico calada pra não chorar na sua frente e te dizer que eu vivo o presente, e que por hora, apesar dessa insônia, você foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.
Eu não conto quantas coisas que não gosto no meu quarto quando eu volto do choque de animo que você me dá. Quero perder a vergonha e dignidade – o que eu perdi, ainda não me é o suficiente. Metade do mundo pode dizer “menina, você é jovem demais, existe muita coisa ai por vir”. Exato, é assim, forte e impuro e jovem e precipitado. Exatamente como eu gosto que seja e escondo isso dentro de mim. Não, eu diria. As coisas que estão por vir nem aqui estão, deixe-me pensar no que eu tenho, por hora porque é isso que me faz viver. E aqui, na insônia, no escuro do meu quarto, com a luminária quebrada, o violão no pé da cama, e a parede que não é pintada da minha cor preferida, eu digo que só falta você pela noite inteira. Falta você, e todas as coisas de mim que você levou embora no metrô.




Bruna Ferrari

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