segunda-feira, 18 de maio de 2015

Eu Não Preciso Dizer que Te Amo



Hoje eu acordei mais incrível do que nunca. Depois daquele tapa na cara que você me deu ontem, parece que tudo ficou diferente. Meu pai me perguntou da onde vinham aquelas marcas, mas não foi do mesmo jeito que ele pergunta toda a vez pro meu irmão quando o pescoço dele volta roxo depois de uma noitada. Ele me intimidou, e quis saber logo o que estava acontecendo. Eu poderia ter dito que eram os moços da esquina, tinha pegado um zé mane qualquer por ai e pronto, quem sabe ele fosse ficar orgulhoso de mim.
Eu nem falei nada no fim, só fiquei ensaiando as palavras da minha cabeça e esbocei a mesma reação. Mas que merda ele tinha mesmo a ver com isso? Pois é, nada. Senti até um calafrio de pensar que todas aquelas marcas no meu corpo poderiam ter sido consequências de uma noite boa. Bem boa. Daquelas, cês sabem, né? Mas não era não. Triste. Nem sou desse tipo que aguenta ficar acordado durante uma noite inteira. Dá preguiça, também dá sono. Enjoo muito fácil. Contei pro meu amigo o que tinha acontecido, ele ficou um tanto assustado que pudesse ter feito aquilo comigo, e eu... envergonhado. Eu ia ser o covarde outra vez.
Eu não sou covarde não. Eu encaro, mas a galera tem essa mania de ficar achando coisa errada demais. Sempre pensam na superficialidade. Eu sou complexo, não sou pra essa modernidade de cinco minutos, muito menos pra esses pseudos-cultos. E veja só, até você dá um tapa na cara de uma pessoa como essa!
Tinha te escrito uma carta pra quando voce fosse pra Europa, rasquei assim que você desapareceu. Pode ser que a gente nem volte a se falar depois de ontem, agora você deve estar até cantando vantagem e já ter esquecido de tudo. Eu não. Fui eu que levei o tapa, não é mesmo? A minha mão na sua cara eu segurava, nosso amor é assim. A gente nem precisa dizer que se ama, a gente se morde e sai rolando pela cama. Goza muito. Minha mãe sempre diz que você é que nem mulher de vagabundo: quanto mais bate, mais quer. Eu não acredito nisso, acho essa frase o maior clichê que existe quando sogra não gosta de nora. Num me lembro se a frase era mesmo essa, mas veio desse jeito e eu escrevi assim. 
Ela também diz "vê lá com quem você fica andando!". Queria poder dizer que nem precisava se preocupar tanto comigo, respondia as perguntas do meu pai, tomava meu banho e o roxo, eu dava conta. Era só usar um cachecol num dia ensolarado, nada demais. Não tinha mais o que esconder dos meus amigos, minha reputação já estava no lixo. Todo mundo notava. 
Enquanto você estava de bobeira por ai, conheceu outra pessoa. Com certeza considerou me dar mais um tapa na cara, e eu não ia fazer nada pra te punir de volta. Nosso amor tem dessas coisas. Até ouvi a definição perfeita, a gente é assim: sadomasoquismo. O mesmo amigo que ficou impressionado que falou essa palavra difícil, tive que buscar no dicionario. Esse povo fica dizendo palavra complicada pra enfeitar a frase, eu não. Eu não preciso disso. Eu digo logo. Palhaçada, viu. Mesmo depois desse tapa na cara, eu não preciso dizer que te amo. E eu não vou!

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