quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Natal Passado

O efeito da bebida já passa, as luzes se apagam, o Natal se foi. Simplesmente desapareceu da minha alma, quando eu descobri estar doente, como fumaça. Desde que larguei esse vicio, desde que fazem alguns meses amanhã e depois de amanhã, que já não uso outro nome. Eu perdi os amigos, perdi os amantes, perdi a família, e perdi mais ainda: tudo o que eu poderia ter. Passei o Natal bêbada, reconquistei meu pai, virei mulher. Mas mesmo assim, eu fui até a árvore e revirei os presentes procurando aquele que teria o teu nome. Como se ainda houvesse algo de especial entre nós duas, como se os seus olhos ainda se importassem com alguma coisa. Então eu volto, eu escrevo pra chamar a sua atenção, eu dou um escândalo. Assim que os sinos tocam, eu ouço a sua voz, e o seu “Feliz Natal” ecoa pela minha cabeça, mesmo sabendo que eu só sabia sobre o Natal dele - que já nem mais me importava tanto como você. E mal havia perguntado pelo seu. Talvez você nem considere comemorar, talvez até esteja bêbada como eu, talvez, esteja na cama com outra pessoa. O que sempre dá para fazer é voltar no tempo momentaneamente na cabeça, junto com aquela doença que eu descobri há quatro anos, e fazer dias melhores. Dessa vez, eu chorei ao conseguir todas as minhas coisas de volta e ter que apagar todas as suas fotos, o seu numero, me esquecer do seu rosto para não voltar a cometer o mesmo erro que cometi há anos quando eu escrevia sobre como ele era o amor da minha vida e como eu era sozinha. Ainda que perdida na escuridão da eterna dúvida, eu ainda sinto sobre este Ano algo próximo à esperança crescendo dentro de mim, então seguro firme o telefone na direita e a garrava de tequila na esquerda. Dou meios sorrisos amarelos que se espalham pela sala como se tudo fosse relativamente verdadeiro, mas até seria, se esse não fosse o 4º Natal que eu perco alguém, se esse não fosse o 4º Natal que eu continuo passando do mesmo jeito, como se esse não fosse o 4º Natal que eu choro por alguém. Como se não fosse nada disso, e como se nada tivesse acontecido e você estivesse aqui, eu ainda voltei para perto da árvore e procurei o embrulho que pudesse ter o seu corpo e todo seu amor junto, mas nenhum deles, de fato, era grande o suficiente. Ninguém tinha me amado como você me amou.
Agora, às 5 da amanhã, tudo se vai embora. Ate mesmo aquele sentimento mínimo que eu sentia de talvez, alguma hora do seu dia, você se lembrar de ligar pra me desejar “Feliz Natal” porque achava que eu merecia, não por mim, mas por ser Natal. Eis o Grande Erro dos homossexuais: a muita pouca religiosidade. Eu entendi que você ignorou o nascimento de cristo para dar atenção a outras risadas da garota de cabelos negros-metade-loiro, da outra que se dopava com lápis de olho, da indecisa bissexual e das tantas outras que eu nunca fiz questão de decorar nome nenhum.  Eram os efeitos do ciúme que, mesmo ligados ao Natal, eu nem conseguia mais dar bola. Talvez chegue um momento na vida que nós simplesmente desistimos do mundo, de nós e de tudo, e é então que aparece um anjo para te fazer acreditar tudo outra vez. Neste 4º Natal sozinha, chorando, eu vou desejar algo diferente além de um futuro solteiro. Eu vou desejar pro meu anjo outras coisas além do meu ódio. Eu vou desejar outro anjo, e fazer outra promessa para saber que dali alguns dias eu vou voltar a gritar o seu nome pra qualquer pessoa que me apareça na rua e que use aquela mesma calça, aquela mesma cor de camisa azul-sei-lá-o-que que você vestia que cante as mesmas músicas, que continue acordada comigo de madrugada e me lembre, de cinco em cinco minutos de como nunca sentiu nada igual por ninguém. Eu ainda vou te olhar, eu ainda vou sentir, e você ainda vai saber por que bem no fundo dos meus olhos ainda está a verdade que só você sabe ler; aquela verdade que só você pode aguentar. Eu ainda vou correr atrás de você mais alguns anos, eu ainda vou lembrar-me de você por entre alguns outros relacionamentos. Nada vai compensar. Ainda assim, quando tudo estiver acabado, você vai me encontrar na universidade, ou sei lá o que e vai se lembrar desse par de olhos castanhos e desde rosto, ainda que com tantos nomes, te fez sofrer, te fez sorrir,  te fez crescer.

Bruna Ferrari

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