domingo, 7 de outubro de 2012

Sem Fim


       Eu sei que você pode me dizer que eu não conheço, e mal sei nome. E você terá razão. Mas o que eu teria a te dizer é um palpite em comum. Um sentimento que todos têm, vamos colocar dessa maneira.
       Eu sei que você já olhou pros pulsos e pensou em se cortar quando soube que aquele cara, que era O Cara, na verdade, gostava da loirinha de olhos verdes e nem sabia da existência. Ou quando você soube que aquela garota que você tanto amava, na verdade, vai deixar a cidade na semana que vem porque está gravida do seu melhor amigo. Eu também sei que você já passou pelo menos uma vez na sua vida, uma noite inteira acordado pensando em alguém apenas porque tinha recebido um sorriso e aquela pessoa era realmente especial. Eu sei que você já sentiu o coração apertar quando você tinha que dar um beijo de despedida, porque ele ou ela iria viajar no dia seguinte e só voltaria no próximo mês.
       Parece bizarro pensar nisso, mas englobo tudo como saudade. Um estado de espirito do ser humano em que ele tem o direito de tentar sofrer – sim, eu acredito que todo esse sofrimento seja opcional e só tenha um nome trocado por “saudade” – por alguém valha muito a pena por muitas razoes. Eu acho que tudo é saudade, tudo é farinha do mesmo saco. Se você tem vontade de se cortar é porque não quer sentir falta daqueles dias com a pessoa que você amava e agora não te quer mais, ou qualquer coisa parecida. E esse sentimento, eu até entendo, por mais maluco que possa ser. Mas é engraçado, e não me chamem de hipócrita ao dizer isso, sou sincero, apenas. É engraçado porque as pessoas fazem o que elas querem fazer, não o que elas têm que fazer.
       Por exemplo, se sua mãe te mandasse lavar a louça, ainda que obrigado você tivesse duas opções para escolher: ir ou não ir. Você ainda as teria não importa a situação (ao menos que… não. Esqueçam). E na vida também é assim, são as escolhas que fazem o seu dia-a-dia. Essa é a parte que não entendo do sofrimento, mas acho lindo. As pessoas chegam num ponto que ficam tão apaixonadas que escolhem sofrer pelas outras, mesmo inconscientemente – mas eu não acredito em sofrimento inconsciente, então ignorem o inconscientemente. Vamos deixar claro: essa é a minha opinião. Talvez você que leia o livro daqui há trinta anos tenha uma ideia diferente da minha. Provavelmente terá.
       Eu fiz toda essa introdução porque esse assunto ficou na minha cabeça o dia todo. Eu fiquei parada no meu quarto olhando paras paredes esperando, literalmente, alguma salvação divina pra me mostrar a resposta. Tudo parecia simples, mas… Eu não sabia por que eu não conseguia dormir sem sentir vontade te ligar e perguntar do seu dia, ouvir cada detalhe como se eu fizesse parte.  E eu também não sabia por que eu queria tanto fazer parte. De primeira, eu logo pensei que amasse a sua voz – eu amava – só que era um bocado a mais que isso. Você era observador, mas eu ainda tinha duvidas se você notava que eu saia de casa com a cor de camiseta que você mais gostava em mim, porque naquele dia… Nós nos veríamos e eu queria chamar a sua atenção. Eu também não sei se notava que eu reparava em você enquanto tentava dormir toda a aula, porque, raras às vezes – muito raríssimas – você conseguia terminar de copiar a matéria inteira da lousa (salvo as exatas, que você nunca copiava nada).
       Por um instante pensando nisso, eu tive medo de te falar muitas coisas. Eu pensei duas vezes em ter aquela conversa séria e te dizer: eu te amo. Eu já havia percebido, sabe. Você gostava de coisas que te impressionam, e eu não queria rosas, eu não queria cartões. Eu queria algo tão especial quanto você. Só para te mostrar que eu adorava quando você demorava tanto pra responder   e me ouvia quando eu te dava bronca. Era pra mim, de alguma forma. Era para mim inclusive o sorriso que deixava a sua boca irresistível. Você me dava bola, e eu ia entrando nessa de gostar de alguém. De gostar de alguém, de querer alguém, de querer fazer alguma coisa mudar a sua vida, qualquer coisa para te proteger tudo. Porque quando eu pensava em te perder, não existia mais mundo pra mim. Não existia família, não existia planos para o futuro, não existia faculdade, não existiam amigos. Não existia o seu irmão para te substituir, como todos me perguntavam se era possível.
       Há alguns que vão me chamar de dramática, ou de louca. Mas eu não ligo. Uns dias atrás eu conversei  com o seu irmão numa festa. Ele me contou que você não saia muito do quarto, porque jogavam a noite toda. E ele me dizia isso rindo tanto que me fazia lembrar o seu rosto com cara de ponto de interrogação para mim porque eu agia estranho, e você simplesmente era ruim demais em interpretação para aquilo. Foi então que eu percebi que até isso eu gostava. Até isso, eu queria para mim e estava disposta a enfrentar o mundo, ou as barreiras do português, para te ter. Mas eu só preciso arrumar um jeito de te dizer tudo o que estava parado aqui na minha garganta. Sabe aquele momento que eu olhei pra você na primeira vez? Eu já sabia, haviam dois de você, mas era você. Era você. Simples assim. Só era você.
       Eu continuei acordada e listando os motivos porque eu sentia tanto a sua falta e o que aquilo podia ser. Mas sinceramente, se não fosse amor, eu realmente nunca saberia se não tentasse. Pensei na maneira mais nossa que eu poderia te pedir: “olha, fica comigo para sempre. Eu adoro os seus olhos, eu adoro a sua voz e amo o jeito como você anda dizendo o que você pensa sobre um assunto. Seu cheiro fica no meu nariz e eu adoro. Eu te quero. E quero que sejamos algo como… mais que isso. Mais que amigos. Então…?”.
       Não passei daí, afinal, uma hora o sono vem e derruba a gente de um jeito. Deixei a lista de exercícios por fazer, até desliguei o computador mais cedo. Amanhã, seria um dia especial. Essa era a única que eu tinha decidido até então.

Bruna Ferrari

Nenhum comentário:

Postar um comentário