sábado, 19 de setembro de 2015

Monogamia

Essa parte aqui do peito doía mais, e eu não sei se era por conta da insuficiência cardíaca, mas tava cada vez mais difícil. O peito doía demais, o corpo todo doía também, mas nada se comparava aquela dor especifica. Aquela que dói mais quando respira, que mexe e dói, como uma fratura exposta de todas as vezes que meu coração tinha partido ao meio. 
Juntei suas coisas numa caixa pra te deixar no portão de casa. De qualquer forma, não conseguiria olhar pra sua cara novamente e não me lembrar de você, por cima, e nossos corpos suados. O calor daquela imensidão de um prazer ilusório. Você não passou em casa pra pegar seus restos, nem saiu de cima de mim... e tudo veio de volta para os espaços da minha comoda. Eu tinha ameaçado tantas vezes ir embora que já nem tinha mais credito. Era uma divida imensa comigo mesma que eu não sei se iria conseguir pagar tão breve, mas fiz lá mais algumas parcelas pra empurrar essa história com a barriga. Infelizmente, a conta chegou em casa com um juros meio alto, e eu tentei pagar o minimo que me exigia. 
Caramba, como era muito. As contas se amontoavam na gaveta, tanto quanto as suas coisas iam se proliferando pelo meu armário. Que mofo do inferno! Eu tinha deixado as janelas abertas pra tomar um pouco de sol e ar, já tinha jogado fora as roupas mais emboloradas - aquelas que não tinham jeito. Mais rápido que as contas atrasadas, nossas bactérias se proliferavam. Nossas roupas tinham o mesmo cheiro, nosso rosto o mesmo encaixe, nossa boca um sabor só. 
Fizemos despedidas rasgadas e rasgamos também as nossas contas. Um amigo me deu um armário novo, uma porção de novas coisas pra se desenhar, e eu me sentia com nada pra fazer. Até que no meio de toda aquela bagunça, eu achei aquela conta atrasada que esquecemos de pagar.
O juros foi alto, foi difícil, mas ela não existe mais.




Bruna Ferrari

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