domingo, 5 de abril de 2015

Vinte e Quatro

     Tinha acordado com dores no pelo corpo. Entre um intervalo e outro, eu abri uma Stella pra reivindicar aquele amor. Coloquei meus indies preferidos pra tocar. Eu estava tão feliz que até teve espaço no meu quarto pra dançar. Eu dancei pra caramba, mesmo cansada. Dancei até dar a hora de ter que sair de novo pra te encontrar. No caminho, eu vim recapitulando a nossa história. Naquela noite, eu não sabia muito bem o que tinha acontecido com você. Talvez você tivesse tomado uma pancada na cabeça e gostado mais de mim. Talvez você só estivesse numa vibe boa, porque voces sabem, canceriano é assim.
Dessa vez, você não tinha dado um cutucão pra acordar, nós não tínhamos ficado alheias por conta do seu cansaço, ou do meu. Dessa vez você fez diferente das outras, e eu até me senti envergonhada de ter odiado a minha vida a três dias atras porque você estava nela. Enquanto a gente se abraçava, foi a segunda vez que eu prestei mais atenção na sua respiração. Lenta. Difícil. Gradualmente ofegante. Agradeci pra caramba por isso. Nao. Nao pra Deus.
Eu não ligava praquilo. Achei um desperdiço de tempo aquelas essas andarem pela cidade numa noite tão gostosa, a vista da sacada estava boa, e a minha cerveja melhor ainda. No nosso quarto, rolava o carpe diem. Aconteciam aqueles olhares, e os meus sorrisos que eu não sei dizer. Eu estava tão bem, e tão imensamente agradecida por você estar comigo. Não tive mais aquele sentimento de que você queria ir embora o tempo inteiro, ou que sua cabeça estava em outro lugar, ou que você estivesse com um problema infinito que eu não pudesse ajudar. Nao tive mais aquela sensação depois de tudo olhar para o seu rosto e ter vontade de me esconder. Eu quis olhar mais.
Foi estranho. Tínhamos pegado metro, e eu não dei a minima pra minha consciência do dia anterior, acho que tinha deixado ela em casa - ou parte dela, pelo menos. Pela primeira vez, eu não me preocupei com os olhares estranhos, eu não achei que fossem pra mim, eu não achei que soubessem. Eu não me senti culpada. Se pudesse, até tomaria duas doses de você. Adorei esse pedaço de liberdade que você me fez provar, é disso que você estava falando o tempo inteiro. Eu estava bem.
Moça, eu só gostaria de te agradecer o tempo inteiro por isso. Por todas as vezes que você me abraçou e eu me senti mais segura do que nunca. Pelas coisas que você me ensinou, e pelo o o que você me fez superar. A gente já passou tanta coisa juntas, construímos uma história que eu não me importo qual vai ser o final. Imensamente agradecida pelas marcas, pela dor no corpo, por ter tirado de mim este fardo tão difícil de carregar, essa culpa tão sem noção. Moça, obrigada por aquele beijo de bom dia, por ter me dito que estava tudo bem quando eu acordei assustada depois de um pesadelo.


Bruna Ferrari

Nenhum comentário:

Postar um comentário