terça-feira, 14 de junho de 2011

Quase Dois

Éramos quase dois, e com ela três. Sempre se sentindo no direito de falar e que, na verdade, não tinha. E mesmo assim, nós deixávamos, porque ela sempre se sentia no direito de concertar as coisas. Se sentia no direito de concertar as coisas. Se sentia no direito de tomar espaço pra nos fazer sorrir. E fazia, porque sempre tinha espaço demais entre a gente. Éramos quase dois, e com ela três. Que a gente ficava sem jeito de perguntar mais fazia só abraçando demorado. Éramos quase dois, éramos três. Éramos os três mais que quadro. Saindo e se preocupando com o um que morava longe. Éramos os três mais que sonhos. Extravasávamos pela boca, sentíamos calafrios. Dois um pelo o outro e eu pelo quarto, pelo quinto e pelo sexto que pareciam ser sempre o primeiro. Mas éramos apenas quase três, com outros tantos restos perdidos. Ele pela penúltima, eu pelo ultimo e ela pelo primeiro. Sem jeito de entender, fazíamos perguntas de monte, sempre esperando a mão do outro. Que vinha e não demorava. Que era quente quando era frio. Mesmo quando eles não podiam se tocar e eu fazia. Como ela, eu também tomava mais espaço que devia. Assim, sentávamos no chão feito crianças que éramos. Quase sempre só sorriamos a toa, não precisávamos de piada alguma. Ele era quase criança quando estávamos todos juntos e nós quase adultas. Sem terminar o ensino médio, eu ainda continuava pensando nas provas testes quando eles já haviam vivido tudo isso. E mesmo assim, eu continuava me perdendo nos olhos dele e nos sorrisos dela. Éramos pra sempre quase dois.


Bruna Ferrari

Nenhum comentário:

Postar um comentário