sábado, 11 de março de 2017

Librianas


"Quando não te doeu acostumar-te a mim,
 à minha alma solitária e selvagem,
 a meu nome que todo afugentam.
 Tantas vezes vimos arder o luzeiro
 nos beijando os olhos e sobre nossas cabeças
 destorcer-se os crepúsculos em girantes abanos.
 Sobre ti minhas palavras choveram carícias.
 Desde faz tempo amei teu corpo de nácar ensolarado.
 Chego a te crer a dona do universo.
 Te trarei das montanhas flores alegres,
 copihues, avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.
 Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejas."
(Pablo Neruda)

Querida,


Eu mal sei por onde começar essa carta. Desde que você entrou na minha vida, o meu estomago não para de doer, os meus olhos não param de sempre parecer transbordar. Eu sou toda sentimentos, e sinto muito por não conseguir botar nas letras o mesmo amor com o qual eu amo estar neste estado.
Eu amo este estado, mas não o estou. Amo esta ideia, mas não a sinto,  amo a sofrência. A maré me leva fácil e eu, que sou um peixinho, nado bem devagar pra aproveitar o impulso das ondas. Sinto que estou chegando na praia, ou que já cumpri a minha missão seguindo tua maré até aqui. Ainda seguro a tua mão como se fosse a melhor coisa que eu pudesse fazer no dia e ainda é.
Se teu cheiro fica na minha roupa, mal consigo aguentar pra te ver de novo. O teu cheiro é tão bom, o teu beijo é tão intenso, o teu abraço tão aconchegante. Você é sempre tão tudo que me sinto meio vazia. Ora, porque parece que você tem as coisas que eu gostaria de ter em mim, dentro de mim, pra mim. E ora, porque parece que o que você quer eu nunca vou ser, justamente porque sou sua. Totalmente sua, mas nenhum um pouco do quanto eu fui há dois anos atras... Naquele tempo, as borboletas ainda existiam no meu estomago. 
A pior coisa que acontece na minha vida é não poder morrer de amor, assim sempre fico com o gosto na boca de que tudo o que eu tenho não é suficiente para o que eu quero. Nada compensa, nada me soma, nada me completa. Quero ter comigo todo o amor do mundo, todo o tesão do mundo, e milhares de pessoas ao mesmo tempo. Mas segurar a sua mão tem algo de magico, deitar no teu ombro tem qualquer leveza que você carrega junto com a bagunça do teu coração. 
Hoje eu me peguei chorando depois que a gente se despediu, e também descobri que eu nem sei se chorava de saudades, de tristeza, de solidão, ou simplesmente de amor. É assim que meu corpo transborda. Você me deu aquilo que eu sempre quis. Eu estou morrendo de amor aos poucos e te ver amar outra outra pessoa faz essa vela acesa dentro do meu peito queimar mais rápido.

Querida, sinto muito que, apesar de todas essas explosões de sentimentos que eu sinto por você, eu ainda não consiga ser por completo aquilo que sou. Deixei um pedaço de mim em cada lugar, e aqui está o seu pedaço de mim. Guarde com carinho, pois tenho a impressão que, dentro de algumas semanas meu corpo endurecerá e você pode não conseguir me amolecer de novo. 

Quando esse dia chegar, espero poder te deixar segura, soltar a sua mão onde você possa, com absoluta certeza, segurar outra tão firme a ponto de nem mais se importar em segurar a minha. Espero que você possa sentir muitos outros dedos. Muitas outras pessoas, muitos outros sentimentos, porque eu, mais do que ninguém, te quero bem demais. Demais.

Eu te amo, mas não a sinto.

E isso me mata todos os dias.

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